VIOLA

Zé bento morava em uma linda fazenda e sua casa ficava no alto de um elevado. Recolhia naquela manhã os ovos das codornas para colocar na chocadeira. Estava alegre e satisfeito, pois havia uma grande quantidade. E já que elas o olhavam assustadas.

- Esses aqui vão virar um monte de codorninhas. E o bom é que vocês não vão ter trabalho nenhum.

- Vocês fiquem calmas, não demora muito e nasce um monte de codorninhas.

Brincava satisfeito. Encheu a cesta e a colocou em um pequeno balcão enquanto colocava ração no comedouro. E ao se dirigir para o galpão encontrou Chico viola com a sua inseparável viola.

- Você já amanhece cantando.

- Existe algo melhor que isso?

- Com certeza que não. Mas tem o resto.

- Quem canta seus males espanta.

E levantando a cesta cheia de ovos.

- Quem planta colhe.

Chico viola solta uma gargalhada.

- É a primeira vez na vida que vejo as frutas de um pé de codorna.

E caiu na gargalhada e ao mesmo tempo falando.

- Não só do trabalho vive o homem.

- Mas você...

Com a viola no peito tocava uma melodia alegre enquanto andava.

Quando Zé bento colocava os ovos na chocadeira entrou Zildinha.

- Nossa! quantos ovos.

- Pois é! Vai encher a chocadeira.

- Vamos ver, grande do jeito que é, vai sobrar espaço.

Falava e o ajudava delicadamente na tarefa. Quando terminaram.

- Mas o que lhe trouxe aqui.

- Uma das mangueiras do hidráulico do trator se rompeu. E tivemos que parar. Reparo nessa distancia é complicado. Você por acaso não teria uma sobrando por ai?

- Sinto não poder te ajudar.

Zildinha olha para a cesta que ainda tinha ovos.

- Essa sobra eu coloco na minha, pode deixar.

- Na meia então. Você fica com a metade dos que nascerem.

E apertaram as mãos fechando o negocio. E para melhorar um café quente para selar a camaradagem. Papo vem papo vai.

- Eu acho que Pedro tem uma mangueira nova sobrando, comprou a mais quem sabe não lhe serve.

E sem pensar pegaram a caminhonete e foram direto falar com Pedro. E sentado a sombra de uma enorme arvore estava Chico viola tocando e cantando. Quando os viram fez sinal para que pararem para uma carona, na mesma hora mandou que subisse. E seguiram para a fazenda do Pedro.

Ao se aproximarem o viram junto com mais alguns, tentando retirar um boi de um atoleiro na beira do rio. Coisa complicada já que o animal era muito pesado e lutava erradamente para se desatolar, se atolando cada vez mais. Zé bento foi direto se inteirar do problema e oferecer ajuda.

Amarrou uma corda na traseira da caminhonete e Zildinha entra no atoleiro com a outra ponta da corda enlaçá-lo enquanto todos o empurravam e ele o puxa com a força do motor.

- Quando eu gritar, vai! Você acelera e ele sai.

O bicho era muito pesado e dava trabalho. E Chico viola.

- E não vim de bota e nem posso machucar os dedos, mas vou cantar para vocês.

Só se ouvia vozes de comando enérgicas.

- Agora, vai!

- Força!

- Acelera!!! Ta voltando.

- Cuidado!

- Seguraaa!!! Peão. Que o bicho vai sair.

- força.. Segura... Empurra!!!

- Acelera... Saiuuuuuu!!!

- Ihaaaa!!! Ihaaaa!!! Eia!!! Ohhh!!! Ta inteiro, pro rodeio. Ohhh!!! Canseira!

Gritavam, assobiavam enquanto jogavam seus chapéus para o alto.

- Valente. Quero ver é o peão ficar nesse lombo amanhã no rodeio.

E todos gritavam enlameados de felicidade.

E Pedro.

- Agora vai todo mundo tomar um mate.

E Chico viola.

- Só um mate!?

E todos.

- Batalha boa, e do lado de amigos, é de graça!

E todos se entreolhavam afirmativamente com movimentos ritmados de cabeça segurando os chapéus.

E gritavam na caminhonete, batendo com os chapéus nas pernas.

- Pro chimarrão!

Enlameados,cansados, alegres e caçoando das derrotas, conquistas e das grandes trapalhadas, riam sem parar.

Na cabine da caminhonete Pedro toma conhecimento da necessidade de Zildinha e antes do chimarrão ele mostra a mangueira do hidráulico.

- Essa não serve.

- Ora! Então, vai o trator. Afinal, pra que serve os amigos.

- Pra contar com eles.

A caminhonete ficou imunda e Chico viola não queria se sujar e foi em pé até a arvore onde estava. E Zé bento e Zildinha resolveram lavá-la e quando terminam, avistaram umas nuvens escuras se formando no horizonte.

Mal a Zildinha saiu e uma chuva torrencial começou e permaneceu chovendo forte até o amanhecer. E quando abriu a porta Chico viola.

- Muitas telhas voaram com essa tempestade.

- É?

- É! E não sei como fazer.

- Ora essa! Vá para debaixo daquela arvore e cante, porque quem canta seus males espanta.

17/11/09