Coeur Noir

Olhos sérios e testa engiada, a olhar pela janela.

Encarava o nada no horizonte, pensava em sua existência.

A brisa quente e leve soprava em seu rosto.

Um belo rapaz passava na rua e olhou em sua direção.

Incomodada e entediada virou-se para seu próprio ombro.

Ela era fria e incomodava quem quer que cruzasse seu caminho.

A solidão sua mais antiga amante e até mesmo dela a dama se cansou.

"Não quero chuva,

não quero sol,

não quero terra,

não quero mar"

Mas no fundo o que negava era o desejo de amar.

Privava-se do contato humano, fugia de se entregar.

Fechando os olhos mergulhava num sonho, num inconsciente mundo efêmero, fugaz.

Quando acordava, um aperto no peito a tomava. Sempre o mesmo.

Tinha a sensação que a cada nascer e a cada pôr do sol, seu coração diminuía.

E a cada dia, ela tinha vontade de se mexer menos.

Doze horas de sono era pouco. Seu corpo pedia descanso.

Descanso eterno e ininterrupto.

Passaram-se dias...

Seu apartamento trancado, exceto pela janela da sala, cortinas esvoaçantes e quase se partindo.

Sua alma teria partido?

Deitada e inerte, assim fora encontrada, sem vida como sempre fora.

Somente parou de respirar.

Sua família inconsolável quis saber a causa da morte.

Suas coisas estavam intactas, mas a poeira tomava conta.

Próximo a seu quarto, um rastro de cinzas negras. Fuligem.

Sinais em seu rosto de um terrível e seco pranto. Suas feiões eram fechadas.

Abriu-se o peito da jovem. Bisturi cortando seu tecido branco.

A pele sendo dilacerada, banhada por um sangue escuro.

Do lado esquerdo do peito algo muito estranho foi avistado...

O que outrora fora uma carne saudável, deu lugar a algo espantoso.

Seu coração era pequeno e negro, um carvão que fora consumido.

Do tamanho de uma ameixa, padeceu sem amor, sem luz... e sem cor.

Bi Andrade

17/11/2019

Bi Andrade
Enviado por Bi Andrade em 17/11/2019
Código do texto: T6797229
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