A fadinha do dente
A Fadinha do dente
Em noites de sonhos, o vento de uma terra distante, com cheiro de mar, amarrado na vassoura da fadinha Teté, entra pelas janelas das casas das crianças e mil coisas acontecem...
Uma coruja pia (quebrando o silêncio na torre do castelo)... Huu... Huu-huu-huu.
E de longe, bem longe se vê surgindo de trás de uma nuvem matizada de fios dourados da lua, toda vestida de branco, a fadinha Teté. Gira no ar, dá voltas e reviravoltas, uma das mãos no chapéu e a outra no cabo da vassoura, graciosamente a favor do vento.
Como para se banhar nos raios lunares, empina o cabo da vassoura, e larga após no céu... Deixando rastros de palhas lilases da vassoura no voo ligeiro e depois...
Desce...
Na direção do castelo...
E cuidadosamente...
Abre a janela.
(Tem tempo de tomar fôlego!)
Uma menina de cachos castanhos dorme sonhadora numa cama com dossel em forma de tenda. As mãos, pequenas e mornas, pousam uma na colcha de puro algodão e a outra, debaixo do travesseiro.
Ai, ai, como pegar-lhe o dente?
Os carinhosos olhos da fadinha passam pelo rosto sereno, depois pelo mimoso bordado do travesseiro até a mãozinha que Teté supõe estar o dente de leite. E canta uma cantiguinha bem assim:
Dorme, dorme pequenina
Nesta noite de luar.
Quando eu era uma menina
Também gostava de sonhar.
Lá no céu tem balão
Toda criança troca dente.
Abre, abre tua mão
Que te deixo um presente.
E acalenta com voz doce e afetuosa. A pequena julga ser tudo um sonho engraçado: abelhas arrumando o travesseiro, coelhos comprando dentes, uma vassoura que canta e canta... E a canção embalando-a...
E a menina abre a mão, ganhando dez centavos...
A lua muda de cor... O círculo branco viaja no espaçoso do céu, mergulha nas nuvens escuras e fica lá...
Dizem as estrelas que seres estranhos andam nos sonhos das crianças vindos de eras longínquas...
O mais curioso, segundo as estórias, é que os dentes de leite viram pedrinhas do mar...