AVENTURAS DO RICKY - Um cãozinho vagabundo.
Desde pequenina desejava possuir um cãozinho.Certa tarde, o meu pai me telefonou e disse: ”Filha comprei um cachorro para você. Vai escolhendo o nome dele aí!...”.
Desliguei o telefone e subi correndo a escada do apartamento. Chamei o meu avô Romeu e contei para ele a novidade! Depois descemos a escada e ficamos em frente ao apartamento onde morávamos, na cidade de Cláudio – Minas Gerais. Só pensando, pensando, num belo nome para o meu cão: que fosse pequeno, fácil de falar e bonito. O meu avô sugeriu que o nome começasse com Ri, e eu completei na mesma hora cky. Juntando as duas sílabas formou-se o lindo nome do meu cão – Ricky!...
Escolhido o nome do meu prometido cão, fiquei à espera do meu pai com o meu avô, até ele chegar do trabalho. Estava muito ansiosa. Às cinco horas da tarde, mais ou menos, finalmente o meu “papi” chegou trazendo no colo um belo cachorro, pequenino, de pelos amarelados. Dei uns gritos de alegria e corri para pegar no colo o meu cãozinho. Feliz, agradeci ao “papi” o meu presente. Meu avô ficava rindo de mim, achando graça de tudo! Nesta época eu estava com quatro anos de idade apenas, mas, já era apaixonada por bichos...
Depois subi as escadas do apartamento, de mãos dadas com o meu avô, para cuidar do meu cãozinho!
No decorrer de pouco tempo, mudamos para uma casa grande, de dois andares, na mesma cidade. Lá no apartamento o Ricky, incomodava muito aos vizinhos com os latidos.
A casa que fomos morar era muito bonita, com muitos cômodos. Era muito espaçosa, com uma escada que dava para o andar de cima. Tinha um grande quintal e uma casa nos fundos, onde o meu avô foi morar sozinho. Ganhei outros bichos de estimação: duas maritacas e muitas codornas, que eu mesma ajudava a cuidar, mesmo sendo bem pequena.
Moramos um bom tempo nesta casa. Freqüentei a Escola Municipal e fiz aulas de balé, até os meus seis anos de idade.
Decorrido mais ou menos um ano, mudamos para o Rio de Janeiro,
para a casa na cidade que nasci.
A VIAGEM PARA O RIO DE JANEIRO
Coloquei o meu cãozinho na mala de viagem do carro, forrada de jornal. Coloquei comida e água para ele beber na viagem. Numa parada para descansar, vi que a água do Ricky havia derramado. E meu pai parou o carro num lugar que tinha uma cachoeirinha. Com o meu pai, peguei o Ricky pela sua coleirinha, e deixei-o beber da água. Enquanto segurava a coleirinha, de repente ele me deu um puxão, se soltou da minha mão e fugiu correndo para a estrada... E eu caí sentada no chão. Meu pai saiu atrás dele, correndo e chamando: ”Vem cá, Ricky!”. E não adiantou nada! Aí quando eu o chamei gritando – Ricky! Ele ficou paradinho no lugar, com os seus olhinhos brilhando, assustado, olhando para mim! Aí, peguei-o no colo e levei-o para o carro novamente. E falei muito zangada com ele: “Olha, Ricky, nunca mais faça isso comigo!”. Aí, ele olhou para mim com uma cara, como se pedindo “desculpas”. Então acariciei a sua cabecinha, dei um aperto nele contra o meu peito e o perdoei. Levei-o para dentro do carro, e ele continuou a viagem no meu colo. Fiquei com pena dele, pois estava com uma cara tão “fofa...” e fazendo: “Anh!... Anh!... Anh!...”. E assim fiquei com o meu cãozinho até chegar na cidade do Rio de Janeiro, onde eu morava até um ano de idade”.
A NOVA RESIDÊNCIA
Viemos morar na nossa antiga casa, um apartamento em cima da casa de minha avó. Era uma casa bem pequena... Bem menor do que a que deixamos em Minas Gerais. Assim que chegamos em casa, mostrei o Ricky a todos, que estavam nos aguardando no portão da casa. Todos se encantaram com o meu cãozinho! E me perguntaram se ele dera muito trabalho... Logo em seguida o alimentei e o coloquei numa corrente lá no terraço, e tranquei a porta. O terraço era espaçoso para ele brincar, de um lado para o outro. Deixei alguns brinquedinhos espalhados pelo chão e uma bola, que ele gostava muito de brincar.
Passados alguns meses, o Ricky já estava bem acostumado com o quintal. Eu o levava sempre para passear na rua. Às vezes eu o deixava solto no nosso quintal, mas com o portão trancado.
Nesta época, eu completei seis anos de idade, em dezessete de maio, e recebi uma linda festa. Tirei uma foto linda com o meu cachorro! Ele me fazia muito feliz!
Certa tarde estava vindo da Escola de Kombi, por volta das dezessete e trinta, quando de repente vi o Ricky na rua, perto de um valão, no Bairro que moramos. Cheguei em casa desesperada. Liguei então para o meu pai que viesse rapidamente, para capturar o meu cãozinho fujão, lá onde eu o vira.
