Glorinha Esperança (Parte III)
A tarde chuvosa já se despede e a cigarra com seu canto estridente já anuncia a chegada da noite. Glorinha, num gesto costumeiro, cerra os olhos, tampa os ouvidos com as mãos, sorri, e exclama:
- Já sei, já sei, não precisa gritar você também, que é hora de entrar, já basta a mamãe!...
E, saltando bruscamente da goiabeira, num minúsculo toco de galho cortado, quase rasga o vestido no mesmo local que dias antes a D. Gertrudes havia costurado, junto com muitas recomendações, dada à delicadeza do tecido. Para Glorinha, aquela roupa era muito especial, visto ter sido comprada por ninguém menos que seu pai, numa feirinha do vilarejo, dias antes de partir. E sua pouca experiência com roupas infantis, o fez comprar dois tamanhos a mais, talvez quem sabe, prevendo que iria servir por muito tempo no corpo franzino da menina. Porém, conhecendo bem a filha, ele sabia que a ela pouco importaria se tivesse que usá-lo, quase que como um uniforme, até que lhe coubesse de fato. Glorinha se encantou desde o primeiro dia com aquela estampa de florzinhas amarelas e minúsculas borboletas azuis no tecido branco da saia franzida. Pareciam flutuar num jardim por ela ainda desconhecido.
De repente, um pingo de chuva lhe cai no nariz e antes do chamado costumeiro da sua mãe, ela olha para o céu nublado e murmura baixinho junto à sua amiga árvore...
- Amanhã o Sol virá , a tarde será mais longa e teremos mais tempo para esperá-lo!