Onírico ensejo

Era véspera de mais um dia de natal e eu esquecia o meu andrajo carnal, deveras lasso no sofá. Depreciava essa data, pois eu era abarcado por uma infindável saudade do meu pai.

No horizonte limitado pela parede da sala, em lampejo estava o pinheiro, que em meu cismar era o símbolo maior dessa data que tinha como atroz.

Deixei o meu lânguido crânio, descansar sobre as mãos por um vasto átimo... Ao olhar para o lado, estava o meu pai, sentado com todo o seu bálsamo inefável que soprava alento em meu íntimo e desvelava um objeto nas níveas mãos, era um tomo de um escritor da era vitoriana que ele tinha com crasso apreço. Destarte, silente e embevecido, fiquei a fitar a sua onírica imagem.

Eflúvios de lágrimas cingiram as minhas lembranças e rememorei aquele livro, que ele lia todas as noites de natal, para que amiúde eu refletisse sobre a existência.

Despertei de forma abrupta daquela enternecedora cena e o meu filho que orçava três anos, estava ao meu lado e pediu para eu ler um livro que lançou mão, era um conto de natal de um dos maiores escritores ingleses, Charles Dickens e era o mesmo que o meu pai segurava.

Em XXV de dezembro de MMXIX. E. V.

Dies mercurri.

Marvyn Castilho.

Marvyn Castilho
Enviado por Marvyn Castilho em 27/12/2019
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