135 -Cento e Trinta e Cinco
Dizia coisas. Quem o não soubesse acharia nos tiros o começo de uma qualquer mudança. Uma guerra, um medo colectivo, a queda de um ídolo, uma nova aparição só para tontos. Muitas vezes escrevia. Algumas das palavras pareciam pesadas, medidas, acertadas, dignas de um pensador ou filósofo. A perversidade acontecia num parágrafo qualquer e punha a ferver quem o lesse. Ou não. - Olha o lobo, olha o lobo, gritava e de quem acudisse troçava e a quem não visse insultava e ai dos que enfrentando a fera se não resguardassem. Muitos foram mordidos com palavras, com veneno tecido de uma raiva que lhe chegava, cósmica, de onde nunca se soube. Depois da guerra, trucidados os que ouviram, leram, comentaram ou nem reagiram, dormia. No intervalo, escrevia poesia. Entre o gozo das tiradas, sereno aparecia, acamaradava, era outra pessoa. Quem não soubesse nunca acreditaria no seu lado cobra.