O Dia da Bola

O Dia da Bola

A bola não queria entrar, apesar do nosso time de futsal ser considerado o mais preparado física, técnica e emocionalmente. A quadra da escola Anésia estava lotada, recorde de público nos Jogos Intercolegiais. Vencemos o jogo mais difícil contra a Fundação Bradesco, agora, diante de nós - a Escola Nova, considerada mais frágil. A torcida apostava numa goleada, 10 a 0, 20 a 0 ou 25 a 0. Outros afirmavam que seria um chocolate. Uma senhora goleada. A aposta não seria quem ganharia, pois já estava decidido, mas sim, qual seria o abastado placar. A festa já estava pronta. Na preleção o otimismo era geral:

-Vamos pra cima! Ganhar e ganhar bem! Somos capazes! Sim, nós podemos! Acreditem em vocês, somos os melhores! – afirma o técnico.

-Vamos jogar sério, nada de sapato alto, suar a camisa, manter a calma, respeitar o adversário e fazer gols, muitos gols – disse eu, que era o capitão do time infantil do Castelo Branco.

-Uma vitória e estamos na grande decisão! – disse o Durval.

A partida inicia, a nossa pressão é total. Queremos vencer. Honrar a escola. Alegrar a torcida, que espera muito de nós. O zagueiro mete a mão na bola. É Pênalti. Parecia o início do passeio. Na cobrança Gilson acerta a trave. Agora a bola vai entrar. Mala dribla com arte quatro jogadores e na saída do goleiro, toca para Durval que só ele e a trave já celebra o gol, a torcida fica de pé e comemora, mas antes do chute, escorrega e cai. A bola sai lentamente para a linha de fundo. “Mas que azar, não acredito!” - grita vermelho de raiva e vergonha. Tem o dia do jogador e o dia da bola, parece que hoje é o dia da bola, além de ser sexta-feira 13.

A pressão continua, após tabela entre eu e o Dão, consigo driblar o zagueiro e ficar de cara com o goleiro e aplicar uma bomba que bate na trave, a gorduchinha corre sobre a linha do gol, toca noutra trave e volta nas mãos do sortudo goleiro. Goleiro bom tem que ter sorte, diz o ditado do futsal. Porém este era frangueiro, na partida anterior levou 10 frangos e justo agora fica “fera”. Nada de sair o gol, o grande momento do futsal. “Que fizeram nesta trave? benzeram foi? Só pode ser algum trabalho de macumba, reza forte!” – disse nervoso o nosso técnico.

Em outro lance surpreendente, o ala direita bate o escanteio e o zagueiro vem de trás de surpresa, chutando forte. A bola iria entrar, mas bate na perna direita do nosso atacante em cima da linha, que sem querer dá uma de zagueiro, jogando a bola para linha de fundo e salvando o time adversário. O grito de gol está entalado. Muito quase! Entretanto nenhum goool!.

Agora, finalmente o gol vai sair. O goleiro faz falta dentro da área, é novamente Pênalti. Durval pede a bola. Toma distância. Prepara o chute. Há silêncio. Expectativa. Agora vai. A pancada é forte. Indefensável. O goleiro fica parado, a bola bate na canela dele, toca na trave e volta em meus pés, domino com carinho, ergo a cabeça confiante e meto a bomba com raiva, a redondinha vai para a rede, ouve-se gritos de gol, mas ela bate na rede pelo lado de fora. Decepção total. O abatimento é visível.

O pior ainda estava por vir. No futebol tem um ditado que diz “quem não faz leva” e isto ficou claro no jogo Brasil e Itália na copa do mundo de 1982, na Espanha e na copa de 1986 no México, entre Brasil e França, quando o Brasil jogou muita bola, deu show, mas errou muitos gols e os times adversários, nas poucas chances que tiveram, faturaram. Assim, nosso time levou também. Perdemos. Num contra-ataque rápido o atacante dribla o zagueiro e toca para o companheiro. Um chute cruzado, colocado. 1 a 0. A zebra se soltou e ninguém podia segurá-la. Inacreditável futsal clube.

Tentamos. Suamos. Batalhamos. Infelizmente não logramos êxito. O goleiro deles parecia um Taffarel ou São Marcos. A trave parecia um muro. A bola parecia um sabão. Nossos pés estavam tortos e pesados. A quadra parecia um terreno minado. Missão impossível.

Realmente este é o dia da bola.

Albino Lopes

Albino Lopes
Enviado por Albino Lopes em 11/05/2010
Código do texto: T2250802
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