O cacto e a borboleta

Vestida de ouro

Uma borboleta pousa

Numa branca flor

Foi nos dias do verão, na época do equinócio. Uma borboleta vestida de ouro brilhante saiu do mundo de meu terraço em que antigas acácias enfeitavam-me a manhã e resolveu descobrir outras paragens.

Com grande euforia, olhos risonhos, despontou ainda cedinho. Sentiu a brisa e o sol pueril por dentro das asas. Esvoaçou, fez círculos, semicírculos; sempre cantarolando a rir-se que a manhã era dela, de tal modo que seus volteios iam e vinham.

Considerando-se longe exprimiu em emoção:

_Cheguei ao interior do sertão!

E desabrochou-se toda em asas abertas!... Olhou ao redor... Puxa! Não estou com sorte!... Verdoso, ao pé de uma cerca, só um pé de mandacaru. O caule cheio de espinhos poderiam ferir-lhe o corpo!... Os olhos cheios de viagem, seduzidos pelos primeiros raios do sol, misturaram-se na planta desconhecida; assim confusos, assim investigadores – não havia folhas nos longos braços verdes estendidos – Lembrou-se do tom das flores de acácia, igual ao dela; pensou nas travessuras feitas nos delicados raminhos verdes entre as flores.

Imponente, acompanhando os leps, leps do zurzir das asas da borboleta, o cacto ergueu, num sorriso alvo, seus pontiagudos espinhos. Os braços voltados ao céu, orando desde tempos antigos, animaram-se com a visita matinal. Por dentro, a água a correr-lhe nos veios do corpo gargalhava festiva querendo oferecer à visitante um suco natural... Dando boas vindas, agitou o líquido da vida em comunhão com a seiva e sem que a borboleta visse irrigou a branca flor presa num galho verde claro quase rente ao chão.

Então o cacto percebeu um suspirar feliz!

A borboleta num vira não vira fez bamboleios no ar. Até o vento que passava ao redor redemoinhou-se em suas asas. Correu por sobre os espinhos do cacto que lhe afirmaram proteção da linda flor. No alto céu, os gingados dos pássaros silvestres, em expressões de encanto, ficaram a meter-se de cima a baixo pela vastidão do espaço no ritmo da borboleta.

Ela, bailando no ar, olhava: “Ora essa, que bela flor!”...

E fiquei de minha cadeira preguiçosa a ouvir o explodir do voo, a sentir o efêmero namoro da borboleta e a flor até que esta fechou as pétalas quando o sol se despregou vivo do céu azul.

Deu-me uma dor no coração quando a borboleta voltou do canto de meu quintal; pairou ao lado de minha acácia: “É... mas você é tão amarelinha...”

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 06/03/2010
Reeditado em 08/05/2010
Código do texto: T2123881
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