O pomar de ossos #05: Interlúdio #03: As histórias que as pessoas contam

Algumas histórias são contadas muitas vezes... histórias que correm o mundo e depois retornam aos seus locais de origem.

Algumas, são contadas às crianças... são histórias para ensinar algo ou para assustar.

Algumas, são contadas aos adultos... são histórias contadas ao redor do fogo para distrair ou para lembrar algo.

Algumas, são contadas pelos mais velhos... são histórias sussurradas em noites de Lua cheia e que falam de Deuses antigos e esquecidos pela humanidade, das criaturas que já caminharam pela terra ou de lugares secretos e escondidos bem a vista de todos, mas que só são acessíveis por aqueles que souberem como chegar lá.

Há uma história que é contada em muitos lugares ao redor do mundo desde muitos ontens.

É a história de um lugar... um lugar que pode ser encontrado em muitos lugares.

No decorrer das eras, ele recebeu vários nomes pelos diversos povos do mundo.

Nós o chamaremos de “O pomar de ossos”.

O pomar de ossos – dizem os mais velhos – está no lugar aonde é necessário. Pode ser encontrado ao se perder na floresta; ao se seguir por uma trilha abandonada à beira da estrada; ao caminhar sem rumo e sem esperança. Mas você só vai encontrar o caminho para lá se realmente precisar... se realmente for uma vítima da maldade do mundo... se desejar um refúgio longe da crueldade dos seres chamados de humanos... se buscar por paz.

O pomar de ossos é descrito em muitas dessas histórias como um lugar do qual ninguém jamais retornou... um lugar no qual os pesadelos encontraram um lar... um lugar de fantasmas e todo o tipo de terror que habita no inconsciente dos corações e mentes.

Mas o que eles não contam nas histórias, é que o pomar de ossos sempre foi e sempre será na verdade um refugio para as almas perturbadas... para as criaturas que não tem mais para aonde ir... não contam isso nas histórias, por que não sabem... pois nunca estiverem lá.

Mas se você por acaso for um dos injustiçados... se por acaso andar sem esperança, suas pernas o levarão pela trilha perdida no meio da floresta em direção ao portões de ferro enferrujados que apontam com suas setas para o céu... você afastará as grades trancadas pelo velho cadeado enferrujado e atravessará com facilidade a fresta aberta no portão... e então, você caminhará pela velha trilha escondida entre as lápides e as árvores com seus galhos secos e retorcidos como velhos ossos iluminados pela luz fria, pálida e fúnebre do Luar.

E então, durante a travessia, você ouvirá vindo das sombras o bater de assas... ouvirá o pio rouco dos pássaros negros – os filhos da noite escura que atravessam o tempo e o espaço... e depois de caminhar por um tempo pela trilha, você chegará à uma clareira... e então aguardará até que o parlamento dos corvos se reúna, escute a sua história e profira a sua sentença.

E se você for digno da dádiva que eles oferecem, você caminhará até eles e abraçará a escuridão... será envolvida pelo bater de poderosas asas e ouvirá os segredos que só os corvos sabem.

E então, você saberá... saberá que esse sempre foi o seu destino... saberá que você enfim encontrou um refugio... que encontrou a paz que lhe foi negada e que agora, pode enfim descansar e aguardar pelos outros que virão... pelos filhos da noite, perdidos num mundo de tristeza, dor e solidão.

Aonde você estiver, as pessoas sempre contarão a história... sempre haverá um lugar em alguma parte que você reconhecerá quando encontrar... se você realmente precisar.

Denis, O Dremaker.

31/08/2010+25/04/2011

11:53

NdA 01: Este texto foi inspirado na minha série de contos intituladas “O pomar de ossos” ao qual fazem parte até o presente momento os seguintes contos:

O pomar de ossos #01: Raven (07/10/2008)

O pomar de ossos #02: Magpie (02/12/2008)

O pomar de ossos #03: Interlúdio #01: Ritos de passagem (08/01/2009)

O pomar de ossos #04: Interlúdio #02: Ecos (19/02/2010)

O pomar de ossos #05: Interlúdio #03: As histórias que as pessoas contam (25/04/2011)

NdA 02 : Da primeira história escrita em dois mil e oito até esta, passaram-se três anos.

Fiquei algum tempo sem retornar ao velho pomar de ossos. Vontade, nunca me faltou, mas o problema é que não me considero um escritor de histórias e como sou perfeccionista ao extremo quando faço algo, se for para escrever uma história, tem que ser bem feito. Acredito também que as histórias têm o seu tempo certo para se deixarem ser contadas.

Copyright © 2008 by Denis Correia Ferreira

Copyright desta edição © 2011 by Denis Correia Ferreira

Confiram outros textos inéditos de minha autoria no meu Blog Terra dos Sonhos (http://sonhosdesperto.blogspot.com):

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