A lagartixa Zé
O vento quente bate-lhe na pele seca queimando o rosto. A terra semideserta arrasta-se à sua frente. Eram já dez horas da manhã e com receio de ficar muito tempo exposta ao sol a lagartixa Zé apressa-se em procurar comida.
Sozinho e sem ter se alimentado ainda, Zé ouve a barriga roncar. Admira o sol que reina no céu azul com seus raios quentes. Para um instante nessa contemplação. Fosse cedo da manhã seria bom estar a olhá-lo e a se aquecer. Ensinaram-lhe a admirá-lo com respeito; pois ele também trazia a morte rápida dos répteis pelo superaquecimento da mucosa da pele. Certo disso,continua sua busca.
Seus pés começam a sentir certo perigo. Lembra-se de fatos contados por seu primo Torote. Um dia a dona da casa em que o primo morava viera com uma vassoura expulsá-lo da lâmpada onde se aquecia. O susto fora tão grande que ele perdera o rabo na corrida. Zé rira da história quando Torote num tom de menino dissera: “Ora, quem mandou a Dona deixar a parede com toda aquela sujeira perto da lâmpada? Eu fui me bronzear, pois pensei que fosse a praia!”. Só o primo mesmo para se sair com essa!... (Ri-se deliciada da lembrança).
Todavia o medo ronda seu interior. O dia se indo rumo ao centro do sol e ele nas areias quentes do sertão nordestino. Ergue um dos pés. Sente vontade de soprá-lo para diminuir o calor. Apenas agita-o no ar e pisa outra vez na areia fervente. Busca na extensão do caminho uma pedra ou uma árvore. Lá para as bandas do nascente visualiza um pé de canelinha. Era o mês de outubro. Deve haver já flores na planta. O coração se anima. Sempre haverá algum inseto perto da floração.
De súbito, uma quietude do ar quente. Zé arregala os ouvidos e espera com o coração querendo saltar pela boca. Sabe o que é e tem medo. O rabo mexe-se desobediente de sua vontade de ficar parado. Olha os pés de canelinha a alguns metros. Sente os movimentos de outro animal na areia.
Não aguarda para ver o predador. Certamente é uma cobra querendo fazer dele seu almoço. Com a respiração ofegante, assustado, corre. Ainda tem tempo de dar uma última olhada a seu rabo que se revira, inquieto, na areia. Bendiz à natureza por ter lhe dado essa estratégia de defesa e esconde-se no meio de algumas pedras dentro do mato verde.
Seria apenas mais um dia na vida de Zé; não fosse a lei da natureza!