Rapidamente o meu pai chegou. Ele e eu fomos busca-lo. Quando cheguei o Ricky ainda estava lá, andando de um lado para o outro perdido! E eu gritei o seu nome de novo, com toda a força da minha voz: “Ricky! Ricky!”. E ele ficou parado perto do valão. O meu pai foi para cima dele, mas, ele lhe deu uma “lesa”. Eu estava atrás e consegui segurar a coleira dele. Trouxemos o Ricky para casa e briguei muito com ele, aos gritos. Ele ficou abaixadinho no chão, com a mesma carinha que fez, quando fugiu na viagem de Minas para o Rio. Colocou as patinhas para frente e enfiou o focinho e assim ficou, quietinho, com medo ou envergonhado da bronca que eu lhe dei!
Mas, não ficou só nessa fuga...Ele fugiu muitas outras vezes. Todos os meus primos já haviam trazido o Ricky para casa, pelo menos uma vez... Num outro dia a minha avó, o encontrou entrando no portão numa rua distante, quase no centro da cidade. Perguntou à dona da casa, que disse que o encontrou na rua, e o trouxe para sua casa. Ele estava faminto! Deu-lhe água, comida e ele ficou por lá. Minha avó o chamou e ele pulou no seu vestido. Então minha avó colocou-o no carro e o trouxe para casa.Depois ele fugiu de novo...
Certa vez o meu pai o encontrou num Posto de Gasolina; noutra vez numa roça no Rio do Ouro, depois perambulando até à praça! Quando o trazíamos para casa, estava sempre sujo, faminto e com uma carinha triste. Colocávamos o Ricky na corrente, mas ele se soltava, sempre depois de passar alguns dias, preso, e que a gente pensava que ele não fosse mais fugir...
A DOENÇA DO MEU AVÔ
Meu avô veio muito doente de Cláudio, em Minas Gerais. Acho que o meu pai trouxe-nos para cuidar dele aqui, que tinha médico especialista para tratar da sua doença.Ele estava com uma doença grave, que eu não podia compreender, mas sabia que era dentro de sua cabeça, no cérebro. Ele nem podia mais andar sozinho, e passou a ficar numa cadeira de rodas. Certa tarde ele passou muito mal e foi internado. Quando a ambulância saiu carregando o meu avô, o Ricky latiu muito. Ele era muito apegado ao meu avô.
Numa tarde, eu estava brincando com a minha prima, que mora no mesmo quintal. Ela foi à sua casa, e ouviu uma conversa de minha mãe com a minha tia e foi correndo me contar! Ela me disse que o meu avô falecera...Disse-me que a minha mãe pediu-lhe para que não me contasse, pois ela mesma quem queria me contar! Então minha prima foi desobediente ao que minha mãe lhe dissera. E eu entrei em desespero e chorei muito. Meu avô era quem ficava comigo, e me levava para a escola... Eu era muito apegada a ele.
Passados alguns dias do falecimento do meu avô, o Ricky desapareceu, misteriosamente. E nunca mais nós vimos o Ricky.
Completei meus sete anos e meu pai me deu de presente uma cadelinha, toda pretinha, linda! Que ele trouxe de uma viagem que fez na cidade onde morávamos. Eu sentia muitas saudades do Ricky e vivia falando nele. A chegada da cadelinha me fez muito feliz. Dei o nome dela de Sandy.
Depois que o meu pai me trouxe a Sandy, o meu pai indo de carro para o trabalho, por diversas vezes, vira o Ricky, mas, parava o carro e ele sem coleira, não deixava ser apanhado e fugia. E desistimos de procurá-lo. Mas, não desisti de ter outros cachorros, pois sempre fui apaixonada por bichos desde bem pequenina. Meu pai me deu então um casal de Dálmatas, numa bela surpresa. Coloquei o nome da cadela, de Jeyce e do macho, Marley. Fiquei muito, muito feliz. Mas, sentia muita saudade do meu cãozinho predileto – o Ricky.
Certa noite saí com o meu pai. De repente, ele viu um cachorro, parou o carro e falou: “Olha, o Ricky Isabelle!”.Então eu falei: “Pai, não é o Ricky. Este cão está muito gordinho e não tem o olhar do Ricky. Eu sei que não é o Ricky”. E fomos embora.
Agora já tenho nove anos. Meu casal de Dálmatas que eram pequenos cresceu e formou uma nova família, com nove filhotes. O primeiro nasceu antes da minha saída para a escola, e acreditem se quiser, eu ajudei no parto da cadela, pois, o meu pai não estava em casa e minha mãe, morre de medo dos cães. Era muito cedo e os vizinhos ainda estavam dormindo. Quando voltei da escola os dois últimos filhotes acabaram de nascer. Era lindo ver nove filhotinhos mamando na Jeyce!
A última vez que Vi o Ricky
Uma certa noite o meu pai me chamou para sair. Fomos à Lanchonete “Kunty”. De repente eu falei: “Pai, olha o Ricky” e ele; “Aonde?”. O cãozinho estava passando na calçada, ao lado da gente! Eu chamei: ”Ricky”. E ele ficou parado, olhando para mim com aqueles olhinhos inesquecíveis. Estava um pouco sujo, mas sem marcas ou arranhões, pois ele era um cão muito dócil, e muito especial.Não gostava de brigas. Mas ele era muito ágil, esperto e tão acostumado a fugir! Atravessou a rua rapidamente e não conseguimos alcança-lo. Ainda o procuramos muito pela cidade, naquela noite.De vez em quando meus primos diziam: ”Acho que vi o Ricky”. Mas era só parecido com ele.E nunca mais vi ou tive notícias do RICKY, meu inesquecível “Cão Vagabundo!”.
Autora do Conto: Isabelle Gonçalves Verdan dos Anjos - 10 anos, ditado oral e integralmente para sua avó Iraí Verdan, que o digitou.