Rasgando o Véu da Vida
Foi quando cheguei que percebi que já não estava mais... Meu corpo já não me acompanhava, lembranças vagas preenchiam meus pensamentos. Um eco do que havia vivido durante toda minha existência, minha família, minhas alegrias, meus medos, minhas dores, meus erros e depois deste filme passar foi que compreendi que muito, não foi nada. A maioria de minhas escolhas foram desperdiçadas. Como retratar minha consciência de algo que já não mais está em mim, despido do que acreditava ser, só observo meu corpo se desmanchar na sua podridão.
Ali acaba meu egoísmo, meus medos, minha vaidade em achar que tinha algo, que era algo. Cadê o que eu dei tanto valor, miserável me sinto...Por não ter sido mais, por não querer ser mais... Justo e tolerante comigo com os outros. Minhas lembranças, vozes de um passado grudado no vão de minha consciência julgando como dona da verdade, desmascarando o pecado... rasgando sua máscara falsa, como uma corda que se embaraça ao corpo, que não nos prende, mas nos impede de caminhar por medo de descobrir que tudo é só um ponto de vista, de quem observa e julga. Assim acalma a angustia do que vivi e vem como vida.
Do que estar por vir ...Nos tornamos o mesmo resultado, em situações semelhantes e intensidades. Chorar ou sorrir já não importa mais, O que me sobra é tudo ou nada, meus olhos, meus sentidos aos poucos se diluem se unindo ao todo e percebo que o todo, são todos, não importando se menosprezamos ou se amamos... minha consciência neste estado já vê o que era morte como o sol que se põe ao fim do dia , deixando a sensação de fim por sua ausência, com a tristeza da ilusão da noite ao ser desmascarada pelo raiar do novo dia.
Renato Rinpoche