Alma separada

A chuva fina recaindo incessantemente sobre a cidade, tudo estava húmido aquele frio a falta da luz do sol deixava a paisagem cinza sem brilho, os olhos carregados da sua própria tristeza, olhos negros e profundos, destoavam da sua aparência amável de faces rosadas lábios carnudos, algumas sardas salpicadas com perfeição cabelos (cor) de âmbares longos e cacheados, a sua beleza era admirada por todos naquela pequena cidade, sentada numa cadeira de balanço na ampla varanda de um enorme casarão que ficava na av. central poderia a observar a qualquer hora do dia. Mas voltamos aos olhos os mais profundo e obscuros que você pode imaginar, eram como a noite, a morte o vazio era nítido para qualquer um que os fitasse. As suas vestes negras denunciavam quase que de imediato o luto, o terço de ouro com o banho já gasto, passava entre os dedos, a sua boca sussurrava as preces, mas seu olhar não era triste ou magoado o olhar era vazio, em um dia comum onde a fina garoa tecida pelas nuvens e o vento recaia, o grande relógio badalou anunciando a hora do almoço, as sirenes das empresas que rodeavam aquela pequena cidade seguia logo depois do badalar por um breve momento, parado nas gradas do portão estava um sombra que emanava a escuridão semelhante aos olhos vazios, a cada dia a sombra ficava mais parte espreitando atrás dos arbustos das pilastras e por fim cadeira, os olhos permaneciam iguais nem mais vazios, nem menos vazios, tudo morria ao seu redor, a tinta ressecada despregava-se lentamente da madeira, as folhas se amontoavam cobrindo o chão, os galhos secos e retorcidos das árvores contrastavam com o céu cinza, o musgo lentamente cobria as pedras do muro, e até mesmo as grades, tudo mudou ao seu redor mesmo a sua aparência amável, as suas vestes desbotadas e o terço estava prata o banho de ouro deixou apenas resquícios, o badalar mais um dia, ecoando afigura misturada a paisagem levantou da cadeira, os seus longos cabelos âmbares perderam o brilho não passava de um emaranhado de fios secos, parou em frente a por de madeira levando a mão a maçaneta, por dentro estava tão deplorável quanto por fora, a poeira cobria uniformemente toda a mobília requintada e luxuosa ofuscada pelo tempo do abandono, passo a passo subiu os degraus da longa escada em caracol de madeira maciça e uma fina tapeçaria vermelha revestindo toda a sua superfície, no fim um corredor entrou em uma das portas era um quarto vazio, sem papel de parede, sem tinta nas janelas sem carpete, assentou-se na única cadeira bem de frente para a ampla janela, fitou com os seus olhos vazios as caixas amontoadas nos cantos... Esquecidas ali como ela estava esquecida, e por um breve momento podia escutar as gargalhadas que ecoaram pelos corredores, o som das palavras o perfume o calor do momento, era uma frívola lembranças de lucidez, fechou os olhos viajando pelas memorias esquecendo de deixar a porta aberta, foi para uma passeio sem volta e a sombra acompanhava em silencio deixando desfrutar das suas memórias felizes e cheias de emoção, podia ser carregada numa gargalhada, em lágrimas ou sussurros, a sombra afastou-se a sua presença não era mais necessária.

Gasul Rodrigues
Enviado por Gasul Rodrigues em 20/02/2023
Reeditado em 20/02/2023
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