Encontro fatal
Ao cair da tarde, Lucília sentiu o peso da melancolia apertar seu peito.
Mais uma vez, uma sombra densa se agarrara a ela após uma terrível desilusão amorosa, como uma nuvem pesada que se recusava a se dissipar. O sol, prestes a se pôr, parecia carregar consigo as últimas faíscas de esperança que restavam em seu coração.
Decidida a não mais permitir que o amor a ferisse, Lucília se recolheu por semanas, mergulhando em um retiro emocional. Ausentou-se do mundo lá fora, do trabalho que outrora a motivava, e até mesmo das ligações daqueles que tentavam contato. Seu refúgio era como um casulo, onde o silêncio era seu único confidente e as lágrimas, suas companheiras silenciosas. Foi como se estivesse mergulhada em um sono profundo, um torpor que a envolvia como um manto de tristeza, onde as horas se arrastavam em um lamento monótono.
Enquanto as sombras se alongavam no horizonte, Lucília tentava encontrar um sentido na escuridão que a envolvia, aguardando o momento certo para despertar da inércia em que se encontrava e que reagiria àquele período de reclusão com a força necessária para enfrentar um novo amanhã.
Passadas algumas semanas, como se emergisse de um profundo pesadelo, Lucília decidiu romper as amarras da frustração que a sufocava. Por fim, convidou suas amigas para uma noite de diversão, onde o vinho fluía como um elixir libertador, as risadas ecoavam como cantos de insurreição, e a promessa de afogar as desilusões tornava-se um alento naquela noite carregada de expectativas.
Cada cálice de vinho destilava um sortilégio, mergulhando seu corpo em uma combustão de desejos e lascívia. Lucília percebia cada poro de sua pele ferver em um turbilhão de emoções, uma promessa de transcender as melancolias que ainda ressoavam em sua alma. Entregava-se, assim, à magia noturna, que sussurrava redenção e deleite em seus ouvidos sedentos.
Na festa, um grupo de estudantes estrangeiros, participantes de um intercâmbio, aproximou-se do círculo de amigas. Entre risos e brindes, Lucília captou os olhares perspicazes de um jovem que se destacava na multidão. Após alguns instantes de flertes, ele a convidou para uma conversa mais reservada, longe dos olhares indiscretos.
Impulsionada pelo vinho que fervia em suas veias, Lucília cedeu ao encanto do estrangeiro, conduzindo-a para um recanto mais recluso. Ali, entre beijos intensos e febris, o desejo incendiava-se como uma chama voraz. O jovem, de olhos verdes que refletiam uma promessa de paixão insaciável, propôs uma escapada para um motel próximo, onde a fervência da noite poderia ser explorada em sua plenitude.
Sem titubear, após momentos de beijos que queimavam como brasas, eles chamaram um táxi, dirigindo-se a um refúgio não muito distante dali. No motel, que se tornaria o palco de suas entregas, Lucília e o jovem desvendaram juntos os mistérios daquela noite, forjando memórias efêmeras que, por algumas horas, eclipsaram as sombras de desilusões passadas. Entre lençóis que testemunhavam o ardor da paixão, Lucília sucumbiu à luxúria, reacendendo em seu íntimo a chama há muito adormecida da vitalidade e do prazer.
Entraram no quarto envoltos em beijos vorazes, como se o próprio ar estivesse impregnado de uma tensão palpável. As roupas, como barreiras inúteis diante do desejo insaciável, foram arrancadas com uma urgência que só intensificava a luxúria no ar. Ele a possuía de maneira frenética, como se estivesse tentando se perder em um êxtase que transcenderia os limites da razão.
Lucília delirava entre gemidos, entregando-se a um profundo frenesi que a conduzia por caminhos inexplorados do prazer. Seu corpo, ainda ofegante, absorvia cada sensação como se fosse a última, enquanto a mobília daquele recinto tornava-se as únicas testemunhas da sua rendição total nos braços do delicioso desconhecido. Entre lençóis que memorizavam o calor ardente de seus corpos e móveis que sustentavam o peso de sua paixão desenfreada, os amantes forjavam uma sinfonia sensual, entrelaçando-se em ardente sintonia que transcendia os limites do ordinário.
Num ápice alucinado, enquanto o quarto pulsava com a energia da luxúria e paixão, Lucília mergulhou em suas próprias lembranças dolorosas. Os anos de desilusões passadas ecoavam em sua mente, mas, com um ímpeto audacioso, ela recordou o juramento de não mais sofrer por amor.
Com seu corpo ainda vibrando das sensações recentes, Lucília retirou uma adaga que escondia dentro de sua bota. O brilho metálico da lâmina refletiu nos olhos do jovem estudante, um instante antes de ela cravá-la no peito dele, arrancando-lhe fora o coração que há pouco pulsava em harmonia com o dela.
O quarto, agora impregnado com o aroma do ato carnal e do sangue recém-derramado, tornou-se palco de uma transformação. Lucília, segurando o coração ainda quente do jovem que a possuíra com ardor, sentiu uma paz interior que jamais conhecera. Não havia mais dúvida ou insegurança, apenas a certeza de que aqueles deliciosos momentos estariam eternizados em suas lembranças, como um pacto eterno com a luxúria e a liberdade conquistada em um ato de paixão desenfreada. Aquele quarto testemunhara a fusão entre seu desejo e violência, criando uma atmosfera que se perpetuaria para sempre no recôndito de sua memória.