Uma bruxa nada má
Era noite. Alguém chegou a uma casa e abriu com leveza a porta. Assim que entrou foi agarrado e jogado ao chão com toda força. Formou-se uma grande confusão de gritos e barulhos até que os vagalumes acenderam suas luzinhas.
_ Que está acontecendo aqui? - perguntou a preguiça Juju, irritada por ter seu sono, tão gostoso, interrompido.
_É um intruso! - disse o macaco Furupa, que prendeu com seu corpo alguém de quem só se ouvia grunhidos.
_ Saia de cima para que possamos ver quem é! – pediu a coruja Feliciana, rodeada por outros bichos, todos curiosos e ao mesmo tempo, apreensivos.
_Cuidado! Fiquem atentos que vou soltar o intrometido!- gritou Furupa, saltando rápido para o lado.
_Dedé! – gritaram todos ao mesmo tempo, vendo a bruxinha amiga que estava toda amassada.
_ Desculpem por eu ter entrado sem anunciar – disse ela – mas acontece que estou em sérios apuros! Preciso da ajuda de vocês!
_ Venha – chamou Feliciana – coma alguma coisa enquanto conta o que se passa.
Então Dedé revelou aos amigos o que a preocupava. No dia seguinte era o seu aniversário, quando completaria, para o espanto de todos, duzentos e cinquenta anos. E é com essa idade que se realiza uma cerimônia para anular toda e qualquer bondade que uma bruxa possa ter no coração. E ela, que gostava muito de ser boa e amiga de todos, não queria jamais ter a maldade em sua vida, em seus sentimentos, em sua alma. Porque Dedé tinha certeza: bruxa também tem alma.
Quando terminou o seu relato todos estavam pensativos e preocupados. O javali Soriano propôs que a escondessem dentro de um baú, até que o tempo para a cerimônia se esgotasse, afinal a transformação teria que ser feita nas treze primeiras horas do dia do aniversário, senão a bruxa ficaria boa para sempre.
O tatu Florisvaldo ofereceu uma toca que ele tinha no meio da floresta para escondê-la.
A onça Sonora disse que ficassem tranquilos, pois ela defenderia Dedé com unhas e dentes.
Mas todos sabiam que não há como se esconder e se defender de bruxas, ainda mais que viriam centenas delas, do mundo todo, para assistir à cerimônia!
Os pássaros já cantavam para o sol e Dedé chorava, aflita! Não queria ser má! Não queria ser feia, como as bruxas malvadas! Sim, as mudanças seriam físicas também: os belos cabelos dela se transformariam, assim como o seu nariz e todo o corpo!
Ninguém ainda sabia o que fazer, então a esconderam dentro do baú do javali Soriano. As horas passavam rápidas e os passarinhos, todos em guarda para avisar se vissem algo estranho. De repente, se ouviu um som assustador ao mesmo tempo em que os pássaros pousavam assustados, para dar a notícia: as bruxas estavam chegando! Uma nuvem delas! Cada uma em sua vassoura, todas vestidas de preto. Dedé tremia dentro do baú, enrolada em uma enorme folha que as formigas cortadeiras trouxeram para cobri-la. Todos corriam apavorados. Até a tartaruga Clemência ficou esperta procurando um lugar para se esconder!
Dedé já havia perdido as esperanças quando, pelo lado oposto às bruxas, chegou Sereno, o cavalo alado, trazendo a formiga Faísca, de quem ninguém havia notado a ausência. Faísca entrou correndo, chamou a coruja Feliciana, o macaco Furupa e foram para onde estava Dedé.
Quando as bruxas chegaram, sobrevoaram a casa por todos os lados, fazendo a maior algazarra. Faltava só meia hora para terminar o prazo fatídico. As bruxas entraram na casa e tiraram Dedé do baú. Estavam com tanta pressa que nem a desenrolaram, foram embora assim mesmo. Todos os seus amigos choravam desesperados! menos Feliciana, Furupa e Faísca. Os outros não entendiam o porquê daquela tranqüilidade.
Assim que chegaram ao local da cerimônia colocaram Dedé em cima de algo parecido com um altar. Cantavam, riam, dançavam, todas muito felizes, comemorando o fim da bondade da bruxinha. Até que enfim! a hora chegara!
_ Silêncio que a cerimônia vai começar! – anuncia a bruxa mais velha e mais horrível de todas.
Todas pararam e, atentas, estavam prontas para apreciar o momento tão esperado! Então, tiraram Dedé de dentro da folha. E gritos de terror ecoaram! Algumas bruxas desmaiaram, outras choraram, outras tantas diziam impropérios, os mais feios palavrões! Só Dedé sorria, o mais lindo sorriso que alguém podia ter!
_ Quem cortou o seu cabelo? Quem contou a você que é queimando os cabelos que se queima a bondade de uma bruxa? _ perguntava, aos berros, a bruxa horrorosa que espumava de raiva!
Muito feliz, Dedé respondeu:
_ Quem tem amigos dedicados nunca está só para enfrentar as dificuldades! Uma formiguinha, a Faísca, ouviu a conversa de vocês sem ser percebida e correu para me salvar! E os meus amigos cortaram os meus cabelos, que logo hão de crescer!
As bruxas, extremamente decepcionadas, foram embora e Dedé e seus amigos fizeram uma grande festa para comemorar o poder da amizade e da união!