Constelações Decadentes de Estrelas Cadentes...

Luzes Lunares! – Legado Solar! (Brilhante extensão deste corpo celeste bastardo, usurpador e indulgente) – Ledo engano daquele que acredita que a luz no fim triunfa; por fim, tudo será tomado pela escuridão e pelas trevas: o próprio universo atesta isso. Todas as estrelas, fonte de luz e de energia, morrem... E compõe toda a negritude do quadro negro de um plano dessa obra de arte sádica e sórdida: no fim de tudo, as trevas triunfaram e triunfarão! A presença da luz nunca enfraqueceu a escuridão nem nunca lhe foi rival: a luz tem tempo de vida efêmero; a escuridão, não – é eterna... –. As trevas assistem as pungências luzentes que lentamente tornar-se-ão mais fracas e, sadicamente, e certo de seu êxito a escuridão vangloria-se após a morte da luz...

Sempre mais gentis que a luz, as trevas não privam a visão de quem está desamparado da claridade, contanto que se tenha aguçado o sentido vidente, a sombria realidade à volta de quem a olha ainda permanece sóbria a quem a vê e enxerga-a: a própria cegueira é de responsabilidade própria àquele aquém que se deve culpar. Assombrosas Sombras!... Sinto essa sensação em meus sentidos... O silêncio e o sentimento de solidão em meu espírito... Imerso em trevas, encontro-me ao centro de um labirinto com sinuosos caminhos cujos quais conduzem a diferentes destinos. Dédalo costuma ser um tipo de enigma fechado em que só há um caminho – geralmente oculto – em que leva à saída; no entanto, estou em um lugar aberto, e a mesma sensação de estar perdido ainda permanece, por mais que haja diversas direções que apontam para divergentes nortes. A ponta de qual estrela pentagonal – minha rosa dos ventos de mais uma pétala – guiará o meu destino: a convertida ou a invertida?

Inconscientemente, sigo o norte revertido – que me leva, pois, ao sul – e lá a diante avisto um cemitério; convido-me a entrar nesse lugar repleto de perpétuas nostalgias. Penumbras perenes parecem iluminar este local e o olho invisível do espectro lunar parece olhar-me indiferentemente nesta necrópole. “Asfódelos! – Campos de almas irrelevantes que jamais deveriam ter existido...” é a descrição do maior e principal domo das sepulturas que estava discreto devido à ausência de luz; reparei mais claramente as lapidadas lápides guardadas por guardiões anjos e demônios em estéticas estátuas e admirei-os por um estante, mas – ao mesmo tempo em que estava admirado, tive a sensação de estar sendo reciprocamente admirado, então – rapidamente dirigi a minha atenção às covas recém-cavadas que se encontravam mais distantes do centro – ressaltando mais ainda a direção, desde sempre, do norte oposto ao norte –, posteriormente, aproximei-me para examinar escritas nas criptas as mensagens memoriais nas quais estão escritos decrépitos referentes a Ícaro, o anjo caído – (o homem) sem asas – falecido do céu celeste pelas sombras solares.

Sombras Solares! Instigante o quanto essa esfera flamejante estelar tem sido superestimada por seres inferiores, e o mais intrigante é de onde partiu o eclipse desse grande tártaro infernal cósmico mortal que mata... E indago-me: “– Por que justamente as imagens de Ícaro?”. Questiono-me (e) enquanto (isso) consigo perceber que há cadáveres que repousam mais ao fundo desse antro os quais foram dispostas em uma lógica de composição à cronológica decomposição dos corpos... E havia algo de familiar neles que me incomodavam... Aproximei-me para averiguar de perto... Esfíngicos os rostos os quais estiveram elípticos agora finalmente são-me videntes! Ocultos, aqueles defuntos eram faces de faces de mim mesmo em um pretérito inglório que resolvi executar e ainda estavam em um gerúndio estágio de mumificação e sepultamento; terminados os preparativos teriam a mesma abordagem dos monumentos particípios que guarneciam essas ruínas proibidas – deduzi enquanto estava paralisado de medo! – que me fitaram enquanto percebia-os obliquamente nesta exumação.

Às vezes, a lógica do caos é ilógica e irracional; então, as trevas guiam a lógica à ordem racional novamente: tentei manter-me racional com a minha lógica e a minha frieza como de costume, mas o frio tétrico é absolutamente mais frívolo do que eu já fora em toda uma vida; os espasmos de horror e de terror confundiam-se com os arrepios de frio e de medo, e a respiração dividida entre a vívida inspiração dos guardiões e a expiração depressiva dos mortos: os suspiros condescendentes separavam as sortes coniventes. Nebulosas – tais quais – as neves a invocar as névoas as quais conjuram as nuvens cujas quais esconjuram as tempestades – e os temporais e vendavais convocam os maremotos e terremotos mentais remotos! – que chamam a chuva e o choro das lágrimas lunares...

