†...Rosas Negras também choram...†
Naquele jardim esquecido, que agora abrigava nardos, secos carvalhos e uma vegetação rasteira de um tom negro, não mais mantinha a vida.
As abelhas, antes enveredadas em sua causa maior, não mais polinizavam o campo antes florido e assaz colorido.
Bem ao centro, uma espécie, um tanto quanto curiosa, por ali desfalecia e plangia lágrimas carmesins. As gotículas eram drenadas pela terra seca e negrume.
O gélido crepúsculo despencava e junto dele, restos de corvos plumosos grasnavam tristes, alguns lobos uivavam aflitos, o plenilúnio iluminava a paisagem campestre e algumas nuvens encobriam o céu. A imensidão se confundia com o horizonte e as poucas estrelas que se mostravam no firmamento, bruxuleavam inquietas.
Do alto de uma colina, descia uma figura sombria e pálida. Todas as noites, aquele ser caminhava pelo campo seco e tocava a terra árida e morta. Num tatear de um caule espinhoso, ouvira um doce e langoroso lamento. Fitou seu dedo indicador, onde uma gota carmesim escorria. Observou pela negridão de seus olhos, à pobre rosa negra, que ali lacrimejava e sucumbia aos desejos da morte.
A criatura macilenta, prostrou-se ao lado daquela suntuosa flor e respingou gotas de seu sangue viscoso sobre a terra, a qual a rosácea se afrouxava.
- Porque choras, ó obscura criatura?
- Estou aqui, a morrer, querido noctívago! – respondeu aos frêmitos.
- O pouco do sangue que ainda corre por essas antigas e translúcidas veias, aliviará o teu sofrimento.
- Sinto-me um pouco melhor, meu lorde. Agradeço-te! – encurvou-se levemente, em um tom de respeito e gratidão.
Houve uma época em que o mundo havia secado. A terra, a água e o sangue de grande parte dos animais e da humanidade! Alguns seres exangues vagavam pela Terra, tais quais zumbis e praticamente toda a vegetação e flora, havia sido extinta.
Morthy, como era chamado o pálido ser, o qual ainda restava um tanto de sangue em seu corpo, continuava sua caminhada noctívaga pelo terreno ríspido. A negra rosa que antes chorava, fenecera após o contato com a criatura.
De tempos em tempos, Morthy cavalgava com o seu corcel negro pela fria paisagem e dissecava tudo o que via pela frente. Mas naquela noite, uma semente fora plantada e na sombria terra, renascia uma nova e negra flor, a qual não plangia; mas sim agradecia por ser filha de Morthy, nascida de sua energia, a qual poderia alterar o rumo daquela história.
*
Com o passar dos dias a pequena rosa fora crescendo e se multiplicando no campo aveludado; originando uma terra enfeitada com entorpecidas e negras rosáceas, as quais clamavam o nome de seu pai.
A criatura, flutuando sobre a ardume colina de pedras e terra seca, deparou-se com os sibilos falantes das pequenas criaturas. Caminhou então por entre as suas crias e com suas garras afiadas, cortou um naco de seu punho e jorrou o que ainda lhe restava do seu sangue, irrigando o centro do terreno.
Gradativamente, Morthy fora se despedaçando e formando um negro e espesso pó, o qual serviu de adubo para o agora, fértil e obscuro solo.
A rosas cresceram e outras criaturas começaram a emergir daquele lugar. Foi então que uma tórrida tempestade despencou do firmamento. Mas chuva era diferente, ao invés de cair e molhar, ela drenava toda a vida que ali restava. O manto veludíneo que até então encobria o local, fora devorado pelos tentáculos da estranha tempestade.
Foi então que do pó renasceu Morthy, o qual continuou por eras afinco, o seu trajeto de iniciar e fechar ciclos.
E todas as criaturas ali, aprenderam uma árdua lição: nessa natureza, nada pode ser alterado sem que haja o seu consentimento.