O Suicídio de Maria Joaquina
Isso é como se fosse uma creepypasta de um episódio da novela Carrossel e sim assisti com minha prima de 9 anos e pensei "e se eu colocasse um draminha a mais?" e foi daí que surgiu a ideia.
O Suicídio de Maria Joaquina
Já se fazia mais de uma semana que o tal castigo do silencio estava acontecendo, todos os dias Maria Joaquina chegava em casa em prantos e clamando para o pai a sua saída da Escola Mundial, mas o pai com desdém e sabendo das circunstâncias que levaram os colegas da filha a tomarem essa atitude, negava, mesmo vendo Maria Joaquina sofrer.
-Miguel, eu te falei, mas você ainda insiste nessa escola! - Disse a mãe de Maria Joaquina ao ver a filha chegar em casa chorando
-Assim ela nunca vai aprender Clara! – respondeu Miguel – Além disso você sabe muito bem as atitudes que ela andou tomando nessas últimas semanas!
-Mas Miguel, isso é muito pra uma criança! – defendeu – ela só tem...
-Dez anos! – completou – Sim eu sei, mas olha só o que ela já fez nessa idade! – abriu as mãos e começou a apontar os dedos na ordem que falava pausadamente – Humilhou um coleguinha por conta da cor e situação financeira, sempre criticou os colegas por conta de suas diferenças e ah! Me lembro também daquilo que a Joana me disse um dia! - Lembrou Miguel, Clara ficou vermelha, pensou em explodir mais uma vez, mas em vez disso perguntou do que já sabia a resposta: “o que ela disse?”
-Ela disse que nossa filha gritou e esperneou por conta de um sorvete que você tinha oferecido a Joana!
-Eu não acredito que a Joana disse uma coisa dessa! – esbravejou Clara, dando um salto do sofá e indo até a mesa de vidro do canto
-Eu percebi que ela andava um pouco desanimada e perguntei o que havia acontecido...
-E ela disse o que queria da nossa filha e você acreditou? – interrompeu Clara se servindo de whisky
-Deixa eu terminar! – disse Miguel impaciente, Clara tomou o conteúdo do copo e apontou para que o marido prosseguisse – ela não queria me contar estava muito magoada e envergonhada, chegou a chorar quando eu insisti e então ela me disse
-Mas foi um momento de birra, coisa de criança Miguel! - insistiu a mulher – não ensinaram psicologia infantil na sua faculdade!? – provocou
-Clara! - Disse Miguel inquieto – estamos falando de nossa filha, não começa com essas implicâncias!
Enquanto Miguel e Clara discutiam a situação da filha na sala, Maria Joaquina ouvia toda a conversa da escada e pela milésima vez se sentia só e envergonhada, mas dessa vez não era por conta de seus colegas, mas por conta de seus pais, seu pai não estava do seu lado e sua mãe não fazia tanta diferença, já que sempre ela cedia as vontades de Miguel. Subiu, fechou a porta de seu quarto e tentou pegar no sono e talvez ter algumas horas de paz. As aulas já não tinham a mesma graça, ir para escola era uma tortura e era muito triste ter somente adultos lhe dando atenção. Estava totalmente alheia as novidades dos colegas, só sabia das coisas que sabia por meio de burburinhos nas aulas ou no pátio, isso quando não saiam de perto dela quando se aproximava. Ela tinha um pouco de conforto quando falava com as primas ao telefone, falava do que tinha feito no dia mascarando o fato de que era ignorada o tempo todo na escola, tinha vergonha de admitir que se sentia triste por estar sendo deixada de lado por aqueles que sempre criticava.
-Bom dia santos diabinhos! – cumprimentava Firmino as crianças que entravam no pátio
-Bom dia Firmino! – responderam em coro um grupo de meninas que entrava
-Bom dia Firmino! – responderam alguns garotos que corriam por entre as meninas
-Bom dia Firmino – respondeu Maria Joaquina enquanto entrava, estava com sua mochila de rodinhas e sua lancheira
-Bom dia princesa – tentando consola-la invista que já estava a par dos ocorridos – Melhor hoje? – Maria Joaquina o ignorou por um segundo, mas foi tempo mais que suficiente para lembrar de como isso era ruim e que doía
-Um pouco Firmino – afirmou – tive febre ontem, mas meu pai me deu remédio e... – Sentiu que deveria segurar o choro – hoje estou um pouco melhor!
-Que bom minha filha e lembre-se, conversar faz bem! – aconselhou o velho zelador
-Eu sei! – sorriu Maria Joaquina e partiu para um dos bancos do pátio
A aula estava quase perto do fim, ninguém dirigiu uma palavra a Maria Joaquina, o castigo ainda permanecia forte em todas as crianças, não sentiam pena dela, ao contrário, alguns se sentiam muito bem por não ter que lidar com alguém tão desprezível. Cirilo que no começo lutava contra a vontade de falar com ela, já se sentia bem melhor sem seus inúmeros desprezos e ela também nunca havia dirigido a palavra pra ele nesse período, mas sempre o encarava com um olhar de desafio, mas Cirilo nunca cedeu.
