Sob o Véu da Noite

Sob o Véu da Noite

Era uma noite de lua cheia quando Ian, um jovem de olhar perdido e coração inquieto, vagava por uma floresta envolta em brumas prateadas. Fugindo de um passado cheio de sofrimento, ele tropeçou em raízes retorcidas até encontrar um castelo escondido entre as sombras das árvores. A construção era imensa, com torres que pareciam tocar o céu, banhadas pela luz pálida da lua.

A porta de carvalho abriu-se sozinha quando ele se aproximou, revelando um salão iluminado por candelabros de cristal. Lá, três figuras o aguardavam. Elas eram impossivelmente belas, de pele alva como mármore e olhos que brilhavam como estrelas. Suas presenças exalavam graça e poder, e suas vozes, quando falaram, ecoaram como melodias na mente de Ian.

"Você está seguro aqui, jovem viajante," disse a primeira, Lysa, com cabelos prateados que desciam como um rio de luz.

"Nós somos suas guardiãs agora," completou Celeste, de olhos dourados e um sorriso gentil que mascarava uma força imensa.

A terceira, Seraphine, a mais misteriosa, com cabelos negros contrastando com sua pele de alabastro, apenas inclinou a cabeça, observando Ian como se pudesse ver sua alma.

Elas eram vampiras, criaturas imortais que há séculos protegiam aquele castelo e tudo que consideravam digno de cuidado. Mas eram diferentes de todas as histórias que Ian conhecia. Não se alimentavam da dor ou do medo; eram guardiãs de almas perdidas, seres amaldiçoados com o poder de preservar vidas frágeis como a de Ian.

Ian foi acolhido por elas com uma ternura inesperada. Lysa ensinou-lhe sobre as artes e os segredos do mundo antigo. Sob sua orientação, ele leu livros que continham os mistérios da criação e aprendeu a música que fazia as estrelas dançarem. Celeste cuidava de suas feridas, não apenas físicas, mas emocionais. Era ela quem ouvia suas angústias e lhe ensinava a força que vinha da vulnerabilidade.

Seraphine, no entanto, mantinha uma distância calculada. Ela parecia lutar contra algo dentro de si, um instinto primal que ameaçava romper a calma que as outras construíram. Mas, aos poucos, Ian percebeu que era ela quem mais o observava, velando seus sonhos nas noites em que ele adormecia junto à lareira.

Não demorou para que Ian descobrisse que nem tudo era paz naquele refúgio. Criaturas da escuridão, caçadores e monstros que rivalizavam em crueldade, sabiam da existência das vampiras e odiavam sua nobreza. Elas haviam se tornado alvo de perseguições constantes por aqueles que consideravam sua bondade uma afronta à natureza predatória dos imortais.

Certa noite, o castelo foi cercado por caçadores armados com lâminas banhadas em prata e cruzes abençoadas. Ian, em sua fragilidade humana, ofereceu-se para lutar ao lado delas, mas Celeste apenas sorriu.

"Você é nossa razão para lutar, não nossa arma," ela disse, beijando sua testa.

Lysa ergueu os braços, e uma tempestade de neve desceu sobre o campo, cegando os inimigos. Celeste dançou entre os caçadores, movendo-se com uma graça mortal, enquanto Seraphine, finalmente libertando sua fúria, enfrentou os líderes com uma força que parecia arrancada do próprio coração da noite.

Quando o ataque terminou, Ian foi o único a sair ileso. As três vampiras retornaram ao castelo, feridas, mas vitoriosas. Naquela noite, ele compreendeu que seu papel era maior do que o de um protegido. Ele era a âncora que conectava aquelas criaturas imortais à humanidade que haviam perdido.

Sob o luar, as quatro figuras ficaram lado a lado, um pacto silencioso selado entre elas. Ian prometeu que cuidaria delas como elas cuidavam dele, e as vampiras, apesar de sua imortalidade, sentiram algo que há muito haviam esquecido: esperança.

A partir daquele dia, o castelo tornou-se não apenas um refúgio, mas um lar, um lugar onde beleza e escuridão coexistiam, guardado pelas vampiras brancas e pelo coração de um jovem que ousou amá-las.

(Eduardo Andrade)
Enviado por (Eduardo Andrade) em 22/01/2025
Reeditado em 23/01/2025
Código do texto: T8246823
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