A virgem e o poema.

No ar ardiloso da manhã ecoava o silêncio da pequena cidade (cidade verde) assim era chamada, porém, nem árvores mais lá se encontravam.

Somente a ilusão da neblina que pela matutina manhã saía para dar ao povo a sensação de estar rodeado de floridos galhos, porém eram secos galhos que desconheciam a cobiçada vida.

No breu da noite cambaleava sôfrego o Florenço, rapaz jovem, de busto magro, cabelos tomados ao tom de loiro claro, tinha a pele pálida, tão pálida que por ela via-se certamente o caminho de suas veias.

Sabia-se que era um jovem poeta e farsante,

O poeta também tinha um longo histórico de casamentos mal sucedidos, ninguém sabia-se o porquê.

Ele veio de muito longe para casar-se com Rosélia, uma donzela de família aristocrata,

virgem do corpo e da alma.

Sua pele morena e seus olhos profundos e negros, demostrava a ausência da defloração.

Se estirava todas as noite na janela do quarto e sonhava com a chegada de seu belíssimo noivo.

Em umas das noites faz o de costume, após se retirar da janela, depois de muitos sonhos acordados, deita-se e fecha os olhos para então sonhar novamente, porém, dessa vez seu sono é interrompido com um bater de pedras na janela.

Grita então a donzela-Quem está aí?!

Apenas o silêncio vem a responder.

Então as pedras voltam a ser tacadas e

inesperadamente uma das pedras quebra os vidros das solidárias janelinhas floridas.

Rosália leva um grande susto, mas logo pensa que deve ser seu futuro marido. Levanta em um salto e corre para sua janela, contudo, para sua, infelizmente, não tinha mais ninguém no jardim de seu quarto, além da lua, que também encontrava-se triste, procurando entre as flores um ombro amigo.

Rosélia voltou cabisbaixo para sua cama.

Rolou de um lado para o outro. Sem conseguir dormir, levantou da cama, olhou para o piso de seu cômodo e percebeu que a pedra que atravessou os olhos de sua janela, tinha um papel enrolado.

Era um curto poema escrito por seu amado,

Dizendo:

Tulipas, narciso e camélia…

Nenhuma desses flores

nasceu mais bela que Rosélia.

Logo abaixo do poema, dizia:

-me encontre amanhã no bosque da cidade, não alarme ninguém, e venha sozinha ao cair do pôr-do-sol.

Isso foi mais que o suficiente para Rosélia cair no mundo de suas fantasias carnais. Morta de anseios pelo tão sonhado dia, Rosélia dormiu ansiosamente (...)

No dia seguinte, a donzela passou a manhã inteira trancada no quarto. Os relógios não resistiram ao apelo de seus olhos e aceleraram seus ponteiros.

No jardim flores desabrocharam igual a ingenuidade de Rosélia, esta que já se via no cair do sol, arrumada e esbelta, fugindo de casa, sem que ninguém a visse.

Chegando ao bosque; não avistou seu príncipe,

Pensou “Talvez tenha se atrasado um pouco”.

Horas passaram e a sonâmbula noite chegava sem rumo. Rosélia, murchava feito as flores que no bosque dormiam, até que em uma moita surgiu farseiro e pálido o poeta.

-Desculpe, minha donzela, não quis fazer-te esperar junto a essa lua de feras, acabei me perdendo no caminho, mas seu aroma de flor foi meu guia e agora aqui estou.

-Perdoa-do meu poeta…

Por essa relva escura que nada entrega,

Sonhei por esse momento, em que seus braços dançariam por este meu corpo que a ti venera.

-Se venera a mim, então me entregue,

Como homem anseio pelo que é meu!

E como um vagabundo poeta, amo o que não deves.

As mãos frias do farsante tocaram o corpo da donzela, mole virgem, que se jogava aos braços do desconhecido destino.

Entre os amassos de beijos, que tinham o gosto de menta e de cigarro caro, Rosélia viu de súbito o brilho de uma adaga na mão do poeta.

Tentou retira-se daqueles braço, fortes braços que pareciam lhe dar carinho, contudo, eram víboras venenosas que lhe enlaçava.

Os beijos tão puros, mordiam os lábios ingênuos até sangrarem.

-Solte-me! Esperneou Rosélia

-O que há, amada? Foi dito que era minha!

Que seu corpo era meu! E Se és meu, faço o que quero com ele!

-Solte-me, nojento!

-tudo bem! cale-se um pouco e então lhe deixarei ir.

Rosélia sem opção, calou-se

E lentamente os braços se desenrolam de seu corpo.

-Agora vá! Não quero vê-la nunca mais!

Disse Florenço em trêmula voz e com lágrimas no rosto. Rosélia foi correndo, enquanto levantava seu longo vestido, mas um estrondo junto a um brilho de luz, fez do choro de Florenço uma grande risada.

Rosélia caiu lentamente no chão e o bosque parecia ser menos escuro que os corações selvagens.

Yushimura
Enviado por Yushimura em 17/01/2025
Reeditado em 05/02/2025
Código do texto: T8243280
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