O sinal tocou, as crianças em disparada saiam correndo para a porta, a professora organizava os fichários e guardava o giz quando viu Maria Joaquina colocando os livros calmamente dentro da mochila.
-Maria Joaquina, pode vir aqui um minuto? – perguntou Helena, deixando os materiais em cima da mesa, a menina ouviu a professora – o Firmino me disse que você sentiu febre ontem, o que houve? É por causa do tal castigo?
-Não sei professora, mas eu to melhor, acho que estou me acostumando! – mentiu a garota
-Você quer que eu diga pra que parem com isso? – perguntou preocupada
-Não precisa prô, eu to bem assim! – deu uma pausa, olhou para a janela e viu seus colegas brincando antes de irem pra casa – acho que aprendi a lição! – a professora a olhou com pena, digerindo o que acabara de ouvir – Acho que meu motorista chegou prô!
-Maria Joaquina – falou a professora segurando as mãos da pequena - orgulho não é um caminho bom, eu sei que não é fácil admitir nossos erros, mas é sempre bom que a gente o faça!
-Tá bom professora! – sorriu a garota, pegou o restante dos livros, guardou na mochila e se encaminhou a porta
-Quiser conversar estou aqui! – afirmou Helena
No pátio os meninos brincavam, Paulo e Kokimoto encima da árvore atiravam pedrinhas numa pequena mancha do pátio, Jaime agarrava Adriano e Davi embaixo dos braços e Daniel jogava em seu vídeo game enquanto Cirilo o assistia. Maria Joaquina parou por um minuto, pensou se valia a pena tentar uma aproximação, pensou no orgulho que estava sentido e no que a professora havia dito. Paulo e Kokimoto, ela já não falava tanto antes, Jaime, ela sempre o desprezou, imagina agora que ela era praticamente inimiga publica da sala, Daniel era praticamente o cabeça por trás do castigo do silencio então não ia dar certo, já Cirilo era apaixonado por ela desde que ela havia entrado na escola, era capaz dele ficar feliz por ela estar falando com ele.
-Oi Cirilo! – cumprimentou, Cirilo por sua vez já não se importava mais, ele lembrava bem o que ela já tinha feito com ele e por todas as humilhações e além de que havia sido instruído a nem olhar para ela – Cirilo por favor! – insistiu, já com os olhos marejados e a voz ficando fraca, Paulo e Kokimoto observavam com canto de olho
-Cirilo, sua vez! – disse Daniel dando o vídeo game para o amigo, olhou Maria Joaquina de relance e viu que as lágrimas já corriam pelo seu rosto e pela primeira vez sentiu-se satisfeito, não com o arrependimento, mas com o sofrimento da garota e sorriu involuntariamente.
-Cirilo, olha pra mim! – insistiu mais uma vez, dessa vez pegando o vídeo game da mão do garoto, mas ele não a olhava – por favor! Você ia ser meu único amigo! Me perdoa! – falou em desespero, Jaime havia soltado Davi e Adriano, Paulo e Kokimoto agora tinham a atenção total na menina. Cirilo levantou calmamente, olhou para o rosto vermelho de Maria Joaquina e bravejou:
-Eu te odeio, eu te odeio Maria Joaquina! – cerrando os pulsos
-Calma Cirilo! - Disse Paulo descendo da árvore e correndo para junto dele, Jaime e Daniel entravam na frente do amigo
-Eu só queria que você...que você...- e correu, Maria Joaquina, sem reação, olhou para o chão, só havia seus pés embrulhados numa sapatilha cor de rosa e exageradamente brilhantes, ouviu os colegas zombarem dela e vangloriarem Cirilo. Ela se perguntava se merecia isso e no fundo algo dizia que sim.
Miguel estava na sala, lendo jornal, Clara tomava um chá gelado, quando a filha chegou. Parecia tudo normal, mas até verem o rosto da filha, estava sorridente, porém os olhos ainda escorriam lágrimas.
-O que houve minha filha!? - perguntou Miguel preocupado
-Ai papai...
-Alguém fez algo com você!? - perguntou Clara
-Eu pedi perdão papai! – respondeu a filha
-Que bom minha filha! Você finalmente está aprendendo! – respondeu Miguel animado, Clara a abraçou
-Está tudo bem agora filha!? – perguntou
-Sim mãe! – sorriu Maria Joaquina
Jaime que havia acabado de jantar, estava na oficina do pai passando as ferramentas para o mesmo enquanto ele estava embaixo de um carro consertando-o.
-Pai! – chamou
-Fala moleque! – respondeu Rafael
-Lembra do castigo do silencio que a gente ia dar na Maria Joaquina?
-O que é que tem?
-Então, hoje ela pediu desculpas pro Cirilo
-Mas isso ainda tava acontecendo? – perguntou Rafael meio indignado
-Sim, era até ela aprender! – respondeu Jaime
-E ela aprendeu então? – perguntou o pai interessado
-Parece que sim!
