Passeio noturno

A noite estava escura, e fora da cabana, os grilos cricrilavam na mata. Eu sabia que precisava levar o cachorro lá fora antes de ir me deitar, mas toda aquela escuridão não me animava muito. Confessei meus temores para Júlia, que abaixou o livro que estava lendo e me lançou um olhar compassivo.

- Você não precisa se afastar muito da casa, basta dar uma volta ao redor dela... é suficiente.

- Levo uma lanterna?

- Melhor não - avaliou ela. - Poderia atrair atenções indesejadas...

E erguendo o indicador:

- Ah, e ponha o cachorro na guia. Não vai querer que ele fuja pro meio do mato, não é?

Não, eu não queria.

Saí com o animal para o ar frio da noite, que cheirava a húmus, a única luz provindo da janela da sala onde estava Júlia. Respirei fundo. A guia na minha mão esticou-se e o cão ergueu as orelhas, olhando para um ponto dentro da mata.

- Vamos - disse eu, baixinho. - Não temos a noite toda pra isso...

Demos a volta à cabana, e depois de se aliviar, ele parou e olhou novamente para a massa escura de vegetação, sem emitir qualquer som de alerta. Finalmente, pareceu estar satisfeito e puxou a guia, retomando a caminhada.

- Tudo calmo lá fora? - Indagou Júlia, quando entrei.

- Acho que havia algo no mato - comentei. - O cachorro olhou para lá umas duas vezes.

- Sempre há alguma coisa no mato - minimizou ela.

E voltando a abrir o livro que estava lendo:

- Melhor que ele veja, do que você.

- [22-01-2022]