O caminhante
A neve começou a cair no crepúsculo, e Matt dirigia a camionete com cautela pela estrada que cortava a floresta. Ao dobrar uma curva, os faróis iluminaram um homem parado no acostamento, aparentemente tentando fazer com que o celular pegasse algum sinal, algo perfeitamente inútil naqueles ermos. Ao nos ver, ele acenou freneticamente. Matt reduziu a velocidade e parou.
- Graças a Deus! - Exclamou o homem, o rosto magro e barbado emergindo do capuz de um moletom preto. - Estava andando a horas, não passa ninguém nessa estrada...
- Aqui é bem deserto - assentiu Matt. - O que está fazendo sozinho, num lugar destes?
- Fui dar uma volta pela floresta - disse o homem, olhando ao redor. - Acho que me perdi.
Achei estranho, e certamente Matt também estava pensando a mesma coisa. Quem, em sã consciência, sairia para caminhar pela floresta em pleno inverno, depois do crepúsculo, e com roupas de verão?
- Desculpe, mas não vamos poder te levar - lamentou Matt. - É política da empresa não dar carona...
Embora eu também achasse o homem suspeito, a declaração de Matt era extremamente cruel; sem ajuda, ele poderia morrer de hipotermia antes do nascer do sol. Contudo, antes que eu pudesse me intrometer na conversa, Matt fez uma observação:
- Mas não saia daqui; devemos chegar em meia hora na cidade, e vou avisar à polícia para mandar resgate.
- Eu... está bem... - murmurou o estranho, desapontado.
Matt deu a partida e seguimos nosso caminho. Somente quando o caminhante desapareceu no retrovisor, é que me virei para ele e perguntei o que havia sido tudo aquilo. Matt suspirou.
- Não dava pra você ver, mas olhei bem na cara do tipo o tempo todo. Sabe o que notei?
Balancei negativamente a cabeça.
- Em nenhum momento, durante a conversa, vi vapor saindo da boca dele. Consegue imaginar isso, nesse frio?
Honestamente, eu não conseguia.
- Aquele sujeito está morto - declarou Matt. - E sequer se apercebeu disso ainda.
- [19-06-2021]