Sete Ventos
O dia raiou como todos os outros, sem que nada de novo acontecesse. Era meu aniversário, estava completando 70 anos.
Da janela da torre podia ver o mar azul imenso, enfim, lindo!
Naquela noite seria erguido um novo raiar de Sol já depois de seu poente. A ordem divina seria subvertida, pois, as mãos humanas trairiam a justiça mais uma vez.
Era 04 de agosto de 1280 e, esta data tornaria-se completamente inesquecível em nossas vidas, pois, era meu julgamento, da bruxa dos Sete Ventos.
Meu crime? Tinha o dom de cura e trazia de volta à vida, quem já a perdia... por isso, estava condenada.
Não tardou, tão logo o Sol começou a se pôr, o povo reuniu-se para aguardar a fogueira ser acesa. Aguardavam o fogo, mas algo de surpreendente aconteceu.
Foi como se houvesse um protesto dos céus.
Os ventos faziam uivos, o mar se abriu como um espelho quebrado.
As pessoas se desesperaram, mas não conseguiam correr.
Meus pés estavam livres, mas não os queria mover. Não tive medo!
Nas muralhas do castelo construíam-se imagens.
E eu disse: — Ouvi-me, vós! Vou contar-lhes minha história para que todos saibam...
Dei gargalhadas, movimentando o corpo o tempo todo, girando para direita e para esquerda.
Ventos fortes ecoavam... tempestade, raio, ventos, chuvas e, tormentas...
Ao dizer isso, sentei-me numa cadeira, recostei minha vasta cabeleira branca no encosto, deslizei lentamente a mão por sobre a mesa, até alcançar uma urna. Retirei dela uma adaga, onde viam-se no cabo dois dragões com as caldas entrelaçadas.
Tão logo a alcancei, cravei-a fortemente em meu peito, mas nenhuma gota de sangue foi derramada.
— Que assim seja!
Fechei meus olhos e fiquei ali imóvel...
Breves foram os segundos antes do derradeiro suspiro.
E, finalmente, terra e ventos estavam livres.