-Ainda bem, isso foi maldoso e o pai dela, o doutor Miguel, sempre traz o carro dele aqui! - Afirmou – eu que não ia querer perder cliente por briguinha sua na escola hein! – avisou – passa aquela ali perto da roda!
-Mas o Cirilo não perdoou – disse entregando a chave pro pai
-Mas como assim não perdoou? Não era ele quem gostava dela?
-Sim, mas ele parece que se revoltou – lembrou Jaime – até o Paulo parece que teve pena dela!
-O Paulo Guerra!? – falou o pai de Jaime com total indignação
-Ele mesmo! – respondeu – até eu, acho que vou voltar a falar com ela amanhã
-É bom mesmo! – disse Rafael saindo debaixo do carro – isso não se faz e eu já disse que eu não quero perder cliente por conta de briguinha na escola moleque!
-Pode deixar! – afirmou Jaime
-Ah meu gordinho, seu coração não cabe no peito! – disse Rafael orgulhosamente abraçando o filho – agora vai dormir que amanhã quero você pronto cedo hein! – saiu Jaime dando boa noite pro pai.
Estavam todos no pátio, as meninas já haviam sido informadas sobre o que ocorrera.
-Ae Cirilo hein! Aprendeu direitinho! – falou Valéria
-Ai achei tão antirromântico! – desabafou Laurinha
-Ai Laura, isso era o mínimo que ela merecia! – disse Alicia
-Mas agora já passou, a Maria Joaquina está arrependida, agora podemos voltar a falar com ela! – disse Daniel
-Sei não hein, isso tudo pode ser fingimento! – avisou Paulo
-É, eu não acreditei naquele chororô todo! – complementou Kokimoto gesticulando com as mãos nos olhos
-Mas enfim, gente, eu a perdoo! – afirmou Marcelina – foi eu quem ela dedurou na hora da prova!
-Eu também a perdoo! – disse Carmem, seguido de vários “eu também” de Laura, Bibi, Alicia, Davi e os demais
-Valéria? – perguntou Davi, a garota parou por um instante, franziu a testa e colocou os dedos na boca em tom de pensamento
-Ta bom, mas se ela voltar a ser uma chata, eu nunca mais volto a falar com ela! – firmou decidida
-Cirilo e você? – perguntou Daniel ao garoto, estava sentado pensando em como deve ter magoado a colega
-Eu perdoo! – e todos viraram para ouvir – Mas eu prometo nunca mais me humilhar pra ela e nem ninguém! – todos se entre olharam e confirmaram com a cabeça entre si.
-Muito bem gente! – disse Daniel confiante – vamos todos abraçar ela quando ela chegar, pode ser?
-Pode! – responderam os colegas quase em coro
Era quase a hora da aula e nada de Maria Joaquina chegar, esperaram até no estacionamento, mas nada do carro dela vir, todos ficaram preocupados e questionando o que poderia ter acontecido.
-Será que ela foi embora da escola? – questionou um
-Será que ela ta com dor de barriga? – perguntou outro
-Ai meu Deus! – angustiou Jaime! – meu pai perdeu um cliente! - Fazendo todos rirem
-Ai Jaime! – brincou Valéria
Estavam todos na aula, exceto Maria Joaquina, Helena havia perguntado pra turma o que havia acontecido e ninguém sabia o que responder, não haviam explicado o ocorrido no dia anterior depois da aula.
Haviam passado quinze minutos, estavam num exercício de matemática, era relativamente difícil, Cirilo pensava alto na colega, imaginava Maria Joaquina toda orgulhosa avisando a professora e todos que havia terminado, mas ela não estava lá hoje, somente aqueles que a desprezavam. Estava bastante arrependido de não ter seguido o conselho da mãe e invés disso, seguiu as regras do castigo de não dirigir a palavra a Maria Joaquina.
A sala estava quieta, somente o som do ar condicionado, estava muito frio apesar do ar estar na temperatura normal, sem ser muito gelado. De repente a porta de vidro a qual entra os professores se abre, Firmino entra, mas sem o semblante feliz de sempre, ao contrário, parecia que havia chorado durante horas e precisava se acalmar para poder falar seja lá o que fosse com a professora. Só se ouviu o “o que houve Firmino?” preocupado de Helena e os sussurros inaudíveis do zelador, ela voltou a se sentar, abaixou a cabeça e não se ouviu mais nada.
-O que foi professora!? – perguntou Marcelina preocupada, chamando a atenção dos demais alunos para a mesa de Helena
-O que aconteceu? – perguntou o restante, demorou um minuto até que a professora pudesse se recompor e poder falar, ela estava pálida e seus olhos vermelhos e ainda escorrendo lágrimas
-Eu não sei nem como falar isso...- começou ela enxugando as lagrimas e encarando a sala e percebendo que alguns também haviam começado a chorar, ela se levantou e disse – ontem a amiga de vocês ficou muito triste, parece que ela...ela ficou muito doente e acabou falecendo...