Karma Helena
Helena, era a mais jovem e imponente de sua família, porém suas ambições lhe causaram a discórdia. Com um olhar penetrante e uma voz melodiosa se escondia um coração ávido por poder e ganância, ela sempre buscava ascender aos mais altos escalões da alta sociedade. Seus irmãos, mais velhos e de naturezas mais pacatas e amenas, observavam com uma mistura de admiração e preocupação a trajetória ascendente da irmã caçula.
Em 1850, a sociedade era regida por rígidas normas e hierarquias. As mulheres, em especial, tinham seus papéis bem definidos. Mas Helena não se contentava com o papel de esposa submissa. Ela sempre ansiava por mais, por reconhecimento, por poder influenciar o mundo à sua volta.
Sua beleza e inteligência a tornaram uma figura central nos bailes e eventos sociais da época. No entanto, sua ambição desmedida a afastou de verdadeiras amizades, cultivando apenas relações supérfluas e interesseiras. Ela manipulava os homens, casando-se com um rico comerciante recém viúvo, muito mais de idade do que a jovem, apenas para se aproximar dos círculos de poder a qual tanto almejava.
A vida luxuriosa que conquistou, porém, não a satisfez por muito tempo. A solidão e o vazio que sentia a corroíam de dentro à fora. Seus irmãos, que a haviam advertido sobre os perigos de sua ambição, agora a viam sofrendo em silêncio, entretanto a ideia de a ajudar não foi de agrado deles, apesar de serem família acreditavam que o sangue de Helena havia mudado de cor, então, não a viam mais de mesma maneira, agora apenas o que faziam era olhar com repúdio.
Um dia, enquanto folheava um álbum de fotos antigas, seus olhos se fixaram em uma imagem de sua infância. Lá estava ela, uma menina de cabelos soltos e emaranhados, olhos azuis e brilhantes, rindo em meio a um campo de flores. Uma lágrima solitária escorregou por seu rosto, misturando-se ao pó de arroz. A Helena daquela foto parecia tão distante, tão inocente da atual.
O suntuoso salão, com suas cortinas de veludo carmesim e lustres cintilantes, era o palco perfeito para a farsa que Helena havia construído para si mesma. Vestida em um traje de seda e adornada com joias que pesavam sobre seus ombros, ela deslizava entre os convidados, sorrindo e fazendo reverências. Mas por trás da máscara de felicidade, um turbilhão de emoções a consumia.
A riqueza e o poder que tanto almejava estavam ao seu alcance. A mansão, com seus inúmeros aposentos e jardins exuberantes, era um testemunho de seu sucesso. E ainda assim, um vazio profundo a consumia. As noites, solitárias e silenciosas, eram as piores. A imagem de sua mãe, a costureira humilde que sonhava com um futuro melhor para a filha, a assombrava.
Um dia, uma epidemia varreu a cidade. O marido de Helena, fraco e doente, sucumbiu à doença. Consigo se foi embora toda a riqueza e poder. Abandonada por aqueles que um dia a cortejaram, Selena se viu sozinha e sem rumo a vagar.
Afastada da alta sociedade, ela passou a frequentar os becos escuros da cidade, onde a pobreza e a miséria eram constantes. A mulher que um dia sonhou em dominar o mundo agora lutava apenas para sobreviver. A doença também a atingiu, deixando-a com a saúde debilitada e a beleza desvanecida o que juntou a sua juventude que já tinha cessado à tempo.
Em seus últimos momentos, deitada a um colchão imundo em um canto alheio da cidade, Helena lagrimejava reconhecendo o quão fracas eram as suas ambições e como elas a levaram a vastidão de um mundo em ruínas. Amargurada de suas escolhas, ela fechou os olhos, levando consigo os segredos e as mágoas de uma vida marcada pela ganância e avareza.