Plantação de corpos
Noite escura, Luciano e eu adentramos a floresta carregando o corpo, ele segurando por baixo dos braços, e eu pelas pernas. Como de hábito, eu prendera a lanterna no pescoço, pois estava com as mãos ocupadas.
- Até onde? - Indagou Luciano.
- Sujeito pesado... não vamos muito longe - decidi.
Havia um ponto da floresta com árvores novas; ali seria mais fácil cavar, decidi.
- Aqui parece bom - anunciei.
Pusemos o corpo no chão e Luciano pegou a pá que trouxera presa à mochila e começou a cavar. Em dado momento, praguejou.
- Ei! Ilumine aqui!
Virei a lanterna para o ponto indicado e vi um braço, acinzentado, emergindo da terra preta.
- Bem que esse lugar me parecia conhecido - resmungou Luciano. - Não foi aqui que enterramos o Mitar no mês passado?
- Esse braço não parece ser do Mitar - avaliei. - Não estou vendo nenhuma tatuagem.
Luciano deu uma cusparada sobre o cadáver parcialmente desenterrado.
- Será que tem mais alguém usando a floresta para desovar os presuntos? - Questionou.
Consultei o relógio de pulso; estava ficando tarde.
- Vamos ir um pouquinho mais para a frente; a floresta é grande, tem espaço pra todo mundo enterrar seus corpos.
- Esse aqui foi comido - avaliou Luciano, removendo parcialmente a terra.
Olhei. Realmente, alguma coisa havia começado a devorar o cadáver; não era uma cena muito agradável de se ver.
- Algum bicho desenterrou o corpo e comeu uns pedaços - minimizei. - Melhor jogar terra por cima e vamos resolver logo a situação do Jozo.
- Que espécie de bicho anda por aí comendo presuntos? - Luciano parecia nervoso.
- Javalis, talvez; comem de tudo - avaliei. - Chega de conversa, vamos logo enterrar o Jozo antes que voltem.
Alguma coisa resfolegou dentro do mato, e depois, ruído de galhos sendo quebrados à medida que algo grande se aproximava.
- Quer saber? - Disse para Luciano. - Melhor deixar que o bicho faça o trabalho por nós.
E saímos correndo, antes que o que quer que fosse decidisse que a carne dos vivos têm melhor sabor do que a dos mortos...
- [26-07-2022]