Coisas de Criança, Criança Esperta...

Coisas de Criança, Criança Esperta...

Ela era engraçada, sim. Tinha um quê de gente grande, às vezes arrebitava o narizinho. Mas, com certeza, sua graça estava no falar. Ela falava, com desenvoltura apesar da pouca idade. Falava até em inglês! Ai, quem me dera eu aos cinco anos...

Mas aquele era um dia especial. Era a primeira vez que ia ao cinema...

Arrumou-se, enfeitou-se, perfumou-se. Tal qual mocinha crescida. Pôs uma presilha no cabelo, escolheu a bolsinha cor de rosa, pôs seu melhor sapatinho. Vestido. Usava um lindo vestido florido... Uma graça.

Da porta, lembrou aos pais:

-Vamos, não podemos nos atrasar!

Claro que não podiam. Era sua estréia, noite de gala, momento único!

Então, de mãos dadas com a mãe, seguiu ela pela rua afora, empolgada, às vezes até saltitava de felicidade. Ia ao cinema! Que mais poderia querer? No outro dia, certamente, teria muitas histórias pra contar aos coleguinhas da escola.

Chegou lá. Talvez não fosse o grande teatro que esperava. Talvez fosse até melhor, por dentro. Então, entrou. Subiu as escadas que davam acesso ao andar em que ficava a sala projetada, mas havia algo de estranho: era mais frio e escuro do que podia imaginar. Torceu o nariz. Fez uma careta tão engraçada... Não podia ser daquele jeito. Esperava mais!

Ainda assim, assistiu o filme. Pensava até porque a tela era tão grande! E por que tanto frio? Cadê a luz? Porque tem que ficar todo mundo sentado? Se fosse em casa, podia andar, levantar, comer pipoca, ir ao banheiro, olhar pela janela, sentar-se de novo diante da tevê. Seria tudo tão mais caloroso...

Daí veio a pergunta. Papai e mamãe, ansiosos, queriam saber o que a pequena achara da experiência nova. Ela olhou um e outro, pensou. Queria ser gentil, mas não podia mentir. Então, soltou uma pérola:

-É, foi legal, sim. Mas podia ter janelas, ou então um cobertor. Podia ter luz, porque é muito escuro. Seria mais legal ver a cara das pessoas rindo. Prefiro a pipoca na bacia. Em casa, ninguém fica passando na minha frente. Nem fica falando no meu ouvido. Tem gente que me atrapalhou muito! Por que a parede não pode ser colorida?

E pensou um pouco antes de arrematar:

-Da próxima vez, vamos ao parque?

Quantas perguntas... Quer saber? Ela tem razão. Da próxima vez, vamos ao parque?