Ressurgi (Parte II)

Era a quarta noite seguida que eu ia para a árvore incandescente observar a rotina dos Vitae. Na noite passada Elka havia se juntado a mim, mas dessa vez não pode ficar. Nesta ocasião, o senhor e a senhora Vitae jogavam golfe no jardim. Black lia no sofá da sala indiferente à alegria dos pais. uma hora e meia se passou e os dois entraram permitindo que minha atenção recaísse apenas sobre o garoto. Ele parecia mergulhado na leitura. Desde a primeira noite, decidi que iria anotar tudo o que eles fizessem, para avaliar se havia algo de diferente nos costumes deles. Bom, até aqui eu tinha anotado: manuseio do piano, conversas ao ar livre em noites muito frias e sem nenhum casaco, golfe, fumar charutos, longas e enérgicas conversas no sofá, peles pálidas demais (nada incomum, todo mundo era branco demais no Sul), muitas taças de vinho toda noite, leitura. Que lista mais sem graça eu tinha, nada de inquietante nela. Porém notei a ausência de algo, eles nunca comiam, pelo menos eu nunca os via comer. Mas isso não era tão estranho assim, eles com certeza tinham uma sala de jantar, não precisavam comer para que os outros vissem. Ao distrair-me analisando minha lista não percebi que Black havia sumido do sofá. Certamente teria enjoado da leitura e ido para a cama.

- Oi?

Meu corpo resfriou-se dos pés à cabeça e os cabelos de minha nuca ficaram novamente eriçados. Aquela voz grave e assustadora fez meu coração parar por um milésimo de segundo. Virei-me lentamente e lá estava ele, em pé atrás de mim. Roupas negras que faziam-no misturar-se às trevas da noite, olhar penetrante e severo. Tive medo e escondi o caderninho.

- Olá. – respondi receosa.

- Quem é você e o que faz aqui? – ele perguntou, parecia irritado.

- Chamo-me Viollet Sunt, moro num chalé próximo daqui. Gosto de sentar debaixo dessa árvore para tomar ar a noite.

- É sério. O que faz aqui? Não vou perguntar de novo.

Congelei. Ele estava desconfiado.

- Eu já disse. Gosto de tomar ar.

- É mesmo?

- É! Vai se ferrar! – não tive outra reação, queria que ele parasse de me pressionar.

Ele me tomou pelo pulso apertando bem forte ao ponto de criar hematomas, olhou-me irritado nos olhos…

- Desculpa, garota. Mas qualquer um ficaria intrigado com uma doida, sentada em frente a sua casa observando tudo o que sua família faz ou deixa de fazer. Por isso eu te digo: Dá o fora daqui!

Soltou-me de uma vez, no susto deixei cair o caderno. Ele viu e lançou-me um olhar de raiva.

- O que é esse caderno? - perguntou grosseiramente.

- É meu caderno de poesias, gosto de escrever. – respondi apanhando o caderno rapidamente.

- Sério?! Adoro poesias. – sorriu cruelmente com o canto dos lábios e tomou-me o caderno.

- Me devolve já esse caderno! – estendi a mão para pegá-lo, meus olhos começavam a lacrimejar.

Tive raiva de mim mesma. Eu não podia ser uma bebê chorona, eu era forte. Tinha de ser imponente. Como o Black Vitae. Tinha que fazê-lo se afastar ou estava perdida. Ele não parecia um cara que gostava de seguir regras. Sabe Deus o que faria comigo, se pensasse que o estava espionando. Não sou religiosa, mas rezei. Rezei para que ele abrisse nas páginas onde Scarllet escrevia seus poemas bobos e que não prosseguisse. Que me deixasse ir.

- Brumas? Rosas? Luar? É romântica, Viollet? – perguntou com tom de deboche.

- São só poesias. Não precisam condizer com a realidade.

- Tem razão. É o seguinte, Viollet Sunt, some da minha frente e se ao menos eu sonhar que você esteve aqui me espionando, eu vou atrás de você e vai se arrepender, a cada minuto, da sua infeliz existência. Entendeu? – perguntou calmo e ameaçador.

- Entendi. – respondi, mudando minha postura e olhando-o nos olhos.

