A cobrinha Lili

Certo dia, a cobrinha Lili saiu de detrás de uma moita, afastou uns galhos secos no caminho com o focinho e com uma expressão de encanto tal menino solto do apartamento, debruou-se a rastejar com a fina intenção de passear na manhã.

Ouviu o zunir de abelhas numa flor de mandacaru e olhou curiosa erguendo a cabeça... Elevou-a mais uma tantinho, os olhinhos no reflexo do sol o qual lançava um raio amarelo bem novinho; sem se notar, o rabinho maroto ia-lhe e vinha no ritmo do som. Uma das operárias pendurou um olhar zangado achando-a bisbilhoteira e Lili, espantada, viu um ferrão armado em sua direção. Tremeu assustada, tinha pavor à violência; tratou de seguir sua excursão.

Era doce a areia por onde passava e formigas num lençol marrom de filas adornavam o capim ao lado da vereda alva em que ela seguia. E foi quando calculava (para seu espanto não lhe cabiam nos dedos) as formigas trabalhadeiras, que viu de cócoras um bicho feio. Era todo verde e emitia um som estranho... E ele saltou!...

Lili encolheu o rabo com medo de que julgasse se tratar de um brinquedo. O bicho lhe pareceu uma coisa. Uma coisinha feia e pequena. “Que coisinha molhada!”, pensou. “Deve tomar banho e não se enxugar ao sol!” E continuou a falar com seus botões: “ É um bichinho que se encostar na gente faz frio...”

O pobre sapinho, patinhas cansadas de pular, agachou-se em cima de uma pedra... Botou a língua para fora, olhinhos estufados pelo cansaço de tanto fugir de uma cobra velha e zangada: “Afff!... que hoje eu não devia ter saído do brejo!”, e ficou ali na pedra acocorado oferecendo o corpinho verde e magro para Lili.

Ah, mas Lili não conhecia sapos!... Na escola, não lhe disseram da teia alimentar!... Ela era só um filhote passeando numa manhã de domingo!... Não um predador!

Deste modo, ela olhou o sapinho, serenamente e com curiosidade, sob os olhos confusos das formigas e com piedade daquela coisinha sofrida arrastou-se para mais perto ensaiando uma apresentação formal...

O que se sabe do resto da cena foi uma folha que contou:

_Eu estava tranquila em meu galho quando vi um bicho molhado pular em cima de mim. O peso foi demais para uma bainha tenra, caímos no chão. Eu fiquei entregue à areia e o bicho deu mais outro pulo e esvaeceu numa moita de capim...

Lá ficou Lili, calada e sozinha, com cara de sobressalto, rabinho triste sem balançar. E como nem tudo tem resposta, ou não se pergunta por medo do que vem; Lili retornou pelo mesmo caminho; e as formigas?... Bem, estas foram trabalhar...

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 14/03/2010
Reeditado em 14/03/2010
Código do texto: T2138658
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