Mensagem de amor

O celular sobre a mesa vibrou e Dharani desbloqueou a tela para ver do que se tratava. Arqueou as sobrancelhas e virou-se para Aditi, a colega na mesa ao lado no escritório de contabilidade.

- É o Kumar de novo.

- Kumar? - Aditi fez cara de espanto. - Como ele descobriu seu número novo?

- Não faço ideia - Dharani mordeu os lábios. - Achei que se trocasse de número, ele iria parar de me perturbar.

- E o que ele quer, para variar? - Questionou Aditi.

- Você sabe... que eu vá falar com a mãe dele - suspirou Dharani. - Justamente o que eu não tenho a menor vontade de fazer, pelas razões que você conhece.

- A mãe dele ainda te culpa pelo que aconteceu - relembrou Aditi.

- Sim... porque não quis me casar com ele e terminei o noivado. Eu nunca poderia imaginar que ele fosse tão louco a ponto de...

- Mas se você não for, ele vai continuar mandando essas mensagens - ponderou Aditi. - Acho que não vai adiantar trocar o número do celular de novo, ele vai acabar descobrindo.

- Preciso exorcizar esse homem da minha vida - disse Dharani.

- Esse encosto - enfatizou Aditi.

* * *

Lalana, a mãe de Kumar, abriu a porta ao primeiro toque da campainha. Obviamente, estava aguardando a chegada de Dharani.

- Minha querida! - Exclamou, antes de abraçar a ex-quase-nora. - Pensei que nunca mais iria te ver!

Dharani pensou que era exatamente o que gostaria que acontecesse, mas precisava resolver aquela situação desagradável de uma vez por todas. Após sentar-se no sofá da sala ao lado de Lalana, encheu-se de coragem e disse num átimo:

- Dona Lalana, quero deixar bem claro que não me sinto responsável pelo que aconteceu. O seu filho vinha me chantageando para não terminar o noivado, e nunca esperei que ele fosse cumprir suas ameaças...

Curiosamente, a mãe de Kumar parecia estar esperando por aquela declaração.

- Eu sei - disse em tom compassivo. - Você não teve culpa alguma; o meu filho...

Baixou o olhar brevemente, antes de prosseguir já de cabeça erguida:

- Sabe, ele estava com alguns problemas psicológicos, que no final, eram mais sérios do que eu ou você poderíamos imaginar. Ele sempre foi muito calado, não discutia os problemas que o afligiam, mesmo comigo.

- Então, imagino que a senhora saiba como eu me sentia - disse Dharani, tomando as mãos da mulher mais velha entre as suas.

- Sim, eu sei exatamente - afirmou Lalana, segurando as mãos de Dharani. - Ele também me mandou várias mensagens, sobre o que gostaria que eu fizesse com você, caso aparecesse por aqui.

Soltou as mãos de Dharani e pegou o celular, que exibiu para a jovem. Ela ficou boquiaberta ao ler a última mensagem de texto.

- Eu não acredito! Ele lhe pediu que me matasse?!

Lalana balançou afirmativamente a cabeça.

- Ele era obcecado por você, Dharani.

- Mas...

- O louco era ele, não eu - acalmou-a Lalana. - E agora que estamos as duas aqui, chegou a hora de terminar de uma vez com isso.

Digitou rapidamente uma mensagem de texto e apertou o botão de enviar. Fez-se silêncio, enquanto as duas mulheres aguardavam que a resposta chegasse. Ela veio pouco depois.

- Ele não vai mais incomodar você, Dharani - leu Lalana. - E, creio, nem a mim também. Acho que entendeu que você não poderia ser feliz ao lado dele, a não ser que fosse essa a sua escolha.

Uma nova mensagem chegou e Lalana sorriu.

- Ele quer saber se você o perdoa.

Dharani fez um gesto afirmativo.

- Perdoo sim - disse convicta.

Dharani ergueu-se, seguida por Lalana. A jovem mal podia acreditar que aquele pesadelo estava acabando. As duas abraçaram-se.

No dia seguinte, Dharani foi ao cemitério, levar flores ao túmulo de Kumar. Colocou o celular sobre a lápide e ficou olhando para a tela por um bom tempo.

Nenhuma mensagem chegou.

- [29-11-2023]