Melinda caminhou até o meio do cemitério. Sentou em uma catacumba das mais belas que havia naquele lugar. De repente uma luz começou a clarear ao redor dela. Ela havia levado uma luzinha colorida que conferia aquele local uma beleza perturbadora. Impressão minha ou estava ouvindo sons? Arrepiei-me dos pés à cabeça. Mas, era uma melodia tão doce, tão hipnotizadora que me atraia para aquele espetáculo. Foi quando percebi que ela estava tocando flauta.
     A noite. A bruma. O som. A beleza de Melinda. Era uma sinestesia perfeita. Será que todas aquelas noites Melinda ia ao cemitério tocar? E por que não fazia isso em casa, na rua, na escola, sei lá, em qualquer outro lugar? Por que ali? Seria algum tipo de fetiche? Era estranho e sinistramente belo ao mesmo tempo.  Por mais que tentasse, não conseguia parar de olhar àquele espetáculo.
     Para minha surpresa, do nada, absolutamente do nada, surge uma voz masculina cantando ao som da flauta de Melinda. Uma canção deveras encantadora, parecia a voz de um anjo. Se um anjo cantasse, certamente teria aquela voz magnifica, atraente. A voz dela se uniu à voz dele em uma sincronia perfeita, parecia um coral celestial. E eu, completamente hipnotizada, entorpecida, irresoluta. Não sabia se voltava, se saia correndo, se continuava ali a ver, a ouvir, a sentir aquele turbilhão de emoções que invadia minhas entranhas.
     Por mais que quisesse fugir dali, não conseguia, precisava ver como terminaria aquele momento. Algo me puxava para dentro daquele cenário inusitado. Seria o encontro dos músicos? Dos poetas? Minha cabeça rodopiava sem sair do lugar. Não consegui sequer arriscar um julgamento que fosse. Enquanto meus pensamentos trucidavam minha curiosidade, a música cessou. O silêncio voltou a reinar. Absoluto. Ensurdecedor. Era tão penetrante que gritava aos meus ouvidos. A flauta emudeceu. As vozes se calaram. As luzes não paravam de piscar. Eu simplesmente estava atônita.
     Eles começaram a se tocar. Melinda tirou a capa preta. Lançou o vestido preto ao chão e revelou uma veste totalmente alva, cândida. O moço, que também vestia branco começou a despi-la, tirando peça por peça, até deixa-la completamente desnuda. Que perfeição era aquela moça? Parecia o corpo de uma deusa. Branca como a neve, bela como a própria Afrodite. Ele igualmente belo, um verdadeiro deus grego, despido tomou-a em seus braços. Beijou Melinda suavemente e ali mesmo, em cima daquela catacumba possuiu-lhe de corpo e alma.
     Confesso que fiquei entorpecida diante daquela estranha magia. Nunca havia presenciado algo tão surreal, tão lindo, tão meigo, tão louco, tão verdadeiro e tão sinistro como aquele encontro de amor. Um amor que se revelava cada vez que a noite estava escura e sombria.
 
 
                                   
 
Josy Matos
Enviado por Josy Matos em 18/06/2020
Reeditado em 18/06/2020
Código do texto: T6980587
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