Folha e tinta
Às vezes, o vazio parece me confortar; a angústia, também. Pego uma caderneta e uma caneta, e escrevo, tentando fazer das palavras um conforto para meus dias nefastos e opulentos. Mesmo sabendo que é mentira, alivia. Posso nem sempre ser profundo, posso nem sempre te tocar, mas o que a caneta me proporciona, ninguém nunca proporcionará. Eu escrevo; mesmo que nada faça sentido, vou escrever.
Ébrio. Estou sempre embriagado. Bêbado pelas letras, bêbado pelos sentimentos, bêbado por esse papel esbranquiçado na minha frente. Minha mão, quase sempre trêmula, vai cuspindo palavras. Para não ser massacrado pela ultraje da existência, escrevo. Escrevo para não enlouquecer, não ser martirizado. Não vedes que somos enclausurados por ideias usuais, amores desleais e sentimentos amargos? A chave destes grilhões é a caneta, a tinta e o papel. Para não ser enclausurado, escrevo, escrevo fervorosamente. Escrevo d'alma, do coração... porque sem a poesia, tudo seria em vão.