Um Visitante Inesperado
Certa feita, por volta das três horas da madrugada, buscando inspiração para escrever um conto gótico, encontrei-me imerso em devaneios, tentando conceber uma ideia inovadora. Várias possibilidades passaram pela minha mente, mas todas foram descartadas por não me parecerem suficientemente interessantes. Comecei a refletir sobre como os grandes escritores do gênero conseguiam conceber suas obras-primas. Bram Stoker e seu icônico Drácula, Stephen King e seus horrores psicológicos, Edgar Allan Poe e seu melancólico Corvo, Mary Shelley e seu visionário Frankenstein – todos mestres que pareciam ter um dom sobrenatural para criar narrativas envolventes e imortais.
Pensei em desenvolver algo inspirado na atmosfera sombria do filme O Corvo, estrelado por Brandon Lee, cuja morte trágica durante as filmagens em 1994 adicionou ainda mais misticismo à obra. Eu queria criar um personagem tão enigmático e inquietante quanto Eric Draven, perambulando pelas ruas desertas da madrugada, sedento por vingança. No entanto, nenhuma ideia parecia se firmar na minha mente.
Então, decidi explorar outras vertentes: um conto sobre igrejas antigas e catedrais em ruínas, ou talvez um cenário macabro de um cemitério onde pessoas se reuniam para tentar se comunicar com os espíritos dos seus entes queridos. Também cogitei abordar algo mais etéreo, envolvendo anjos e seres celestiais, trazendo uma perspectiva mais espiritual para minha narrativa. Porém, minha criatividade parecia bloqueada.
Já resignado, deitado em minha cama, absorto nesses pensamentos, fui subitamente interrompido por um som inesperado. Eram asas batendo freneticamente do lado de fora da minha janela. Como a janela estava aberta, mas protegida por uma tela, a princípio não me preocupei. Continuei assistindo a um documentário fascinante sobre relíquias antigas e descobertas arqueológicas, esperando que alguma inspiração surgisse dali. No entanto, o barulho das asas insistia em se repetir, cada vez mais próximo e persistente.
Levantei-me e acendi a luz do quarto para investigar. Imaginei que pudesse ser uma das andorinhas que, há anos, fazem o seu ninho sob a laje do corredor de casa. Há duas décadas, aquelas pequenas aves faziam dali o seu lar, e eu jamais interferi. Já presenciei inúmeros filhotes nascendo, e até os filmei certa vez, observando seus pequenos bicos abertos à espera do alimento trazido pelos pais. Sempre me fascinou a delicadeza da natureza e a forma como cada criatura desempenha seu papel no ecossistema.
Mas, ao me aproximar da janela, tive uma surpresa inquietante: não era uma andorinha. Era um morcego!
A pequena criatura, em desespero, tentava se desprender da tela onde suas asas haviam se enroscado. O animal se debatia, lutando freneticamente para escapar daquela armadilha involuntária. Peguei uma vassoura para tentar ajudá-lo, abrindo uma brecha para que ele pudesse sair. No entanto, no momento em que fiz isso, o morcego encontrou um espaço entre a tela e a janela e, em vez de fugir para a noite, ele voou diretamente para dentro do meu quarto!
O caos começou.
Minha primeira reação foi abrir as portas para que ele pudesse sair, mas, em questão de segundos, ele sumiu. O morcego simplesmente desapareceu dentro do cômodo. Comecei a revirar tudo – os livros da minha estante, as caixas de ferramentas, o sofá, as roupas – na tentativa de encontrar o pequeno intruso. Mas ele parecia ter evaporado. Revirei o sofá, chequei os cantos do quarto, mas nada.
O sono começou a me dominar, e resolvi me render ao cansaço. Peguei meu colchão e fui dormir na sala. Fechei a porta do quarto, deixando a janela aberta, imaginando que, se ele encontrou um caminho para entrar, também encontraria um caminho para sair.
Ao amanhecer, voltei ao quarto e recomecei a busca. Revirava os móveis enquanto tentava me convencer de que talvez tivesse sido apenas uma alucinação causada pelo sono e pela mente cansada. Mas eu sabia que não era. Eu o vi com meus próprios olhos.
Minha mãe, ao ouvir meu relato, riu e disse que eu estava delirando por assistir filmes de terror até tarde. Para ela, poderia ter sido uma andorinha desorientada. Eu, no entanto, tinha certeza do que vi. A presença do morcego não era fruto da minha imaginação.
O dia passou sem mais incidentes, e na noite seguinte, voltei ao meu quarto, agora convencido de que o morcego havia encontrado a saída. Assisti a alguns episódios da série Demolidor, relaxado e tranquilo. Mas, por volta da meia-noite, um barulho estranho vindo da parede do vizinho começou a me incomodar.
Ignorei, aumentei o volume do notebook e continuei assistindo. Até que, de repente, um novo barulho me fez congelar. O som inconfundível de asas batendo dentro do meu quarto. E não era fora da janela. Era bem perto... bem acima da minha cabeça!
O morcego estava lá. Vivo. Escondido há dois dias sem comida, sem água, sem emitir um único som, e agora, desesperado para sair.
Levantei-me em um pulo, e a caçada recomeçou.
Eu não sabia se ria da ironia ou se entrava em pânico. O morcego parecia determinado a me fazer companhia, como se tivesse sido enviado por alguma entidade para testar minha resistência psicológica. Peguei uma toalha e tentei capturá-lo, mas ele desviava agilmente, voando em círculos pelo quarto.
Finalmente, depois de várias tentativas frustradas, consegui encurralá-lo perto da janela. Abri a tela com cuidado e, com um último impulso, o morcego encontrou seu caminho para a escuridão da noite.
Curiosamente, ao olhar para minha estante, em uma parte dela tem dois álbuns, discos de vinil, da banda Black Sabbath, cujo cantor é Ozzy Osbourne. E pensando naquele morcego, lembrei-me que Ozzy, aliás, ficou famoso por morder um morcego vivo durante um de seus shows. Os relatos dizem que ele precisou tomar injeção contra raiva, tornando-se conhecido como o roqueiro que comeu um morcego no palco. Sendo lenda ou realidade, a verdade é que morcegos podem sim transmitir doenças. O episódio apenas reforçou minha estranha conexão com aquele visitante inesperado.
Fiquei parado por alguns segundos, respirando fundo, sentindo o silêncio retomar seu domínio sobre o ambiente. Olhei ao redor, como se precisasse me certificar de que aquilo realmente aconteceu.
Deitei na cama, exausto, e ri baixinho. Quem diria que, em busca de inspiração para um conto gótico, eu acabaria vivendo um? Talvez esse morcego tenha sido exatamente o que eu precisava para escrever algo verdadeiramente autêntico.
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