“VIAGEM AO FUNDO DO MAR”
 

 
     Um príncipe muito formoso, cujo nome era Fernando, morava no seu suntuoso castelo, no qual havia uma grande escadaria de mármore que se estendia bem próximo ao tapete de areia branca da praia. Logo à frente o mar espumante, exibindo mil ondas.
     O príncipe embora já fosse um jovem, costumava passar as tardes entretido em fazer castelinhos de areia enfeitados com conchinhas do mar. Certa tarde muito linda em que se espelhava no céu um azul tão celeste, ornamentado por pequenos flocos de alvas nuvens, o príncipe pôs-se a descer os degraus da escadaria a fim de construir seus castelos. Era bastante infantil o seu hábito, contudo era o seu passatempo predileto.         
     Assim que chegou à praia parou um pouco para contemplar a maravilhosa paisagem que se abria diante dos seus olhos.
O majestoso firmamento que parecia encontrar-se com o mar na linha do horizonte. O sol, rei da luz, parecia mergulhar nas ondas, afundando-se mais e mais.  O príncipe contemplava aquela magnitude de infinita beleza e refletia consigo mesmo, como seria o mundo nas profundezas do mar.
     Por fim quando o sol terminou de esconder-se, ele principiou a construir seu castelo. Entretanto, seu pensamento estava voltado para o mundo aquático. O manto negro da noite descia cada vez mais, que até o seu primeiro adorno noturno já se fazia notar. Era a estrela vésper que já reluzia festiva.
     O príncipe, porém não percebia que a noite caia. Mãos ocupadas na construção do castelo e com o pensamento nas profundezas das águas.   
     Quando a rica jóia da noite ergueu-se prateada nos píncaros dos montes, banhando a terra, o príncipe ouviu um ruído estranho vindo do mar. Voltou-se e avistou ao longe algo que vinha deslizando sobre as águas em sua direção. Não tirava os olhos daquilo que se aproximava cada vez mais. Quando pode ver o que era ficou paralisado de pasmo.
     Era uma linda, mas estranha carruagem. A carruagem era feita de escamas de peixe toda colorida e brilhava com o clarão da lua. Não possuía rodas, era conduzida por oito cisnes tão brancos como as montanhas cobertas de neve, as rédeas eram também de escamas. Não havia nenhum cocheiro, porém, do seu interior o príncipe ouviu uma voz que dizia:
     - Entre aqui que serás conhecedor do mundo que existe no mais profundo do mar.
     O príncipe estranhou, no entanto sorriu e sem hesitar embarcou na carruagem.
     Os cisnes abriram as asas como brancos leques e seguiram viagem.
     Logo o príncipe percebeu que havia desaparecido o luar, a praia e que a carruagem agora penetrava no interior das águas. Ali dentro havia muita claridade verde, que se assemelhava às esmeraldas. Havia também milhões de peixes nadando daqui para ali.
     Que viagem fascinante! Pensava ele apertando ainda entre as mãos algumas conchinhas. De vez em quando passavam ao redor peixes enormes e ele sentia calafrios de medo. Além da infinidade de peixes, o príncipe via outras espécies de animais aquáticos que jamais poderia imaginar que existiam. A viagem fascinava-o e a carruagem do mar seguia, além da fauna aquática que muito lhe encantava, a flora ali dentro também era maravilhosa. Que vegetais exóticos! Quanta riqueza se escondia no mar. Que maravilha desconhecida! Que mundo fantástico nas profundezas das águas. O príncipe se achava feliz e privilegiado na sua estranha viagem.
     Por fim a carruagem cessou de navegar e a mesma voz que o convidara a entrar ecoou dizendo:
     - Agora tu és conhecedor do mundo aquático e dele farás parte.
      O príncipe olhou sem compreender aquelas palavras. E a voz continuou:-
     - Eu a carruagem do mar te conduzi no mais profundo das águas e daqui não sairás jamais. O príncipe estremeceu e quando viu estava cercado por medonhos peixes e outras espécies de animais de bocas abertas para devorá-lo.
     Tomado de pavor pôs-se a gritar por socorro com todas as suas forças. Ouviu então a voz amiga e fiel do seu servo predileto a chamá-lo.
      Abriu os olhos e estava diante dele o seu servo sorrindo-lhe. Olhou ao seu redor e não havia mais os peixes ferozes, nem carruagem, nem água. O que viu foi o mar em bonança, o luar, a areia branca, ao seu lado o castelinho ainda por terminar e segurava nas mãos algumas conchinhas.
      Voltou-se sorrindo para o servo e disse-lhe:
     - Agora compreendo estou aqui são e salvo, fora tudo um sonho.
      E enquanto subiam a enorme escadaria de volta ao castelo, contou ao servo o sonho que tivera com a carruagem do mar.


 
(imagem do google)