O PALHAÇO PICCOLO

O ano era 1988. Giuseppe estava em Nova Iorque, ele fora convidado a se apresentar no melhor circo do mundo (segundo dizia os especialistas artísticos a respeito do circo).

Giuseppe era conhecido mais como Palhaço Piccolo. Ele ganhou prestígio no ramo do entretenimento, fazia desde crianças a adultos rirem.

Estar se apresentando no melhor circo do mundo era a maior honra que um artista podia receber. Giuseppe nunca iria se esquecer dos aplausos, das ovações. O público o amava, ele estava delirante. Fez seu show, a plateia teve dor de barriga de tanto rir.

Após sua apresentação, as pessoas foram tirar fotos e receber autógrafos. Giuseppe sorriu amavelmente, fez algumas brincadeiras, ele estava adorando a idolatria.

O problema veio quando as pessoas se foram, quando o circo se fechou e as luzes se apagaram.

Giuseppe não quis ir para a festa de arromba dos artistas, disse alguma coisa como estar cansado. Foi direto para seu apartamento de luxo perto da Time Square.

Quando Giuseppe entrou no apartamento e fechou a porta, um vento gelado o abraçou. Não havia mais os aplausos, não havia o Palhaço Piccolo. Era apenas Giuseppe, o homem vazio que possuía apenas o dinheiro. Ele já foi casado, mas a fama o deixou atordoado, fascinado, se sentindo um deus. Ele possuiu as mulheres que se ofereceram a ele, se afundou no álcool, viu sua esposa e dois filhos irem embora. E tudo que ele tinha agora era fama e dinheiro.

— Que se dane! Sou o Palhaço Piccolo. Não preciso de ninguém. — Ele sussurrava para si, tentando se convencer de que era feliz assim.

Giuseppe foi para a adega e escolheu um vinho de boa safra, hoje ele iria comemorar seu sucesso. Apanhou duas taças e as encheu. Apesar de estar sozinho em seu apartamento, ele fez questão das duas taças cheias, pois assim ele procurava acreditar que ele era sua melhor companhia.

Após se embebedar, o sono que deveria vir, não veio. Ele saiu para caminhar. Seu andar era trôpego, seu olhar era vago. Nesta hora da noite, ele não era o homem de sucesso, o artista adorado. Era apenas mais um bêbado pelas ruas de Nova Iorque. Perto do amanhecer, Giuseppe deitou-se num amontoado de lixo e deixou-se ficar.

Quando o dia raiou, um gari o acordou:

— Levanta-se, seu bêbado! Preciso recolher esse lixo.

Giuseppe ainda estava atordoado por causa da embriaguez, e numa voz débil disse:

— Você sabe quem eu sou? Eu sou o Palhaço Piccolo.

— E eu sou o presidente. — O gari zombou.

O gari havia assistido o show do Palhaço Piccolo na noite anterior, pagou caro pelas entradas, mas valeu cada centavo, pois ele e sua família se divertiram muito. Porém, aquele homem jogado no lixo não se parecia em nada com o Palhaço Piccolo. O gari fez seu serviço, deu gargalhada e contou, com bastante humor, a situação aos seus colegas.

Fedendo a lixo e urina, Giuseppe voltou para seu apartamento. Ele sentiu-se frustrado por não ter sido reconhecido pelo gari, mas tudo bem. Giuseppe tinha muito dinheiro.

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 14/06/2022
Código do texto: T7537721
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