Brincadeiras de Infância
Era uma bela manhã de inverno. Os ventos sopravam propícios para empinar arraia, pipa e periquito. Os garotos corriam freneticamente de olho no céu, para não perder de vista seus tesouros. O melhor lugar era também o mais perigoso: à beira de uma pedreira desativada nos fundos de um conjunto residencial. Claudinho e Paulinho, amigos inseparáveis, revezavam-se na tarefa/brincadeira; enquanto um empinava e dava os toques, o outro corria para pegar quando cortava a linha do adversário e a arraia caía. Era uma maravilha que nem o perigo iminente tirava deles o prazer da diversão. Entretanto, nesse dia tudo iria mudar.
Os meninos estavam tão absortos que esqueceram-se do precipício à frente e na correria para pegar a arraia com as cores do arco-íris, Claudinho rolou pedreira abaixo. A gritaria foi intensa e generalizada. As crianças tentavam desesperadamente socorrer o colega, no entanto, nenhum deles podia descer até o local da queda.
Paulinho saiu desabalado a gritar pela mãe de Claudinho que acudiu chorosa a imaginar a tragédia. Foram todos, inclusive a vizinhança sempre solidária, à pedreira para socorrer o pequeno Cláudio. A mãe, d. Ana, suplicava a Deus que o filho estivesse vivo.
Os homens estenderam uma corda e desceram até o local, onde improvisaram uma maca para levar o garoto até o lajedo. Bastante machucada, a criança gemia e pedia desculpas por ter desobedecido à sua mãezinha que tantas vezes lhe recomendara que não brincasse nas proximidades da pedreira.
Naquele momento o que realmente importava para d. Ana era a recuperação de seu filho caçula.
O garoto foi socorrido, porém, para tristeza de todos, uma das pernas teve que ser amputada, pois ficara muito machucada pelo impacto da queda.
Alguns meses depois, já recuperado dos ferimentos, Claudinho surpreendeu a todos pela forma como encarava a vida depois do acidente. A alegria voltara a seu semblante e nem mesmo a falta da perna lhe deixava desanimado ou mesmo triste.
A comunidade comovida e motivada por tamanha força de espírito, organizou-se para comprar uma prótese para o menino. No dia do seu aniversário de 13 anos, os seus colegas foram à sua casa levando presentes e a festa transcorreu animada. Ao final, seu pai pediu-lhe que sentasse e fechasse os olhos. Paulinho foi chamado a ajudar na colocação da prótese e muito emocionado chorou ao lado de seu amiguinho que tinha ali a chance de voltar a ter uma vida normal. Dias depois lá estavam os dois a empinar novamente arraia, pipa e periquito, só que dessa vez, na quadra, em segurança. As mães dos meninos olhavam de longe e sorriam felizes, agradecidas a Deus pela vida poupada, pela amizade e companheirismo que era o diferencial daquelas pessoas.