De quando um menino abre uma gaiola
_Turriu, turriu, triu, triu, trim, trim, trim...
Zé Perequeté ouve o canto do canário dentro da gaiola de talas de bambu. É cedo ainda, o sol nem aponta nas frestas das palhas de coqueiro sobre a rede do menino. Há no pequeno quarto em que dorme uma chama semiapagada da lamparina a querosene. Ele olha ao redor: Todos dormem; inclusive os pais no quarto contíguo!... Levanta-se pé ante pé e ruma para a sala.
Num canto do ambiente, a gaiola presa ao teto no tronco da carnaúba. E seus olhinhos ameninados vão de encontro à cabeça do animal. A plumagem alaranjada fá-lo sentir laços de nobreza do pássaro com as cores da terra do Brasil. O tom amarelo de algumas penas carregando para o vermelho bem forte como se contasse das araras ou de flores exóticas lá para as bandas do Amazonas.
Contudo não se detém por muito tempo na contemplação da ave. Sobe num tamborete de madeira no qual se visualiza as tantas brincadeiras dele e dos irmãos. Ergue os braços e retira a gaiola. Há um silêncio afoito do canto melodioso. E vai-se o Zé Perequeté abrindo devagar a porta da cozinha com um olhar de satisfação desembestando pelo corpinho magro.
Com a gaiola numa das mãos, ascende num pé de cajueiro os lábios em silvos agudos:
¬_Turriu, turriu, triu, triu, trim, trim, trim!...
Num dos galhos, os ramos em floração Zé abre a porta da gaiola... O pássaro voa livre aos primeiros raios do sol que despontam por sobre as matas do sertão!...
E no coração do menino, o canário-da-terra a modular na mesma sequência ritmada do beijo de adeus de seus lábios:
__ Turriu, turriu, triu, triu, trim, trim, trim!...