O pote de creme - Uma fábula sobre amizade !
Se conheciam há muito tempo, mas não eram amigos, apenas se viam aleatoriamente, mas um dia acabaram conversando e se tornaram amigos.
Muito amigos.
De uma maneira incrível, diferente eu diria.
Enfim, falavam sobre tudo, existia uma afinidade, uma confiança ímpar.
Um dia ela contou a ele que havia derrubado e quebrado um pote de creme Mily.
Ele a ouvia atentamente e percebeu em cada palavra uma tristeza pelo ocorrido.
Um pote de creme Mily quebrado...
Para qualquer um poderia ser um assunto normal, muitos potes caem e quebram todos os dias.
Mas não era um pote qualquer, era o pote de creme Mily da amiga dele e ela estava triste, ele não sabia o valor, mas sentiu que era importante para ela.
Ele pensou, eu posso fazer ela feliz, eu posso dar um pote de creme Mily pra ela.
E assim o fez. Comprou e mandou entregar pelo correio.
A felicidade dela ao saber que ele havia comprado e quando recebeu era indescritível, parecia uma menininha ganhando aquela boneca que tanto queria.
Essa foi a impressão que ele teve, e isso fez muito bem a ele.
Era a amizade no real sentido da palavra.
Eram perfeitos? Claro que não.
Concordavam em tudo? Não.
Mas eram os amigos perfeitos.
E vieram outros produtos Mily, aniversários, natais, dia do amigo....
O tempo foi passando.
Um dia o amigo a procura com olhar bem sério e diz a ela que iria embora, precisava se mudar.
Ela questionou o porque, mas ele desconversou e apena disse que era preciso.
Era preciso, foi apenas o que ele disse.
Ela ficou triste, mas sabia que a amizade não acabaria ali.
Mas ainda assim era complicado. Era dolorido.
Mas, o dia chegou e o amigo se foi.
Se choraram? Que pergunta. Claro, e muito.
Anos se passaram e todos os dias de natal e aniversário ela recebia algum produto Mily. Ela mandava cartas, algum presente...
Muitos anos se passaram.
Até que um dia o presente Mily chegou, mas ela sentiu algo estranho, não havia nenhuma carta junto e não havia endereço do remetente.
As cartas que ela enviou a partir de então, voltaram.
Triste ela se sentia.
E todos os anos os presentes chegavam.
Um dia ela percebeu que os produtos Mily não existiam mais, mas mesmo assim ela os recebia...
Muitos anos se passaram, e o mesmo ritual se repetia.
Mas um dia, no dia de seu aniversário, a campainha da porta toca, ela vai até lá e atende.
Uma moça aparentando ser um pouco mais nova que ela está á porta, na sua mão um pacote. Um presente. Mily.
A fisionomia da moça lembra muito seu amigo que há muito tempo ela não via.
A moça sorri discretamente, mas tendo os olhos marejados.
- Então você é a grande amiga de meu pai?
- Sim, ela responde e a convida a entrar.
E a moça então relata toda a história, explicando que seu pai não ficou um dia sem comentar sobre ela, sua amizade e de como eram felizes.
Contou que quando ficou doente, seu pai não quis que ela soubesse, por isso foi embora da cidade.
Uma doença degenerativa, que ele não queria compartilhar com sua amada amiga.
- Quando você parou de receber os presentes com o remetente, foi quando meu pai faleceu, mas antes ele me pediu pra comprar muito potes de produtos Mily e te enviar a cada ano. Por isso você os recebia mesmo não tendo mais no mercado.
Ela ficou sem palavras ao saber de toda a história. Mas não conseguiu sentir nenhuma mágoa pela atitude dele. Eram amigos, sempre foram.
Ela entendeu que precisava ser assim.
Então se abraçaram e choraram mas um choro de alegria. Ela sabia que seu amigo estava bem agora.
A filha então disse sentir que agora era a hora dela saber a verdade, que seu pai a amou como a amiga perfeita de uma maneira sublime.
- Quando seu pai me deu o pote de creme pela primeira vez, quando o meu se quebrou, ele me disse que não queira ser lembrado pelo pote de Mily, e mesmo que não houvesse pote algum de creme, eu nunca teria me esquecido dele.
A amizade é um amor que nunca morre !
(Mario Quintana)
Paulo Sutto
31 Jul 2020