O Triste-Alegre Bobo da Corte
Enchi os olhos, naquela noite fria, com amargas lagrimas de tristeza. Não resisti. Apenas uma correu pelo meu rosto e coloquei a mão com rapidez para que tu não notasse. Não notou. Superlotava de amargura o meu coraçãozinho e eu o sentia pesado como se tivesse o enchido com lama, pregos e asfalto.
Havia uma necessidade de compreensão no meu olhar, que há algum tempo ninguém entendia. E uma falta nos meus braços, porque braço nenhum o segurava. Ecoava no ouvido algumas frases que você me disse, outras tantas que deixou de dizer e que, numa imaginação infantil como a minha, ganhavam cores radiantes. Cores essas que não estavam no meu céu, e que faltava no meu lençol quando eu dormia e acordava sempre sentido falta de algum pedaço meu. Sim, eu sabia que um pouco de mim morria toda vez que o relógio insistia em girar. E me apertava aquela escuridão quando apagava as luzes, monstros monstruosos vinham me pegar e eu tinha medo por não ter onde correr, por não ter a quem gritar. Absorvia aquela escuridão mesmo sem querer, e adormecia para sonhar com a realidade.
E quando dissestes que meu sorriso era bonito, era porque se misturava com meu desespero e por já não saber mentir, me calava fingindo timidez. Aquela mão que se misturou à tua, agora esfria em cima de uma lousa fria, com brancura de quem já desfaleceu. Meu olhar tu não entendes, confunde com o de cachorro pidão. E quando na verdade quero um colo quente para me tranqüilizar, você sorri achando graça da minha solidão. E como se tivesse lugar para me consolar, fico calado e me contento com silencio. A necessidade que o meu corpo sente, é bem mais quente que o sol. É um pedaço teu que existe, espalhado no lençol. É um fio guardado no roupeiro, de esperança que ainda existe. Mas naquele mais frio e calmo silencio onde me conservo, há uma gota de desespero, uma chama fria que insiste em me queimar e que não tem como sozinho apagar.
Então eu fiquei assim, noite passada, com a lagrima trancada, o olhar perdido na noite fria e um pouco cansado de tanto caminhar. Aquele olhar que tu achava graça, e na verdade ria da minha desgraça.
Fico igual criança, sentindo dó de mim mesmo, agarrado ao travesseiro.