Um pouco próximo a minha frente avisto um ser decrépito que parecia igualmente me encarar adiante... Um arrepio passou pela minha pele ao analisar aquela pele queimada e alguns dos ossos expostos... Um rosto desfigurado e um olhar vazio e sem olhos... Estava paralisado e aquilo também apenas permanecia parado... Instintivo foi o passo irracional que eu fiz para trás... E eu percebi que aquele ser decrépito fez o mesmo movimento... Estava zombando e escarnecendo de mim!!! Sim, foi uma mera coincidência aqueles movimentos sincronizados!!! A sequência seguinte também foi um mero acaso!!! Perturbador a ponto de meu coração doer: as batidas eram tão fortes que parecia estar indeciso entre implodir e explodir; como se um primata estivesse a golpear violentamente o próprio peitoral, ou ainda um primata a pisar brutalmente e esmagar o coração de outro primata; se prosseguisse nesse ritmo, um ataque cardíaco seria um ataque suicida – em uma luta não-intencional comigo mesmo (resultando em morte cerebral...) –. Intuitivamente, coloquei as mãos no peito e tal gesto fez-me perceber o quão era gritante o que eu queria negar: aquilo, aquele cadáver hediondo sou eu!... Eu não estava entendendo o que estava acontecendo... Quando, quando foi que... Meu corpo e meu reflexo refletido em refrações de diversos prismas provaram-me isso:

Não! Não!! Não!!! Não pode ser!!! Uma exclamação de uma emissão de voz grotesca ecoou naquele lugar, e só havia eu que estava desregulado e minha respirando ofegante é a origem que emanava esse som bestial que me atormentava!!! Espelhados labirinto de espelhos refletia todas aquelas expressões minhas e o meu auto sufocamento advém àqueles rugidos que me ensurdeciam e perturbavam-me feras ferais dos meus eus que, indolente e indiferentemente em passos paulatinos, aproximar-se-iam de mim mesmo a passos pesados que danificavam a estrutura esférica composta de elementos poligonais... Distorcido o espaço, os vitrais igualmente aproximar-se-iam dirigindo-se a mim como se fossem me esmagar e enterrar-me vivo; danificados os espelhos os fragmentos explodiam enquanto o cômodo implodia ao mesmo tempo: esmagados os ossos e dilaceradas as carnes, fiquei no mesmo estado do repartimento.

Um grito repentino, um suspiro ofegante e um coração arrítmico provam-me que ainda estou vivo e – para a minha surpresa... – humano novamente; por um instante, senti um imenso alívio. Despertei completamente! Já não havia mais sepulcros a serem sepultados e a tumba que estivera mais ao sul também desaparecera; apenas restou a perfeição no cemitério ostentando caixões, urnas, ataúdes, guarnecidos por monumentos de anjos, demônios e gárgulas guardiões que pareciam como juízes solenes a julgar-me implacavelmente em silêncio... Principie-se a Cerimônia do Julgamento... Digressões! Dissonâncias! Discussões! Sons associados à cólera mais tétrica e horrífica! É impossível escapar do próprio destino assim como a própria sombra insistente persiste em acompanhar o foco de sua origem! O gênesis de meu apocalypse encerrou o prefácio de meu idílio! Ouço vozes hediondas oriundas dos seres celestes a condenarem-me... Enquanto que me estabelecessem os preparativos das punições perpétuas, sentencia-me de prontidão a minha estadia no cárcere o castigo eterno O tártaro, o enxofre e o mármore do inferno são o mártir na morte de todo condenado! Todos àqueles que se atreverem a tentar alcançar o mesmo patamar de Deus terão o mesmo fim e serão a eles destinado o mesmo infortúnio! Ninguém deve atentar contra o Rei! Nem mesmo o Príncipe! Real seja a obliteração desse Sacrilégio!

Ainda não sabia ao certo se a origem de meus tremores fora causada pelo frio do manto denso da obscuridade que circunda ao meu redor, ou se o motivo reside em meu espírito; embora quase imperceptíveis, esses espasmos sutis potencializam a desagradável constatação de quem é a presa e quem é o predador: há quem ouse pressupor em que seja possível ludibriar o fenômeno da morte, ou pior, que Ele se deixa enganar-se e escarnecer-se; no entanto, é implacável o Anjo da Morte e um voraz predador que honradamente cumpre com rigor e pontualidade o Seu dever. Redentor, aceitei minha desventura resignado. Minha redenção é prova cabal do fato de que nunca consegui me perdoar pelo o que fiz! Não mais hei-de postergar o auto-flagelo definitivo de minh’alma! A lei da semeadura jamais falha porque é estatuto divino: tornei-me rancoroso, revanchista e ressentido comigo mesmo, porque nunca fui capaz de cultivar nada que não fosse além de tristeza, sofrimento e desespero; não espero colher nada além de ódio, uma vez que foi tudo o que consegui ofertar a mim mesmo.

Eu, olho-me a mim mesmo no espelho e vejo o meu reflexo... Da mesma forma que enxergo as refrações dos espelhos ao redor... Desejo que desta vez eu seja destruído para sempre! Sete eternidades de azar é pouco para quem sequer deveria ter existido! Quebro novamente o meu templo ao meu redor e contemplo minha imagem e semelhança esquartejados no chão... Todos os estilhaços e mesmo o sangue continuam a revelar e mostrar todas as partes daquilo que rebelo: o quanto Eu me Odeio! Na presente situação a qual se perdura cercado pela total obscuridade, avistar um feche de luz que pisca igual a escarlates estrelas da morte não é sinal de esperança...

Olhos nos olhos os quais são do exórdio escarlate estes dois pontos: e, em um piscar de olhos, cerrou-me os olhos para sempre em um ponto final.

(Angellus Lendarious)

Poeta Lendário
Enviado por Poeta Lendário em 13/09/2024
Código do texto: T8150794
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