O papagaio fofoqueiro

Existia na floresta um papagaio que se chamava Ananias. Ananias vivia fazendo fofoca de todo mundo. Deus do céu, como gostava de falar mal da vida dos outros.

----Fulano está bem de vida porque roubou!

----A filha de sicrano da bola pra todo mundo!

----A mulher de beltrano vive todo empetecada!

Era assim todos os dias. Falava mal até da própria família.

Um belo dia estava ele sentado em um banco na calçada de sua casa, observando atentamente todos os movimentos da vizinhança para, logicamente, com sua língua afiada poder falar mal da vida de alguém, quando de repente avistou um cavalheiro elegantemente vestido, trazendo as mãos uma belíssima caixa de presente.

O cavalheiro aproximou-se da casa de Dona Ursulina e bateu palmas no portão. Dona Ursulina abriu a porta e irradiante recebeu aquele cavalheiro com um beijo no rosto, convidando-o para entrar.

Pronto! Meu Santo Antônio da botina furada! Não precisou de mais nada! O papagaio futriqueiro arregalou os olhos, colocou-se de pé rapidamente e já saiu fazendo fofoca pelos quatro cantos da floresta.

----Vocês não sabem o que eu acabei de ver! È uma pouca vergonha! Enquanto o Senhor Urso Lino sai pra trabalhar, Dona Ursulina recebe, aos beijos e abraços, pessoas estranhas em sua casa, que lhe trazem jóias e perfumes importados em riquíssimas caixas de presentes.

Em poucos minutos toda floresta já estava sabendo da história que o papagaio fofoqueiro havia inventado. Por onde se passava via-se a bicharada comentando em voz baixa o namorico que Dona Ursulina vinha mantendo as escondidas.

----Será que é verdade? --Perguntava um.

----Meu Pai Santíssimo! È o fim do mundo! A Dona Ursulina? --Dizia outro com ares estupefatos.

Já a tardezinha quando o Senhor Urso Lino chegou do serviço, encontrou Dona Ursulina Chorando.

----Por Deus mulher! O que foi que aconteceu? Perguntou o Senhor Urso Lino preocupado.

Dona Ursulina explicou-lhe o que havia acontecido. Pois uma amiga de extrema confiança confidenciou-lhe o que a bicharada estava comentando. Era mais uma maledicência que o Ananias havia arrumado. Seu Urso Lino custava a acreditar no que acabara de ouvir.

----Como alguém pode usar de tanta maldade para difamar a honra de uma pessoa tão pura e inocente igual a você.

----Pura maldade mesmo Urso Lino! Eu querendo fazer uma surpresa para ele no dia de seu aniversário e ele como pagamento saiu pela floresta levantando calúnias sobre minha pessoa. --Desabafou Dona Ursulina entre soluços e lágrimas.

----Pois bem! Apanhe a caixa com o presente e vamos até a clareira lá no meio da floresta.

Dona Ursulina pegou a caixa e juntamente com o marido rumaram para a clareira onde a bicharada costumava se reunir em dias de festas.

Lá chegando Seu Urso Lino pediu ao bem-te-vi que reunisse toda a bicharada naquele local. Em poucos minutos todos estavam ali, inclusive o papagaio fofoqueiro.

O Senhor Urso Lino subiu no coreto que havia no centro da clareira e começou a falar para todos os que ali estavam.

----Senhores e senhoras!... Tenho algo a dizer para vocês, porém gostaria primeiro de pedir a presença do Senhor Ananias aqui em cima.

O papagaio fofoqueiro olhou meio assustado para todo mundo, pressentindo que havia dado alguma mancada. Tentou sair de fininho, querendo dar uma de migué, fingindo não ter ouvido o Senhor Urso Lino ter solicitado a sua presença ali no coreto. Porém foi interceptado pelo Senhor Barnabé, um bode invocado que não gostava muito de conversa fiada.

----Ei! Você é surdo, ou tá fingindo que não escutou? Não está vendo o Senhor Urso Lino te chamar lá no coreto.

Não teve jeito. Ele teve que subir até lá. E assim que subiu, o Senhor Urso Lino, colocou as mãos sobre o seu ombro e começou a falar:

----Hoje em minha humilde moradia minha excelentíssima esposa recebeu a visita de um elegante cavalheiro que lhe trouxe essa caixa de presente...

Fez uma pequena pausa e continuou.

----Esse elegante cavalheiro que é nada mais, nada menos que o pai de Dona Ursulina, minha excelentíssima esposa, é também um prendado confeiteiro e trouxe até a minha casa um bolo que eu lhe havia encomendado que está dentro dessa belíssima caixa de

presente.

Foi um "oh" geral. Os olhares de repente voltaram-se todos para o papagaio fofoqueiro, que com um sorrisinho amarelo e suando pelos quatros cantos engoliu a seco.

----Pois bem senhores e senhoras... Esse bolo é uma surpresa que a Dona Ursulina resolveu fazer para o Senhor Ananias que hoje está aniversariando.

O Senhor Urso Lino pegou o bolo, olhou para o Ananias e continuou.

----Porém uma pessoa muito maldosa maculou o nome de minha querida esposa, insinuando coisas a seu respeito que a magoou profundamente.

O papagaio fofoqueiro que já não sabia mais onde por a cara tentou sair de fininho. Porém o Senhor Urso Lino puxou-o pelos braços fazendo com que ele voltasse.

----Calma Senhor Ananias eu ainda não lhe entreguei o seu presente.

Seu Urso Lino abriu a caixa, retirou o bolo e entregou para o Ananias.

----Parabéns Senhor Ananias! Feliz aniversário!

Pediu uma caixa de fósforos emprestada, ascendeu a vela que estava sobre o bolo e sem dizer mais nada abraçou Dona Ursulina e retirou-se do local.

O tamanduá aproximou-se do coreto e gritou:

----Aí, papagaio fofoqueiro! Cante você mesmo os parabéns, porque nós não vamos cantar não!

A Dona Girafa, lá do fundo, esticou o pescoço e berrou:

----Linguarudo! Mexeriqueiro! Come o bolo sozinho!

E de repente a um só coro a bicharada gritava:

----Fofoqueiro! Fofoqueiro! Fofoqueiro!

Um a um a bicharada foi se retirando deixando o infeliz do Ananias ali sozinho, com a maior cara de abacate verde, segurando o bolo de aniversário. E para completar, o tico-tico num vôo rasante passou rapidamente e soltou uma titica na cabeça do pobre do Ananias

Bem feito pro Ananias. Quem mandou ser fofoqueiro. Se ele não fosse tão língua de trapo, nada disso teria acontecido.