A árvore orgulhosa
Em meio à mata, junto a uma palmeira, nasceu uma linda árvore que aos poucos foi desenvolvendo-se até atingir uma altura considerável. Ainda jovem costumava todos os dias pela manhã cumprimentar a Dona Palmeira e também a todos que estavam a sua volta.
----Bom dia Dona Palmeira! --Dizia ela.
----Bom dia, Jovem árvore! -- Respondia sorridente Dona Palmeira.
----Bom dia pra todo mundo! --Saudava a jovenzinha.
E todos respondiam a um só coro.
----Bom dia pra você também!
Chegou a primavera e aquela jovem árvore cobriu-se de flores dos pés a cabeça. Todos a admiravam pela sua rara beleza.
Foi ai então que ela, ao perceber o quanto era bela e vendo toda sua formosura refletida nas águas do riacho que passava próximo, começou a mudar o seu comportamento. Pela manhã já não cumprimentava mais ninguém. Empinava o nariz e passava o dia todo se admirando.
Um dia Dona Palmeira chamou-lhe a atenção:
----Olha aqui, ô jovenzinha, eu até concordo que você é a árvore mais bela da redondeza, todavia isso não lhe dá o direito de tratar todo mundo com descaso.
----Oras bolas, Dona Palmeira, eu não devo satisfação a ninguém, muito menos para uma magricela como a senhora, que mais se parece com uma vara de cutucar estrelas.
Dona Palmeira baixou a cabeça e muito magoada com os distratos da jovem árvore não disse mais nada. Passou o dia observando a jovenzinha zombar das outras irmãzinhas despossuídas de beleza.
Porém um belo dia, logo pela manhã, começou a soprar um forte vento, bem mais intenso que o de costume.
----O que está acontecendo? --Perguntou assustada a jovem árvore.
----Nada de mais! É apenas o sopro do criador que está chegando! --Respondeu Dona Palmeira.
----O sopro do criador? O que é isso? --
----São ventos fortes, que vez ou outra, costumam passar por aqui, vindos do sul. --Esclareceu Dona Palmeira.
E os ventos foram aumentando, aumentando até tomarem proporções gigantescas.
----Ele chegou! Ele chegou! --Gritavam todos.
----O que vamos fazer agora? --Perguntou a jovem árvore.
----Não faça nada, apenas curve-se a ele! --Orientou-lhe Dona Palmeira.
----Curvar-me a ele? Eu, a árvore mais bela da floresta? De maneira alguma! Quem ele pensa que é? --Retrucou a jovem árvore abarrotada de prepotência.
E enquanto a Dona Palmeira e as outras árvores, humildemente, curvavam-se diante das forças da natureza, a jovem árvore, exalando toda a sua prepotência, tentava desesperadamente enfrentar as forças do vendaval que devastava tudo que encontrava pela frente.
Seus galhos retorciam-se de um lado para o outro numa luta desesperada pela sobrevivência. Aos poucos, porém, suas forças foram se esvaindo e ela acabou não resistindo a esse combate tão desigual.
E quando tudo se acalmou todos olhavam desolados para a pobre árvore, que havia pagado caro pela sua teimosia em querer enfrentar as leis do criador. Estava completamente arrasada. Seus galhos, suas folhas e suas flores foram arrancados impiedosamente pela força destrutiva daquele tufão. Agora ela já não era a mais bela árvore da floresta. Estava horrível, completamente moribunda.
Sem entender direito o que havia acontecido ela olhou de relance para o riacho tentando admirar a sua beleza que agora já não existia mais. Que decepção. Ao ver sua imagem refletida nas águas, desabou em prantos. Dona Palmeira, que não era de guardar rancor, tentou acalmá-la.
----Calma jovem árvore, você ainda tem muito que aprender. Logo seus galhos crescerão novamente e você voltará a florir.
----Mas agora todos rirão de mim! --Choramingou a pobre árvore.
----Rirão da mesma maneira que você costumava rir de algumas de nossas irmãzinhas! Concorda comigo?
Sem saber o que dizer a jovem árvore baixou a cabeça e entendeu, então, que tanto a beleza, como a fealdade, fazem parte da natureza, e ambas merecem respeito e admiração. De nada vale a beleza material se não houver beleza espiritual, pois perante Deus somos todos iguais e ninguém é mais bonito ou mais feio que ninguém.
E quando chegou à outra primavera a jovem árvore cobriu-se novamente de flores, e apesar de toda exuberância de sua beleza ela não se deixou levar pela vaidade, muito pelo contrário, ela havia aprendido a lição e agora, além de formosa, ela era a mais humilde das árvores da floresta e todos a adoravam.