Eu segui imediatamente para casa. Ao me aproximar do portão olhei para trás e pude ver Black atravessando despreocupadamente a rua. Ele também olhou para trás e me deu um sorriso medonho. Abri o portão e entrei o mais rápido que pude. Corri para dentro de casa e fechei a porta com as trancas, respirei profundo e fui ao quarto, Scarllet dormia. Aquela besteira estava indo longe demais, eu precisava parar de bisbilhotar ou amanheceria com a boca cheia de formigas.

******

O susto que Black me dera foi grande. Passei exatamente dois meses sem chegar perto do castelo dos Vitae. Tive problemas para lidar com a situação, tinha sonhos esquisitos quase todas as noites. Às vezes quando ia até a casa de Elka a noite, podia avistar Black sozinho em frente à sua casa, parecia pensativo, algumas vezes me via, outras não. Nesse meio tempo a burocracia escolar se resolveu e pude voltar a estudar. Estudava na mesma sala que Elka, mas precisava correr muito para acompanhar a turma. Em minha antiga escola, independente do meu jeito de ser, eu era uma das melhores da turma, dedicada, nunca deixei à desejar em minhas notas e nunca repeti de ano. Se eu quisesse manter minha reputação, eu teria que estudar muito para não repetir dessa vez, por isso, tinha uma porção de trabalhos e leituras obrigatórias para cumprir.

- A prova é amanhã e eu tô perdida nesse assunto de Biologia. – disse Elka, na saída da escola.

- Eu nem posso pensar nisso agora. Tenho um monte de exercícios de matemática, química, português e geografia para resolver, sem falar nas leituras de história e filosofia acumuladas. Minha cabeça tá a ponto de explodir. – comentei desanimada.

- Eu sei. Mas assim.. que tal você dar um tempo nesse estudo e nos desestressarmos um pouco? Podemos ir à uma chocolateria. – disse Elka empolgada.

- Não dá, amiga. Eu preciso mesmo terminar esses trabalhos. Eu irei agora para a biblioteca municipal e nem sei que horas vou para casa.

- Ai! Tudo bem. Espero que termine logo para podermos nos divertir. – ela sorriu. – Tchau, Vi. Até amanhã.

Na biblioteca, mergulhei nos trabalhos. Tentava fazer tudo com a maior eficiência possível para ir logo para casa, porém, mesmo assim demorei muito. Já eram 20h30 e eu ainda não havia terminado, resolvi então ir pra casa e deixar o restante para o dia seguinte.

No caminho de volta para casa, a rua estava mais deserta que de costume. Andei depressa pelas partes escuras, foi quando percebi passos atrás de mim. Disfarcei e olhei para trás, um homem me seguia, mantive a calma e ritmo da caminhada, ao olhar novamente, percebi que o homem estava bem mais próximo de mim, ele estava acelerando o passo e tinha um olhar mal intencionado. Acelerei o passo e em poucos segundos comecei a correr, o homem também correu, estava quase me alcançando. De repente, um baque, parei ofegante e olhei para trás, a silhueta de um homem magro de cabelos longos delineou-se na luz precária do poste, ao chão encontrava-se desacordado o primeiro homem. O segundo aproximou-se devagar, permaneci imóvel. Estava paralisada por toda ação.

- Não pode andar sozinha por essas ruas a noite, garota estúpida. – sorriu irônico. – Pode acabar se machucando.

Congelei. Aquela voz, aquela silhueta, as roupas negras. Black Vitae. O que ele fazia por ali? Ele havia percebido o homem me seguir obviamente. Mas ele havia intervindo, havia me salvado de um possível assalto, estupro ou sei lá o quê o sujeito pensava em fazer comigo. Mas por quê? Por que me salvara? Por que se importaria? Ele mesmo, há meses, havia me ameaçado de uma forma tão assustadora que me fez ter pesadelos noturnos e fobia. E aqueles hematomas no braço? Ficaram roxos e amarelados e duraram semanas até sumir completamente. Ele não era o meu ideal de herói.

- Ok. Obrigada por me salvar. – falei com voz de desprezo. Não queria que ele percebesse o quanto estava assustada.

- Disponha.

Segui em frente, sem olhar para trás. Porém, quando me aproximei mais de casa olhei e vi, ao longe, linhas turvas se aglomerarem, era como se Black debruçasse sobre o corpo do homem desacordado.

- Eu heim?! Gente estranha.

Entrei e tranquei a porta.

