Naquela árvore
Chorava um trompete.
Tudo que me lembro daquela noite é que chorava um trompete, no bar escuro e esfumaçado.
Não via muito bem a cantora, mas ela cantava com a voz de um anjo atormentado.
Seus olhos brilhavam negros como a própria noite, a voz aveludada nos cantava a deprimente história, a melodia deprimia até o mais entusiasmado dos homens.
E o trompete chorava.
Os olhos brilhavam.
Então veio o som agudo, os gritos, o trompete não chorava mais, quem chorava era uma mãe.
As mulheres desesperadas, a fumaça.
Debaixo da noite estrelada, havia uma fruta pendurada.
Uma estranha fruta.
Que não pertencia àquela árvore.
A fruta estranha que havia sido posta ali contra sua vontade. O som do vento misturado aos gritos. Algo que persistia no tempo, como um rangido.
Um balançar de pêndulo.
Havia alguns que desviavam os olhos diante da cena, outros optavam por não ver e seguiam direto.
Um retrato tão fiel daquele momento. O comportamento geral.
Mas para quem optasse por encarar os eventos da época, para quem não quisesse fingir que não era real.
Havia a figura inocente presa na árvore.
Com os dedos esticados, o cabelo bagunçado.
E os olhos...
Os olhos saltados brilhavam.