A seita que dói menos...?
Depois de anos e anos de mau caminho, errança e devassidão, aquele angustiado jovem resolveu buscar a reconciliação com o Pai. Seu guia espiritual, um velho pároco de aldeia, recomendou-lhe o ingresso numa ordem religiosa rigorossíma, única forma, dizia, de permitir-lhe a purgação total dos pecados...antes que fosse tarde demais.
E após internação e exames mais exames de consciência, o jovem, prestou seus votos solenes, cheio de humildade e esperança. E foi trancafiado numa clausura onde além do rosário, recebeu um grosso breviário para as suas conversações com o Divino. Cama tosca e travesseiro de madeira, piso de pedra, e uma clarabóia para e entrada de luz e ventilação. A vida monástica era tão rigorosa que o iniciado teria a liberdade somente de pronunciar duas palavras ao abade que visitaria a sua cela a cada cinco anos. Mas seriam, era a promessa, palavras à sua escolha...
E o tempo pétreo custou a passar, como soía e como doía...mas finalmente chegou o dia da visita do abade que, ladeado por dois maciços e ciclópicos monges, abriu a porta de sua cela e o liberou para dizer as duas palavras a que tinha direito, segundo os cânones de sua profissão de fé...:
O jovem, ma non troppo então proferiu as suas duas palavras:
- Cela fria...!!!
Retornado ao silêncio obsequioso, aguardou novo lustro para ter direito a nova recreação. E tão logo o abade o interpelou e lhe deu a palavra, ele disse:
- Comida porcaria...!!!
Quando finalmente chegou a oportunidade de seu terceiro ato de liberdade, toda a tramitação realizada, e uma vez concedida a palavra, o monge bradou:
- Vou embora...!!!
O abade, severo, lívido e sentencioso então o repreendeu com toda a ira de Jeová do Antigo Testamento:
- Também pudera, toda vez que lhe concedi a palavra, num gesto de bondade divina, o senhor só soube reclamar e difamar esta nossa sacra instituição...jamais vi um monge tão indisciplinado, tão mal agradecido... sua penitência será a suspensão de visitas doravante...