******

No dia seguinte o movimento começou cedo no bairro, polícia por toda parte, tumulto, pessoas se acotovelando. Todos queriam ver o cadáver do homem encontrado à beira da rua. Fiquei arrepiada. Black. Será que ele havia matado o homem naquela noite? será que teria sido tão frio ao ponto de largar o corpo à própria sorte? Eu precisava ter certeza, tinha que ver.

Fui até a multidão e enfiei-me por entre os corpos amontoados. Cheguei perto e pude ver, que cena inquietante. O homem tinha um corte profundo no pescoço quase decepando a cabeça, os olhos esbugalhados e a boca aberta, a pele pálida como cera de vela, ao seu redor nenhuma gota sequer de sangue.

Aquilo foi perturbador. Que tipo de assassino tão cruel era capaz de limpar todo o sangue da vítima daquele jeito? E aquele corte. Quanto sangue frio. Que tipo de pessoa era Black? O que eles faziam naquela casa durante as festas beneficentes? Não esquecia aqueles gritos. Que tipo de gente era aquela? Aonde fui me meter?

Do outro lado da rua, distantes da multidão, quatro homens bem afeiçoados e bem vestidos conversavam atentos aos movimentos e olhavam detalhadamente cada pessoa que passava por ali. Não me importei com os homens, queria ir para casa, me trancar no meu quarto e fazer todas as preces possíveis que conhecia da igreja. Queria tirar aquela imagem da minha mente. Queria tirar aquele demônio da minha mente.

Estava trancada em casa, rezava preces no quarto. Quando, de repente, ouvi alguém bater na porta, não era a porta da frente, era a de trás. Imaginei ser Elka. Levantei-me e fui até a porta, ao abrir, minhas pernas bambearam, comecei a tremer ao deparar-me com o demônio em pé na minha porta, jaqueta, calça, coturno e um guarda-sol pretos, parecia se esconder, mas na verdade só estava sendo o mesmo de sempre. Pensei em gritar, chamar a polícia. Mas ele parecia ler a minha mente.

- Não seja estúpida, Viollet. Só vim até aqui para saber como está?

- Estou bem. Não tem nada de errado comigo como pode ver. – respondi sendo grossa.

Ele sorriu. Estava assombrada com o quanto Black estava calmo e apático a toda situação, parecia que ele não se importava com o tumulto lá fora e com o que fizera na noite passada. Parecia algo normal para ele. Um completo psicopata.

- Eu achei isso no bolso daquele nojento. – disse me entregando várias fotografias de polaroide. – Acho que ele devia ser algum daqueles doentes imundos que capturam garotas indefesas para realizar seus fetiches e depois descartá-las cruelmente dentro de um saco de lixo.

Eu olhei as fotos uma a uma, todas de garotas lindas e de personalidade marcante. Entre elas, a minha foto. Engoli seco. O fato de Black estar ali me deixava desconfortável, eu tinha muito medo dele agora, mais que antes. Porém ele havia me salvado, olhar para aquelas fotos e perceber que as intenções do homem eram realmente muito ruins, me deixavam mais a vontade com a morte do sujeito.

- Você foi cruel com aquele homem. Você o matou como uma pessoa doente. – falei trêmula.

- Fiz isso para proteger você. E também Elka de Laetitia. Ela está entre as garotas. Trouxe até você porque talvez possa avisar as garotas para tomarem cuidado. – ele disse gentilmente.

Eu não confiava na gentileza dele. Não esquecera o que ele fizera à mim.

- Não precisa ter medo de mim, Viollet. Eu não vou machucar você. Sei que não começamos com o pé direito e eu posso ter assustado você. Mas aquilo foi necessário. – disse com voz calma e misteriosa.

Havia algo de muito errado com a personalidade de Black. Às vezes era a própria encarnação do mal, mas outras era gentil e sedutor. Apesar disso, não me deixava enganar, ele poderia estar sendo gentil agora, mas a qualquer momento poderia ser o próprio belzebu.

- Pode ter me assustado? Como assim “Pode ter me assustado?”- perguntei indignada com a declaração. – Você me aterrorizou. Me deixou com síndrome do pânico ou sei lá o que, tive pesadelos horríveis com você e só de ver do quê é capaz, entendi que não foram em vão. Passei meses sem nem olhar para sua casa.

- Tudo bem. Eu peguei pesado com você, mas você não entende. Se eu tivesse permitido que continuasse, você teria entrado numa situação difícil de reverter. – explicou.

- Continuasse com quê, droga? Eu só estava sentada debaixo da árvore, escrevendo poemas naquele maldito caderno! – eu insisti na mentira pois sabia do que Black era capaz.

