O fantasma na máquina
Quando aluguei a casa no centro de Londres, a faxineira, uma irlandesa chamada Catríona, afirmou que o imóvel era assombrado.
- A família que morava aqui antes do senhor foi embora justamente por conta disso - comentou, com uma franqueza chocante.
- Fantasmas arrastando correntes? - Indaguei.
- Não senhor: brownies - afirmou.
- Mas brownies são espíritos úteis - ponderei. - Até mesmo ajudam nas tarefas da casa; desde que não se sintam insultados, é claro...
- Pois estes brownies faziam coisas úteis, mas não para os Trevorrow - insistiu ela.
Os Trevorrow eram os moradores que me haviam antecedido.
- Se não ajudavam a família... a quem ajudavam? - Questionei intrigado.
- O senhor vai ver - redarguiu ela de modo misterioso.
* * *
Eu estava na ampla lavanderia da casa, e havia acabado de acender os bicos de gás, quando ouvi o ruído. Primeiro, pensei que o som estava vindo da rua lá fora, mas em seguida percebi que provinha de algum lugar ali dentro. Virei-me lentamente, a fim de determinar a origem.
Num dos cantos, havia uma pia numa bancada longa, e sobreposta a ela, como no negativo de uma fotografia, vi o que parecia ser uma grande caixa branca, translúcida. Era dali que vinha o ruído.
O mais notável, entretanto, aconteceu em seguida: uma mulher, também translúcida e vestindo calças, como um homem, surgiu carregando um cesto e girou alguns botões no alto da caixa. Em seguida, abriu uma tampa e começou a despejar peças de roupa dentro da mesma. Ao terminar, ela virou-se em minha direção e abriu a boca, surpresa.
Ambos gritamos ao mesmo tempo.
* * *
- Tem alguma coisa errada nessa casa - disse Janelle, quando o marido chegou do trabalho naquela noite.
- Barulhos misteriosos de novo? - Questionou Leo.
- Dessa vez, foi mais do que barulhos... eu vi alguma coisa!
- Que espécie de coisa? - Ele franziu a testa.
- Eu fui à lavanderia, colocar roupa na máquina... e quando me virei, havia um homem com roupas antigas, ali parado, olhando pra mim. Só que ele era... transparente!
- E... o que aconteceu? - Inquiriu Leo.
- Eu gritei... ele gritou... e desapareceu!
Leo ergueu os sobrolhos.
- Se era um fantasma, parece que vocês conseguiram assustar um ao outro - ponderou. - Duvido que esse cavalheiro volte.
- Será que era um antigo morador da casa? - Indagou Janelle.
- Nunca saberemos... - redarguiu Leo. - Nunca saberemos...
- [10-09-2021]