Uma rosa vermelha

A menina sobe a rua com um caderno na mão e uma caixinha de papel com alguns lápis.

Alguns meninos passam em sentido contrário, em suas bicicletas cuspindo vento, cortando a calma da alameda com uma graça arisca de alegria.

Gente grande e gente miúda perguntam a ela, sem cerimônia, com olhares pesados como se o dia já acabasse antes mesmo de começar:

_Aonde vai, menina? A pracinha é descendo a rua... ?

E a menina sobe.

Em secreta magia, vê pássaros voando em torno da velha mangueira, o sol pueril surgindo por trás dos galhos carregadinhos de brotos de mangas e mais ao longe o céu azul esgarçando-se de nuvens brancas. E senta numa calçada larga do velho casarão da vila. Algumas flores silvestres nasceram nas encostas da casa entre pedras e capim baixo. Vem um cheiro peculiar de terra molhada pelo sereno da noite.

Abre seu caderno que é de desenho. Uma abelhuda nuvem no céu alonga o olhar. Rabisca um círculo pequeno e vai improvisando contornos ovais em torno dele. Pega dos lápis de cor e busca o amarelo. Pinta o círculo. Agora quer o tom vermelho... Procura... procura... e nada. Então chama um beija-flor.

Ouve-se plic, plic, plic apressados. O pássaro parado no ar atento à menina:

_ Ó meu amiguinho, ajuda-me com a tinta vermelha de uma flor!

Os gatos, sentados no muro de adobos gastos do casarão, seguem o voo do beija-flor até o roseiral que restara do jardim abandonado de Dona Francisca. As rosas eram molhadas pelas chuvas e viviam de dias nostálgicos de quando sua dona em atmosfera de carinho lhes envolviam em conversas matinais.

E com ares de ajudante de artista o beija-flor mergulha o bico no desenho quase vazio de cor.

_Tão bonita! Encarnada!_ exclama a menina.

_Como é teu nome?_ pergunta o beija-flor entre os plics velozes de suas asas no ar.

E os gatos acomodam-se melhor no paredão, miado calado, banhando as patas, num gostoso lazer.

Ela responde que é Lavínia e lhe esclarece de sua bisavó materna: Dona Lavínia Flores. E a criança em olhos bonitos conta que quando vai à casa da avó fica no longo corredor a olhar o retrato de uma menina com longas traças negras num vestido de babados e laços: sua linda bisavó.

O sol a dar voltas por cima das árvores, convida o vento a refrescar a calçada, enquanto a menina soltando risos faz desenhos com o beija-flor.

Mas o sonho não termina... A menina colhe emprestado um galho do capim para fazer o talo da rosa...

A Lavínia, filha de meu vizinho, que ontem fez dois aninhos.

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 21/02/2010
Reeditado em 02/03/2010
Código do texto: T2099047
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