Prova de resistência

Williamina sabia que deveria ter dedicado mais tempo aos estudos, mas somente quando faltavam dois dias para as provas finais do semestre, concluiu que precisava melhorar substancialmente suas notas - ou seria reprovada em pelo menos três das disciplinas obrigatórias do segundo ano.

- Não é meio tarde para arrependimento? - Zombou Margeret, uma de suas colegas do terceiro ano.

- Acho que tenho passado mais tempo nos ensaios do grupo de teatro do que nas aulas - admitiu Williamina desconsolada. - Mesmo com as anotações dos cadernos das outras meninas, não creio que vá conseguir enfiar tudo na cabeça em duas noites.

- Provavelmente, não vai - avaliou Margeret. - Mas se estiver disposta a correr alguns riscos, posso lhe sugerir um local onde poderá multiplicar essas duas noites por dez.

Williamina ergueu os sobrolhos.

- Algo sobre a biblioteca central?

- Ela mesma - admitiu Margeret. - Aposto que já ouviu falar dos "cantos escuros".

Williamina balançou afirmativamente a cabeça.

- Sempre achei que isso era lenda urbana - admitiu.

- Não são lugares onde a manutenção da universidade esqueceu de trocar as lâmpadas, - ironizou Margeret - ou onde o pessoal gosta de dar uns amassos. Na verdade, a maioria dos alunos evita os cantos escuros. Exceto, claro, se estiverem precisando muito de alguns dias extras para estudar...

- Como você já esteve.

Margeret assentiu.

- Está na hora de você comprovar por conta própria - desafiou. - Se tiver coragem.

* * *

Williamina era corajosa. Anotou cuidadosamente as dicas de sobrevivência informadas por Margeret e, naquela mesma noite, cadernos apertados contra o peito, atravessou sem se deter a encruzilhada em frente da biblioteca central da universidade. No dedo anular da mão direita, usava um anel de humor, emprestado pela amiga, e que passou de verde para amarelo assim que ela cruzou a entrada do hall da instituição. Por trás do balcão redondo de madeira escura, no centro do hall, a bibliotecária ajeitou os óculos no rosto ao vê-la entrar.

- Boa noite, Srta. Warren!

- Boa noite...

- Williamina Camburn, segundo ano. Vim estudar para as provas semestrais - declarou, muito séria.

- Devia ter imaginado - suspirou a bibliotecária, entrelaçando os dedos sobre o balcão. - Em que lhe posso ser útil, jovem?

- Preciso desta obra de referência - disse Williamina, retirando um papel dobrado do bolso do casaco. A Srta. Warren leu o que Margeret havia escrito e indicou a entrada do salão de leitura.

- Atravesse o salão, passe pela primeira sala de obras de referência, e na segunda, siga até a última estante à sua direita. Deverá encontrar lá o livro que procura; estão em ordem alfabética.

Williamina agradeceu e se preparava para tomar o rumo indicado, quando a bibliotecária a chamou:

- Srta. Camburn, lembre-se: temos bebedouros dentro da biblioteca, mas comer aqui, é expressamente proibido.

Williamina balançou a cabeça, nervosa, e apertou ainda mais os cadernos contra o peito: aquilo iria ser uma prova de resistência.

[Continua]

- [01-08-2021]