Ele sorriu me olhando penetrante nos olhos.

- Você acha que eu não sei, não é?! Acha que acreditei naquela história de poema. A verdade é que notei você desde o primeiro dia que começou a observar minha casa, naquele dia próximo aos arbustos. Não nos incomodamos a princípio, muitas pessoas já ficaram curiosas com nossa casa e com nosso estilo. Mas com o passar dos dias e suas observações noturnas frequentes, meus pais obrigaram-me a tomar uma providência, do contrário eles mesmos tomariam. Não queria machucar mais ninguém da aldeia…

- Aldeia?! – perguntei confusa

Black balançou a cabeça contrariado.

- … do bairro. Não queria machucar mais ninguém do bairro. Aconteceu há alguns anos. Acredite, se teme a mim, não quer conhecer meus pais.

- Não tenho mais interesse. Vocês são uma família de lunáticos! Quero distância de vocês.

- Ok, Ok… Tudo bem. Eu vou embora. Deixarei você com suas rezas. Bom dia,Viollet Sunt.

O fato de Black não estar nem um pouco preocupado com as graves situações deixava-me perturbada.

- Antes de ir, preciso perguntar. Você não tem medo que a polícia te prenda? Que alguém tenha visto e te denuncie?

- Só estávamos você, eu e aquele ser asqueroso na rua. Quem poderia ter visto? Quem irá me denunciar? Você? Acho que não faria isso com seu salvador, não é? Nenhuma câmera poderá ter gravado e se gravou, quem é louco de se meter com o filho do senhor e senhora Vitae?! – sorriu.

Black virou as costas e partiu, foi embora da porta que ele não ousou atravessar. Tranquei-a, puxei uma cadeira e sentei. Ao contrário do que dissera, eu estava mais interessada ainda em descobrir o segredo dos Vitae. Principalmente agora, após a visita e todos os esclarecimentos de Black.

Não fui à escola, fiquei esperando Scarllet voltar para conversarmos sobre o assassinato, não disse nada sobre a perseguição sofrida. Scarllet estava com medo e pediu-me para não ir à biblioteca após aula, agora que existia um assassino a solta deveríamos tomar cuidado. Eu sabia quem era o assassino e, ao julgar pela conversa da manhã, acreditava que ele não tinha intenção de me machucar ou talvez tivesse, era difícil confiar. Mesmo assim resolvi seguir o conselho de minha irmã mais velha.

À noite fui encontrar-me com Elka na frente de casa. Contei sobre o maluco que me perseguira e como Black o havia impedido de causar-me mal. Contei sobre os polaroides que Black havia recuperado “ao caírem do bolso do homem” e da foto dela entre as outras. Elka estava encantada com o ato de heroísmo de Black, a história que eu inventara era perfeita. Evitei qualquer conexão com o morto de nosso bairro, não a queria envolvida nisso.

- Sabe de uma coisa, amiga? – perguntou Elka insinuante. – Você e Black formariam um ótimo casal.

- Não viaja, garota. Somos totalmente diferentes, isso não vai rolar. – respondi mal-humorada.

- É, mas ele salvou sua vida. Você tem uma dívida com ele. – ela disse sorrindo e me fazendo cócegas.

No fundo Elka estava certa. Eu tinha uma dívida com ele, uma dívida com um assassino.

******

Após a morte misteriosa, o bairro ficou mais movimentado. Ninguém queria deixar seus pertences ou seus parentes sozinhos, até pessoas que nunca tinham dado as caras no bairro, como os Sanctus.

A conversa com Black me trouxe sentimentos contraditórios, ao mesmo tempo que o temia por sua indecifrável personalidade, sentia que enquanto ele estivesse por perto eu estaria a salvo. Com isso, voltei a frequentar a árvore incandescente, não com intuito de espionar, mas para relaxar, ouvir músicas e, sim, observar uma hora ou outra.

Estava submersa em minha música favorita, Shadow of the day da banda Linkin Park. Havia uma hora que estava deitada debaixo da árvore olhando para o céu. Era inacreditável como nossa vida havia se transformado desde a chegada em Canela. Eu agora conhecia um assassino, não poderia denunciá-lo, isso causaria problemas a ele e a mim por acobertar, mas também não o denunciava porque não queria prejudicá-lo. Quem eu era agora? Ou quem estava me tornando? Será que eu era como ele?

