O PRIMEIRO ACAMPAMENTO

A noite estava nublada, a falta da luz do luar tornava o ambiente sombrio, o vento que soprava gelado devido a chegada de mais uma frente fria, fazia com que aquele acampamento se parecesse mais com um medonho e assombroso cemitério.

A noite acabara de chegar, o entardecer fora repleto de cantos e vôos rasantes de pássaros, que buscavam um abrigo para seu repouso noturno. A garoa que caia umidecera toda a grama, juntamente com os galhos e gravetos que poderiam ser utilizados para acender uma pequena fogueira.

Uma única barraca havia sido montada para abrigar os quatro amigos, que se aventuravam em seu primeiro acampamento. Pela falta de experiência haviam deixado suas roupas do lado de fora e todas estavam molhadas. Iria ser uma longa noite, fria e úmida para aqueles quatro pequeninos.

Antes de mais nada, devo-lhes apresentar os quatro amigos e de qual forma eles foram levados até essa aventura, ainda acrescentando que a idade deles variava entre os 7 e os 11 anos. Fê, Fran, Chico e Nando, eram quatro garotinhos que moravam na mesma rua. Em uma determinada manhã de verão, em plena férias escolares, os quatro brincavam de futebol na frente da casa de Chico.

O carteiro, que diariamente passava pela rua e já os conhecia bem, pois em diversas ocasiões eles o acompanhavam na entrega de correspôndencias das casas vizinhas às suas, entregou-lhes um cartão. Esse cartão era um folder destinado ao pai de Chico, ele apresentava um camping e dizia todas as aventuras que um acampamento poderia trazer a uma família.

Os quatro atônitos, pararam com o futebol, começaram a confabular o quanto seria gostoso se eles tivessem a chance de curtir uma aventura dessas sozinhos. Então Chico, lembrou-se que seu pai possuía uma barraca, já que por diversas vezes o passeio da família nos finais de semana era acampamento. Foi um alarde geral, todos ficaram empolgados com a oportunidade de estarem juntos nessa aventura e, antes mesmo do final da tarde, todos estavam prontos para passar a primeira noite acampando sozinhos. Não me perguntem como, mas posso garantir que eles tinham a permissão de seus pais.

O mal tempo os surpreendera, eles jamais imaginavam que logo naquela noite iria ter chuva e frio. Mesmo assim os quatro se abrigaram no interior da barraca e passaram a comer as guloseimas que suas mães prepararam com muito carinho. Havia sanduíche de presunto e queijo, cachorro quente, bolacha, salgadinho, pipoca doce e também refrigerantes em lata.

Após se empanturrarem, os quatro não ousavam colocar o nariz pra fora da barraca. Uns diziam que era por causa da chuva, outros por causa do frio, mas na verdade eles estavam trêmulos. O medo tomara conta de seus corpos frágeis, o barulho de passos no lado exterior da barraca era o motivo de tanta exitação.

Tum!!! Tum!!! Tum!!! estavam batendo na lateral da barraca e forçando a entrada pela fenda, que estava fechada com o zíper. Nesse momento todos se encolheram o máximo possível e aguardavam que esse inesperado visitante resolvesse ir embora. Foi então que Nando, o mais velho da turma resolveu que iria espiar por uma frestinha do zíper, quem tanto forçava a entrada da barraca.

Bastou abrir alguns centímetros e pronto. O descuido de Nando era irremediável. Focinho na pequena brecha, e rapidamente o intruso estava dentro da barraca, lambendo e molhando tudo. Tobi, o cachorro de Chico, havia sentido o cheiro das guloseimas e por esse motivo forçava a entrava da barraca.

- Sai daqui!!! Passa!!! Já pra casa!!! grita Chico, que apesar do susto havia reconhecido seu cachorro.

Ao se posicionar na entrada da barraca com a intenção de fechar o zíper, Chico olha um arvoredo seco que jazia perto do local do acampamento, avistando uma imensa coruja que olhava atenta em meio a escuridão. Sua cor branca e seus olhos amarelados se destacavam entre as sombras e vultos daquela noite.

- Olhem! venham ver! Exclama Chico chamando seus amigos.

Alguns segundos depois, lá estavam lá as quatro cabecinhas para fora da barraca através da fenda do zíper, admirando a beleza desse visitante inusitado. Poucos elogios depois e lá se foi ela, em um vôo rasante, virando vulto e sumindo em meio a escuridão. Nesse momento um clarão entre as nuvens chamou a atenção dos garotos que continuavam com a cabeça pra fora da barraca.

Pois é, a visitante mais esperada daquela noite resolvera aparecer, sua visita foi rápida. A satisfação dos quatro amigos ao admirá-la foi algo mágico. Em meio a tantas nuvens e sob forte garoa era impossível imaginar que ela seria capaz de romper e mostrar-se tão formosa e maravilhosa, com toda sua clareza, crateras e crenças. Mas lá estava ela.

- Será que é de queijo?? pergunta Fê, no auge da inocência de seus 7 anos.

- Então esse sanduíche de queijo, é um sanduíche da Lua!! exclama Fran, também com 7 anos de idade.

- O queijo vem do leite. Então imaginem quanto leite foi usado pra fazer a Lua!! continua o raciocínio Chico (10 anos).

- Se o queijo vem do leite, e o leite vem da vaca, imaginem só o tamanho da vaca, que deu tanto leite, pra fazer um queijão desse tamanho!! completa Nando (11 anos).

Vupt!!!! Lá estavam os quatro amigos, com os olhos esbugalhados, amedrontados novamente dentro da barraca com a possibilidade de terem que enfrentar uma vaca gigante que pudesse ter dado leite pra fazer um queijo do tamanho da Lua. O interior da barraca estava encharcado devido a Tobi, que entrara totalmente molhado. Todos tentaram se acomodar o mais próximo um do outro para que o calor de um, aquecesse o outro. Assim pegaram no sono.

Na manhã seguinte tudo havia passado, a garoa, o vento e o frio deram lugar ao Sol, aos pássaros e também a mãe de Chico que saia do interior da casa com o café da manhã para os garotinhos, que nada mais fizeram que acampar no quintal da casa de Chico. No entanto, para os quatros amiguinhos, essa havia sido a maior e mais divertida aventura que já passaram juntos.