A Boneca Mimi

De dentro do baú ela ouviu. Foram dias e dias. Quanto tempo se passou assim sem sua dona, só esperando?!...

Pássaros cantaram em algazarra nas árvores... Flores no jardim desabrocharam-se em aromas... E a voz da irmãzinha (de sua querida dona) viera-lhe dentro do imaginário da longa espera: “Eu farei roupinhas para a boneca dela, posso vovó?”... Olhou seu vestidinho de rendas de algodão!... Os bordados nos folhos da saia... (Eu sou linda, ela vai me amar!)

Mergulhou os dedos nos cabelos arrumando-se!... E levantou os olhos no exato momento em que lhe abriram a tampa do baú antigo. O olhar de botões azuis se encontrou com os ternos de uma menina: ... Olhos castanhos pousados na mãe! Um corpinho delicado envolto em um xale róseo (da cor de seu vestido de renda!...) de florezinhas brancas!...

E um friozinho correu por seu corpinho de tecido. Quando vovó Tetê a fizera não contara daquela vida tão pequenina e frágil... Ela havia sido acolchoada de feltro... cabelos de restos de lã de fofos sapatinhos... bracinhos finos como os de sua dona!... (Ai, como é lindo um bebê!...)

Só os olhos azulados se moveram:... E começaram a viajar no lugar. Os tons pastel das paredes davam um ar de tranqüilidade ao ambiente. Mas o olhar dos presentes era inquieto!? Corria da mãe para a criança... desta para a mãe!... No entanto, a boneca pregou os grandes olhos, feitos dos botões de um dos vestidos de vovó, em um quadro de madeira e biscuit preso à parede acima do berço. Nele o nome de sua amiguinha: Ana Letícia!...

. ... A boca quis falar!... Imaginou as duas pequeninas mãozinhas de Aninha em seu rosto de algodão macio e chegou a ouvir um grito de sua própria garganta: “Obaaa”!... Estava feliz!... Era uma boneca em brinquedo!...

E falaram: “Olha a boneca de pano que vovó Tetê te fez, Aninha!”

_Eu... Ah!... O meu nome é Mimi!...