Foi então que notei dois garotos chegando à casa dos Vitae. O primeiro baixo e corpulento, tinha cabelos castanhos, curtos e bagunçados, o segundo, magro e de igual estatura, tinha os cabelos ondulados, ruivos e a altura dos ombros. Ambos trajavam-se de preto. Devem ser os primos de Black, pensei. Caiu-me a ficha, olhei no calendário e estávamos na quarta quinta-feira do mês, no outro dia seria a grandiosa festa beneficente.

- Amanhã! – exclamei para mim. – Amanhã descubro o que acontece na festa dos Vitae.

Eu iria esperar até começar a festa, me infiltraria pelos fundos da casa, procuraria um quarto escuro onde pudesse me esconder e quando os gritos começassem sairia e observaria tudo cautelosamente. Quando tudo acabasse sairia da mesma forma que entrara. Tentava articular meu plano, faria de tudo para dar certo.

- Você não desiste, não é Viollet?!

Tomei um susto. Ainda não tinha entendido como ele fazia aquilo. Não só o fato de aparecer do nada, mas o fato de saber o que eu pensava.

- Não desisto de quê?

- Está aqui. Mesmo depois do susto que te dei e depois de ter dito que talvez se encrencasse. – respondeu dando a volta e sentando ao meu lado.

- Só estou escutando músicas. – respondi mais aliviada. Dessa vez ele não adivinhara o meu plano.

- Tudo bem. Contanto que não espione, ninguém vai te incomodar. – falou despreocupado.

- Vi seus primos chegarem. – falei tentando quebrar um silêncio esquisito que surgiu.

- Eles vieram para a festa que vai acontecer amanhã.

- E os pais deles?

- Estão mortos. Por isso vêm sempre antes, para ficarmos juntos, somos os parentes mais próximos.

A maneira como Black lidava com a morte era intrigante. Permaneci calada.

- Você quer saber o que acontece na festa? – perguntou mantendo o olhar fixo no céu.

Minha reação foi de surpresa. Será que ele havia adivinhado meu plano? Mas se estava perguntando talvez fosse porque quisesse me mostrar. Não respondi, apenas desviei o olhar para o lado.

- Se quiser, é minha convidada. Assim poderá me conhecer melhor e quem sabe se abrir mais a mim. – falou sério com o característico olhar penetrante.

Aquilo me deixou muito desconfortável. Por que aquele interesse repentino de Black em me conhecer melhor e se mostrar para mim? Aquela mudança súbita de personalidade. Eu desconfiava muito de tudo isso. Mas minha curiosidade falou alto e falou por mim.

- Eu adoraria. – respondi, também olhando sério para ele.

- Ótimo. Temos um encontro?

-Sim. – sorri.

- Certo. Esteja pronta às 22h. Saia pela porta dos fundos, estarei te esperando lá. Você entrará comigo, ficará perto de mim todo tempo. Não ouse se afastar.

- Quantas exigências.

- Até mais, Viollet.

Ele atravessou a rua tranquilamente e deixou-me sozinha com meus pensamentos. Por dentro eu quase não conseguia conter minha felicidade em finalmente descobrir o que tinha de tão errado naquela festa. Eu era uma jovem almejando aventura e aquilo me parecia algo bastante significativo para minha alma sedenta.

Ao voltar para casa, imaginava qual roupa usaria na festa do dia seguinte. Eu tinha muitas roupas pretas, que aparentemente era o que a família de Black curtia, mas nenhum vestido a altura de baile beneficente. Pensava nisso quando notei, parados em frente a minha casa, dois homens. Eles fumavam e conversavam, usavam roupa comum, jaquetas de couro preto, calças jeans, blusas brancas e uma espécie de crucifixo de prata grande e reluzente. Ao me verem, pararam de conversar e, simplesmente, seguiram caminho.

Entrei em casa e tranquei a porta, Scarllet cantava no banheiro. “Thank u, next”, ela amava Ariana Grande. Eu ri das pronúncias engraçadas que ela criava.

- Ca, estou indo pra cama. Boa noite.

- Tá bem, minha linda. Boa noite.

Troquei-me e deitei. Só conseguia pensar no dia seguinte, eu estava tão ansiosa, aqueles meses em Canela tinham sido tão entediantes. Enfim, algo que eu realmente queria fazer.

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Vampire Poet
Enviado por Vampire Poet em 30/03/2022
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