Doce de flor de laranjeira
A minha mana, Gislene
O inverno se aproxima
A abelha operária Gislene termina a faxina na cozinha
Aviva o fogão a lenha com novas achas
Pega a colher de pau e um tacho de barro largo e fundo
Numa das bocas da chapa, segurando pelas asas, assenta a vasilha
Então cuida dos ingredientes
Uma quantidade considerável de néctar de flores de laranjeira, água
(E o segredo da mestra doceira):
Uma pitada discreta de pólen!...
Mistura bem... Com carinho de quem faz por amor
Dá uma mexidinha de quando em quando
Raspa a colher de pau no fundo do tacho
Vrasch... vrasch... vrasch!...
(A calda ainda não está no ponto!...)
Continua a mexer... Faz círculos, semicírculos
Não pode grudar!... Abranda o fogo
O cheiro impregna-se na colmeia
As larvas pedem um lambidinha do melado da colher
Sorri e retira com os dedos um pouquinho
Para logo em seguida lambuzar a boca dos filhotes: Hum!...
Retorna ao movimento: Vrasch... vrasch... vrasch!...
Quando a calda começa a soltar no fundo do tacho
Gislene soca alguns gramas de cravim num pilãozinho de madeira
E deita o pó adquirido dentro do vaso de barro salpicando aromas
Depois retira o tacho do fogo e o cobre com folhas de bananeira
Repousando o doce para corar numa das beiras do fogão
Espera que ele atinja tons amarelo-castanhos
E o armazena nos favos de mel.
(A noite será povoada de bons sonhos para o inverno!...)