A LESMA VIAJANTE

Uma lesma quis um dia conhecer o mundo. Já estava cansada de viver somente naquele jardim frio e úmido, onde o sol não dava o ar de sua graça.

Seus parentes ficaram muito tristes, mas não puderam fazer a lesminha, chamada Branquinha, desistir da idéia. E, assim, nossa amiguinha saiu pelo mundo.

Atravessou um canteiro de dálias amarelas e chegou ao pedaço de jardim onde o sol derramava sua luz e calor. Assustou-se um pouco com a claridade, pois não estava acostumada com tanto brilho. Fechou os olhos um pouquinho, deixando só um cantinho de olho para enxergar o caminho. E continuou andando, de vez em quando dava uma paradinha, abria o olhinho para espiar as redondezas.

Branquinha sentia muita falta de ter amiguinhos para brincar. Não tinha irmãozinhos. De modo que ficava encantada ao encontrar grupinhos de formigas formigando, ou aparando folhas ou ziguezagueando à toa. Porém as formigas não davam a mínima atenção para ela.

Uma minhoca gordona atravessou muito apressada na sua frente, parecia que estava fugindo de alguma coisa muito assustadora. Era um passarinho que tentava bicar a minhoca para comer ou levar para os seus filhotinhos.

Branquinha, muito mais branca de susto, teve tempo de se esconder num buraco à sua frente. O passarinho passou zunindo sobre sua cabeça e voou para longe.

Branquinha meteu a cabeça para fora do buraco e, cheia de coragem, saiu para continuar a viagem. Reparou num enorme muro de pedras e o achou lindo. Resolveu subir pelo muro para apreciar o panorama das alturas. Subiu muito devagar, lesmamente, com bastante cuidado para não se encontrar com o passarinho novamente. Chegou ao topo do muro e olhou para baixo e sentiu um frio na barriga por causa da altura e decidiu descer pelo outro lado. A descida foi mais rápida porque para baixo todo santo ajuda, ela pensou. Chegou ao chão e ficou sem saber que direção deveria tomar. Viu umas borboletas borboleteando e lhes pediu uma opinião. Mas como Branquinha não sabia com certeza para onde queria ir, uma borboleta disse que não saberia informar e que qualquer caminho que seguisse daria em qualquer lugar.

Ela decidiu is para qualquer lugar e assim foi, arrastando-se bem devagarzinho, pelo cantinho do muro e escondendo-se do sol que já estava bem forte. De repente, surgiu um menino que reparou naquela lesminha solitária. O menino a meteu na caixinha de fósforos vazia do bolso. Ela se encolheu todinha com muito medo. O menino saiu correndo carregando a caixinha que sacolejava tanto que ela ficou enjoada.

Pela primeira vez a lesminha sentiu saudade de casa, estava assustada e apreensiva com o que poderia acontecer com ela nas mãos daquele menino. Ela sabia que eles são muito peraltas, que fazem mil travessuras. O que poderia acontecer?

O menino chegou a casa esbaforido, entrou no seu quarto e foi até a janela onde havia uma caixa de vidro forrada com areia, pedrinhas e toquinhos de madeira. Abriu a caixinha de fósforos com bastante cuidado e despejou Branquinha na caixa de vidro Com muito medo, ela foi abrindo os olhinhos bem devagar e espiando aquela novidade e, com o rabo do olho, espiava o que o menino poderia aprontar.

O menino olhava para Branquinha esperando ela se mexer. Deu-lhe uma cutucada de leve e ela se arrastou um bocadinho.

Assim que se viu sozinha, sem ninguém por perto, Branquinha resolveu dar uma volta pela caixa e qual não foi sua surpresa ao deparar com um lesminho muito tranquilo encostado numa pedrinha.

- Ué! O que você está fazendo por aqui? Branquinha perguntou.

- Eu moro aqui. Meu nome é Clarinho, qual o seu?

- O meu nome é Branquinha. Ela respondeu.

E ficaram os dois de conversa pra lá e pra cá e ficaram amigos.

Branquinha soube, então, que o menino colecionava lesmas.

Clarinho disse que o menino era muito legal, mas a mãe dele não gostava muito e vivia reclamando. Falou, também, que gostava muito de morar ali por obter comida sem precisar ficar procurando.

Branquinha perguntou se ele não sentia falta de amigos. Ele respondeu que agora ela seria sua amiga. Ela respondeu que não queria ficar morando ali por toda a vida, queria viajar, conhecer o mundo e depois voltar para casa dos pais.

Clarinho contou que já conhecia o mundo inteiro e não achava muita graça nele e, além disso, as pessoas não gostam de lesmas e era um perigo ficar zanzando por aí. Ele disse que poderia contar a ela tudo o que já vira pelo mundo e ela poderia ficar vivendo na caixa com ele. Branquinha disse que não ficaria por muito tempo, nem que precisasse fugir dali.

O menino retornou e encontrou as duas lesmas conversando. Ficou um tempão olhando para elas, colocou a comida e depois fechou a janela. Branquinha estava faminta e comeu tudo e foi dormir uma soneca. Ao acordar, lembrou-se de onde estava e sentiu uma tristeza enorme, pois não pretendia viver ali para sempre e passou a imaginar um jeito de voltar para casa.

Um dia, o menino disse estar de férias e levaria as lesminhas para viajar com ele, escondidas da mãe que não concordava com a idéia de ter lesmas passeando pela casa da praia. Clarinho ficou muito assanhado porque adorava praias, mas só para olhar porque a água salgada não faz bem à saúde das lesmas. Para Branquinha seria a chance de fugir.

No dia da viagem, aproveitando um descuido do menino, Branquinha escapou da caixa e pulou ao chão escondendo-se numa fresta.

O menino procurou nas frestas e buracos e não encontrou a lesminha, desistiu da busca e entrou no carro onde sua mãe esperava reclamando muito de sua demora.

O lesminho deixou rolar uma lagrimazinha de lesma.

Quando se viu livre, Branquinha respirou aliviada e tratou de achar o caminho de volta para casa. Afinal onde estava? Como não tinha a menor noção resolveu seguir o caminho da sombra. Encontrou uma fila de formigas e foi atrás delas. Talvez as formigas fossem também para suas bandas. Até que deu certo.

Logo, logo, Branquinha encontrou o muro alto, e se enfiou no furo na parede e lá se foi com cuidado. Ao chegar ao outro lado reconheceu as dálias amarelas, e atravessando o canteiro chegou à toca de sua família.

Lá fizeram o maior rebuliço ao verem Branquinha aparecer na porta. A mãe abraçou a filha aventureira.

Para surpresa de Branquinha, havia muitas lesminhas, sua mãe explicou que os primos resolveram se mudar porque o jardineiro da casa vizinha ameaçava exterminar lesmas com veneno.

Branquinha ficou feliz da vida porque agora teria companheiros para brincar.