Sisana & Machadinha VIAJAM NUM DODGE
ELAS estão prontas. O dia todo elas ajudaram a mãe e o pai a por as coisas dentro do carro e a arrumar as malas e o lanche para o passeio. O lugar para onde vão, elas mesmas escolheram, olhando para um mapa, horas e horas com muita indecisão... Muita decisão... Mas finalmente disseram – Florzí! Elas lembraram da novela Mil Anos Em Trevas – então ninguém mais tirava da idéia delas. Mas também não pensava em nenhum príncipe, nem na noite da cidade romântica, o lugar era longe e isso já fascinava. No mapa Florzí era apenas um ponto numa área verde, próximo a área azul, o mar de Florzí. O pai - o Machado – já olhou todo o carro – um Dodge – e vistoriou os pneus, testou o freio, abasteceu o tanque, o extintor... A mãe preparou empadas e pizzas e um jarro de suco de maracujá e também refrigerantes. As meninas prometeram a si mesmas, não dormirem durante a viagem. Elas não querem perder nada, nem uma montanha sequer, querem ver tudo! A mãe e o pai no banco da frente ficam rindo ao escutarem a conversa das meninas. Eles sabem que a viagem será longa e cansativa e pelo menos uma delas não irá resistir ao sono.
E assim, rapidamente o automóvel ganha as ruas e elas observam a torre de Janiópolis ficar para trás – um prédio muito alto, mas que aos poucos vai ficando pequeno até sumir entre os outros. A casa de Cláudio – o teatro Moema, finalmente Ludrani, o cemitério de luxo (pra que isso?) O carro vai subindo, realmente Florzí fica no alto....Machadinha ouve o ronco do motor. Ela diz para a irmã que o carro está cansado. _ Ele está querendo descansar! O pai sabe que ele está mais forte do que nunca. Ele diz para a esposa que ela é quem está cansada – Machadinha. E ela mesma não ouve mais nada, encostada no ombro da irmã, não vê mais nada – exceto que – o carro continua fazendo força ao subir, dá uns solavancos e ela, Machadinha, voa até o motor dizendo _ Vou ver o que está acontecendo! Então vê o motor muito quente, com vários pistões subindo e descendo rapidamente e furiosos até chegar as rodas que levavam chicotadas, quando eles, os pistões, gritavam Eia! Eia! Vamos! E os pneus iam girando velozmente e em sua parte de dentro uma fumacinha branca ia saindo e o ferro que os liga ficava bastante suado e quando surgia algum desnível eles caiam com a trepidação. E uma bomba puxava a gasolina com muita violência e jogava para o alto banhando o motor que explodia como se estivesse com muita raiva e então empurravam os pistões novamente contra as rodas, que levavam chicotadas, pobres rodas. –Pobres pneus! Dizia Machadinha com as mãos nas cinturas em pé no pára-choque. E olha para os pneus já carecas de saber o que fazer, cansados de trabalhar, eles olham para ela com cara triste. E ela grita _ Parem! E diz _ Vocês não têm vergonha? Todos param. O carro pára. O pai aparece, olha debaixo do carro e com uma cara tranqüila volta para dentro do carro. Liga o carro. A pancadaria recomeça. Os pistões começam a bater, a vela solta faísca, os pistões fogem desesperados, e na corrida, empurra roldanas, correias e engrenagens, o óleo quente tenta acalmar a situação. Machadinha grita novamente. _Parem! E diz – Seus tontos, não vê que não se entendem? As rodas, os quatro pneus explicam. _ Não se preocupe Machadinha, este é o nosso trabalho, todos estamos trabalhando, o peso é dividido por todos, cada roda fazendo sua parte o peso fica pequeno. Nós seguramos o carro, mas quem faz a força para ele subir é o conjunto de peças que você vê e nenhuma delas surra a outra. Mesmo o cavalo não reclama do chicote que lhe diz o que fazer. Uma chicotada não dói quando certa e a recompensa logo vem. Seu pai cuida muito bem de nós, Machadinha!
_ E um vento forte e fresco faz ela acordar ainda no ombro de Sisaninha e vê que o Dodge corre solto numa estrada cercada de grama verde. Uma estrada que parece não ter fim.
O conforto e o silêncio dentro do carro são um convite para continuar dormindo. Uma música suave e baixinha vem do toca-fita. Ela esfrega os olhos, olha para a irmã e diz _ Desculpe-me irmãzinha, babei no seu ombro!
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